Na parte sul da ilha, controlada pela República de Chipre, de maioria grega e membro da UE desde 2004, as sirenes soaram às cinco e meia da manhã, hora local. Uma forma de recordar o início, em 1974, da Operação Átila do Exército turco, que conquistou o terço norte do território e forçou o deslocamento de cerca de 40% da população.
Atualmente, uma zona tampão, patrulhada por forças de manutenção da paz da ONU, cruza a ilha de oeste a leste, com pontos de passagem e postos de controlo fronteiriços entre o sul cipriota grego e o norte cipriota turco.
Na parte norte fica a República Turca do Chipre do Norte (RTCN), autoproclamada e reconhecida apenas por Ancara. Nos últimos dias, veteranos cipriotas gregos que lutaram contra a invasão disseram estar pessimistas quanto a uma possível reunificação.
"Já se passaram 50 anos e ainda não há solução ou esperança", disse à AFP Demetris Toumazis, que foi levado para a Turquia como prisioneiro de guerra em 1974.
O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, estará em Chipre este sábado à tarde para participar nos eventos com o presidente cipriota, Nikos Christodoulides.
Este último presidiu uma cerimónia em memória dos soldados mortos pela manhã num cemitério militar em Nicósia, a última capital dividida do mundo.
Em declarações à imprensa, o presidente considerou que "não há outra opção" além da reunificação.
Pouco antes, o seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, de visita à parte norte, onde pretende assistir a um desfile militar, disse que não parecia adequado retomar as negociações sobre a reunificação sob os auspícios da ONU.
"Acreditamos que uma solução federal não é possível em Chipre. Ninguém está interessado em continuar as negociações que pararam há anos na Suíça", onde a última ronda fracassou em 2017, disse Erdogan na RTCN.
"O lado cipriota turco deve poder sentar-se à mesa com o lado cipriota grego, em igualdade de condições. Estamos prontos para negociar e alcançar uma paz e uma solução duradouras", enfatizou o líder turco.
"Independentemente do que Erdogan e os seus representantes digam ou façam nos territórios ocupados, a Turquia, 50 anos depois, continua responsável pelas violações dos direitos humanos de todo o povo cipriota e pelas violações do direito internacional", respondeu Christodoulides.
"Pensar de maneira diferente"
A República Turca do Chipre do Norte, que declarou unilateralmente a sua independência em 1983, continua sujeita a um embargo internacional e depende em grande medida da Turquia para a sua sobrevivência económica.
Depois de décadas de negociações infrutíferas para reunificar a ilha, a última enviada das Nações Unidas, a ex-chanceler colombiana María Ángela Holguín, escreveu uma carta aberta no início do mês na qual afirma que é preciso "afastar-se" das soluções do passado e "pensar de maneira diferente".
Antes do fracasso da última ronda de negociações em 2017, os cipriotas gregos rejeitaram num referendo em 2004 um plano de unificação apoiado pelas Nações Unidas.
A invasão foi a resposta turca a uma tentativa de golpe de Estado dos nacionalistas cipriotas gregos, apoiados pela ditadura militar então no poder em Atenas, que procuravam unir a ilha à Grécia. Uma perspetiva que a comunidade cipriota turca recusou categoricamente.
A Operação Átila foi o culminar de um período conflituoso na ilha, colónia britânica desde 1878 e independente desde 1960.
Naquele momento, foi negociada uma Constituição complexa com Reino Unido, Grécia e Turquia, destinada a proteger os direitos da minoria turca, que na época representava 18% da população.
O tratado de independência de Chipre proíbe a união com a Grécia ou a Turquia, assim como a divisão, e faz de Londres, Atenas e Ancara os garantes da independência, integridade territorial e segurança da ilha.
Mas este consenso ruiu no final de 1963, num contexto de violência entre ambas as comunidades, o que levou os cipriotas turcos a retirarem-se para alguns enclaves, deixando uma Nicósia dividida de facto.
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