No primeiro pedido de esclarecimento ao primeiro-ministro no arranque do debate do Programa do XXIV Governo Constitucional, que decorre até sexta-feira no parlamento, Pedro Nuno Santos considerou que Luís Montenegro “começa mal”.

“Começo por lamentar a arrogância com que se dirigiu ao PS nesta intervenção”, enfatizou, referindo que Montenegro lidera um partido que “chumbou nove orçamentos” e que agora “mudou a posição e visão sobre a estabilidade política”.

Para o líder do PS, apesar de o Governo PSD/CDS-PP ter falado de diálogo na inclusão de 60 medidas de outros partidos no Programa do Governo “é importante que os portugueses saibam que não houve diálogo nenhum” e que isto é “apenas um padrão” que já se tinha verificado na eleição do Presidente da Assembleia da República.

“Não é assim que se constrói maioria nenhuma, não é assim que se garante estabilidade ou durabilidade para um Governo”, alertou.

Na resposta, Luís Montenegro reiterou o propósito do executivo de “manter um diálogo político constitutivo”.

Apesar de dizer não querer discutir com Pedro Nuno Santos o “conceito de arrogância”, o primeiro-ministro apontou ao novo líder do PS o histórico dos socialistas ao longo dos anos em que esteve à frente do Governo.

“Se isto não é arrogância então nós temos um conceito diferente”, atirou.

Na opinião do primeiro-ministro, não rejeitar o programa do Governo "significa conferir condições para que o Governo inicie o seu trabalho", recusando a possibilidade de dar instabilidade ao país.

"Tirar daqui uma ideia de chantagem política ou arrogância é confundir os conceitos", enfatizou.

Pedro Nuno Santos tinha dito a Montenegro que não são "medidas avulsas" que distanciam o PS do PSD, mas sim "uma visão diferente para o país", dando como exemplo dessa visão distinta a redução do IRS - que para o PS "é ineficaz e é errada" -, a posição sobre o estado social porque "a solução para o SNS não é desistir" e também a questão salarial.

"O senhor primeiro-ministro falava na campanha em ambição, mas no programa de Governo chuta para 2030 o salário médio de 1.750 euros. No acordo de rendimentos prevê-se um ritmo de crescimento que permitirá atingir os 1.750 euros entre 2026 e 2027", referiu.

Segundo o líder do PS, o líder do PSD "disse em campanha que o acordo de rendimentos tinha sido assinado sobre coação e devia ser revisto e alterado".

"Era importante, por razões de transparência, que clarificasse já hoje o que é que quer rever no acordo de rendimentos e porque no programa do Governo tem apenas para 2030 o salário médio de 1750 euros", desafiou.