A primeira resposta vem logo no regulamento da 'Forbes'. Ditadores, cleptocratas e realezas são exluídos desta lista. Está certo que a revista avisa que muitos dos que são analisados, pela sua equipa de mais de 50 investigadores e jornalistas de todo o mundo, por vezes escondem o que têm, e não é fácil fazê-los sair da toca – ou do off-shore, melhor dito. Mas mesmo assim chega-se lá perto, com muito zelo e trabalho, e usando as regras das democracias regulamentadas.
É por isso que os árabes do petróleo não aparecem, ou aparecem muito pouco. É preciso consultar outras publicações sem os mesmos pruridos para ter uma ideia – embora fique a percepção de que, ainda assim, longe da verdade dos factos – de como é que aquela gente passou das tâmaras e das cabras para os carros de ouro e diamantes, os palácios de tipologia T-164 e os aviões que fazem inveja ao chefe dos 'yankees'.
Voltando à 'Forbes', o primeiro árabe que aparece listado é o príncipe Alwaleed ben Talal Alsaud, que ocupa a 41ª posição do 'ranking', com uma fortuna calculada de 18,5 mil milhões de dólares (*). É dono da cadeia de hotéis 'Four Seasons', tem uma fatia maioritária no Twitter e no Citigroup, e possui investimentos em dezenas de empresas, que concentra na sociedade de participações sociais que dá pelo nome de 'Kingdom Holding, Co.' Kingdom.... está bem.
Para encontrar petróleo nas arábias da 'Forbes' é preciso descer até à posição 138, onde encontramos Mohamed Al Amoudi, que empochou até à data 8,3 mil milhões de dólares. Filho de mãe etíope e de pai saudita, este senhor tem qualquer coisa de ouro negro, mas onde ganha razoavelmente bem a vida é na construção e a vender café ao 'Starbucks' e chá à estimada casa 'Lipton'.
Em 270º aparece Majid Al Futtaim, dos Emiratos Árabes Unidos, que amealhou os seus escrutinados 5 mil milhões de dólares a vender casas e inaugurando cadeias de retalho comercial. É parente de Abdul Al Futtaim, que vende automóveis e detém os 'franchises' do IKEA, Toys 'R' Us e Marks & Spencer nos emiratos. Tem uma fortuna uma nadita menor. Petróleo, nem vê-lo!
As actividades dos mais ricos entre os 'alibabás' mais reconhecíveis e acessíveis pelos critérios da 'Forbes' são diversificadas. Na posição 477 da famosa lista, 100 milhões de dólares abaixo no 'nosso' mais abastado – o empresário Américo Amorim – lá está Mohamed bem Saud Al Kabbeer, que fez fortuna com vacas e ovelhas leiteiras.
E chega. Não há mais. Consultando, no entando, o site 'business.com', da revista 'Business Weekly', encontram-se mais alguns árabes. Bader Al Kharafi, do Koweit, juntou 8,5 mil milhões de dólares, e está de vento em popa no negócio das energias renováveis. Issan Al Zahid tem 11,6 mil milhões basicamente ganhos com a construção e obras públicas. Quer encontrar pessoas que enriqueceram à custa do petróleo? Vá à Rússia. É o que há, consultando a 'Forbes' e quejandas...
A lista dá-nos ainda outras dicas interessantes. Os três catraios mais ricos do mundo são todos noruegueses. E porquê? Porque os pais lhes passaram para as mãos, mal fizeram 18 anos, uma boa parte da fortuna. A mais nova é Alexandra Andresen, cujo conto de fadas inclui ser titular de 42% da forttuna de família, iniciada há mais de cem anos. Tem 19 anos, e a sua irmã mais velha Katherine tem outro tanto – 1,2 mil milhões cada. Entretanto, Alexandra dedica-se essencialmente a ser campeã junior de 'dressage' lá nos fiordes.
