Em entrevista à agência Lusa, Nádia Piazza sublinhou que foi "sobretudo por falta de proatividade das entidades públicas" que a associação das vítimas nasceu naquele território afetado pelo grande incêndio de 17 de junho, que causou 66 mortos e mais de 250 feridos.
"Mas o que seria de esperar? Se não houve proatividade na prevenção, se não houve proatividade no combate, se não houve proatividade no socorro, porque haveria proatividade quando estaríamos a enterrar os nossos familiares? Não houve", afirmou a presidente da AVIPG.
Para Nádia Piazza, a falta de proatividade também se deve ao facto de o desastre ter acontecido no interior do país.
"Somos meia dúzia de votos. Meia dúzia de votos não gere grande proatividade. Porque é que depois as coisas se alteraram? Foi porque o resto do país se condoeu. O resto do país também chamou a atenção para isso. Até aqui, éramos terra de esquecidos e ostracizados. Ninguém queria saber de nós – nós, território", sublinhou.
De acordo com Nádia Piazza, as entidades públicas deveriam ter retirado "imediatamente" lições do desastre de Pedrógão Grande, já que "as lições começaram a surgir muito rapidamente".
"Só que ficámos à espera. Não houve sensibilização, não houve alterações no terreno e em outubro volta a acontecer tudo de novo", frisou, criticando o facto de se terem ficado os primeiros quatro meses "à espera de relatórios - uma coisa muito típica em Portugal".
Com o incêndio de Pedrógão Grande ficou também claro que o país "não está preparado para catástrofes, como se elas não pudessem acontecer, como se em Portugal não houvesse incêndios todos os anos".
Nesse sentido, também aí o Governo "foi pouco proativo", disse. Nádia Piazza considerou também que o risco tem de ser avaliado e que as pessoas têm de estar preparadas para este tipo de situações.
"É para isso que existem as figuras de emergência, as figuras do desastre e da catástrofe. É para isso que a gente elege as pessoas e essas pessoas nomeiam e elegem e abrem concurso para outros cargos de dirigentes", defendeu.
Segundo Nádia Piazza, os planos não são "para ficar na gaveta".
Nesse sentido, espera que os dois grandes relatórios produzidos no contexto do incêndio permitam uma mudança "daqui para a frente", para que haja uma aposta de futuro "mais de prevenção do que de combate".
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