"Magalhães continua a ser uma inspiração 500 anos depois porque é o pioneiro numa época em que os navegadores se lançavam ao vazio e enfrentavam a possibilidade de não voltar", disse em entrevista à AFP o francês Fabien Cousteau, cineasta e explorador oceânico como o seu avô, Jacques-Yves Cousteau.
O português não chegou a completar a volta ao mundo, que começou a 10 de agosto de 1519 com a sua frota de cinco navios e 237 homens, partindo da cidade de Sevilha, no sul de Espanha.
Fernão de Magalhães morreu numa batalha contra os habitantes de uma ilha das Filipinas e foi o espanhol Juan Sebastián Elcano que terminou a viagem de três anos, com cerca de 20 sobreviventes a bordo do barco "Victoria", a única embarcação a voltar ao ponto de partida.
"Magalhães pagou um preço alto, mas pelo menos a sua tripulação completou a volta e ele deixou uma marca na História que mudou o mundo", disse Cousteau durante uma conferência organizada em Lisboa no início de julho pela sociedade americana The Explorers Club.
"Isto continua a ser, hoje em dia, um dos grandes feitos da história da navegação", afirma o historiador americano Laurence Bergreen, autor de uma biografia de Magalhães.
Abraçar o planeta
A viagem "marcou um momento na história que transformou a humanidade, que pela primeira vez abraçou todo o planeta", disse o americano Alan Stern, engenheiro da NASA e diretor científico da missão New Horizons, com uma sonda que recentemente sobrevoou o objeto celeste mais distante da Terra.
"Eu diria até que a viagem de Magalhães representa o primeiro acontecimento planetário, da mesma forma que Yuri Gagarin fez o primeiro acontecimento extraplanetário", diz, citando o astronauta russo que foi o primeiro a viajar ao espaço em 1961.
Magalhães descobriu um ponto de passagem entre o Oceano Atlântico e o Oceano Pacífico, o estreito batizado em sua homenagem, no sul do continente sul-americano.
Também influenciou a astronomia, ao descobrir duas galáxias visíveis a olho nu do hemisfério sul, as "Nuvens de Magalhães". E agora, um telescópio gigante que será inaugurado no Chile vai ter o seu nome.
Mas não fica por aqui. Bergreen, que a NASA convidou para batizar partes da superfície de Marte, sugeriu nomes atribuídos por Magalhães para os cabos e baías da Patagónia.
Lições do futuro escritas no passado
Segundo Bergreen, o navegador português é considerado na NASA "como um tipo de Albert Einstein dos exploradores".
"Somos muitos, dentro do programa espacial, que conhecemos Magalhães e outros exploradores, como aqueles que conquistaram os polos", disse o ex-astronauta da NASA Dafydd Williams, que participou em duas missões espaciais.
"Para preparar missões de longa duração, ensinam-nos que as lições do futuro foram escritas no passado", diz o canadiano de 65 anos.
O navegador também inspira as façanhas de hoje em dia. Como as do milionário americano Victor Vescovo, que realizou o "Grand Slam dos Exploradores": escalar os setes cumes mais altos do planeta e percorrer mais de 100 km esquiando até aos polos Norte e Sul.
O empresário de 53 anos, que vai terminar este ano uma expedição aos pontos mais profundos dos cinco oceanos, afirmou ter "descoberto Magalhães na escola. Era alguém extremadamente inteligente, muito decidido e, claro, um grande líder".
"Histórias como a sua deixam uma semente no nosso cérebro e quando temos a oportunidade de fazer algo extraordinário, queremos ser como os que víamos nos nossos livros na infância".
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