O restante é Gustav Magnar Witzoe, um rapaz de 22 anos que detém 47% da empresa dos pais, que é campeã do mundo de aquacultura – 'fish farming' no original. Arrecadou por essa via, até à data, 1,1 'bi'. Mas é empreendedor. Com o 'paitrocínio' já se dedica a investimentos imobiliários e iniciou um negócio de tecnologias. Tal como as suas compatriotas, é solteiro...
Casada é Tatiana Santo Domingo, a herdeira – juntamente com os irmãos – da fortuna das cervejas 'Bavaria'. Aos 32 anos, a nova princesa do Mónaco – desposou Pierre Casiraghi, filho de Carolina Kelly Grimaldi – tem de dote 2,4 mil milhões de dólares. O herdeiro da WalMart, Lukas Walton, está também entre os jovens ricaços, bem como o mais conhecido Mark Zuckerberg, o inventor do Facebook. Diga-se que, ontem, o dia correu-lhe mal, já que perdeu em bolsa 425 milhões de dólares. Mas isso não abalou muito a sua fortuna de 44,6 mil milhões, que faz dele, aos 31 anos, o 6º mais rico do mundo!
Aliás, nos lugares de topo da lista, abundam os jovens, ou menos jovens, que fizeram fortuna nas novas tecnologias e nas indústrias da informação. Se Bill Gates, o principal accionista e pioneiro da Microsoft, continua a liderar a lista – 16 vezes campeão nos mais recentes 21 anos -, Jeff Bezos, da Amazon, vai em 5º no pelotão, enquanto o dono da Oracle, Larry Ellison ocupa o 7º posto, Larry Page e Sergey Bin (Google) estão respectivamente em 12º e 13º lugares, Michael Dell – empresa com o seu apelido – segue em 35º e a viúva de Steve Jobs, apesar das muitas obras de caridade, ainda tem 16,7 mil milhões, ocupando a 44ª posição; e até subiu no ano passado.
Quem está a ficar mais rico são as mulheres. Na lista agora divulgada, assistiu-se a um recorde de 197 de senhoras e meninas nomeadas. E se bem que as heranças familiares ou por viuvez continuem a ser as formas mais típicas de as mulhres enriquecerem, já se vão vendo 'self-made women'. As duas mais ricas, neste quadro, são chinesas, e a liderança pertence a Zou Qunfei, que já ganhou 5,7 mil milhões no imobiliário e etc. Um pouco atrás vai Chan Laiwa, que fez uma fortuna semelhante.
Para encontrar uma europeia que subiu às suas próprias custas temos de recuar até à posição 403 do 'ranking', onde está Denise Coates (48 anos, 3,8 'bi'), que ganhou a vida nas apostas 'on-line', através da sua empresa 'Bet365.com'. Ainda estudante, costumava processar dados na loja do pai, que também já se dedicava ao mesmo comércio. Entre apostas, ainda teve tempo para cinco filhos.
A mulher mais jovem a ter feito fortuna sem pai ou marido atrás é Elisabeth Holmes, que aos 32 anos tem 3,6 mil milhões, ocupando o lugar 435 da lista 'Forbes'. Inventou umas fantásticas análises ao sangue, que têm estado sob investigação da FDA norte-americana. Mas até à data, não se passa nada.
Para o ano há mais. O mundo, entretanto, pula e avança, e eles sabem que o sonho é uma constante da vida. Em 2015, foi batido o recorde do número de 'bilionários' da 'Forbes', ou seja, de pessoas que 'valem' um mínimo de 1000 milhões de dólares. São 1826, e ainda faltam, como se notou mais acima, tudo quanto é ditador, ladrão e rei. No capítulo das novas entradas, os chineses são campeões, com 71 novos ricaços.
No total, a lista atinge a soma investigada, conhecida e provada de 7,05 biliões de dólares ('trilions', segundo a gramática anglo-saxónica), mais 600 mil milhões que no ano anterior; ou seja, cerca de 3,5 vezes o PIB português num só ano. E andamos nós preocupados com crescimentos anémicos da nossa economia...
(*) o dólar dos Estados Unidos valia, no fecho de ontem, 0,909 euros.
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