Esta é uma das conclusões do relatório divulgado pelo Gabinete das Nações Unidas para os Assuntos de Droga e de Crime (UNODC, na sigla em inglês), que aponta igualmente, apesar de só compilar dados concretos relativos a 2018, que a atual pandemia da doença covid-19 veio agravar a tendência de crescimento do tráfico de seres humanos.
“Milhões de mulheres, crianças e homens em todo o mundo estão desempregados, fora da escola e sem apoio social na crise contínua da covid-19, o que os deixa em maior risco de tráfico de pessoas. Precisamos de ações direcionadas para impedir que os traficantes criminosos tirem proveito da pandemia para explorar os vulneráveis”, alerta a diretora-executiva do UNODC, Ghada Waly, citada no relatório, que destaca, por exemplo, o caso dos migrantes.
Cerca de 50.000 vítimas de tráfico humano foram identificadas e detetadas em 148 países em 2018, de acordo com a agência da ONU com sede em Viena (Áustria), que frisa, porém, e dada a natureza “oculta” deste crime, que o número real de vítimas é substancialmente maior.
Ao traçar o perfil das vítimas, o relatório do UNODC indica que as mulheres e as raparigas continuam a ser os alvos principais das redes de tráfico de pessoas.
“Por cada 10 vítimas detetadas em termos globais em 2018, cerca de cinco eram mulheres adultas e duas eram raparigas. Cerca de 20% das vítimas de tráfico humano eram homens adultos e 15% eram rapazes”, precisa o documento.
A agência da ONU destaca que, nos últimos 15 anos, o número de vítimas de tráfico de pessoas detetadas e identificadas aumentou, salientando igualmente que o perfil das vítimas mudou ao longo do mesmo período de análise.
“A percentagem de mulheres adultas entre as vítimas detetadas caiu de mais de 70% para menos de 50% em 2018, enquanto a percentagem de crianças aumentou, de cerca de 10% para mais de 30%. No mesmo período, a percentagem de homens adultos quase duplicou, de cerca de 10% para 20% em 2018″, precisa o relatório, realizado pelo UNODC a cada dois anos.
Em termos globais, 50% das vítimas foram traficadas para exploração sexual, 38% foram para trabalhos forçados, 6% foram sujeitas a atividades criminosas forçadas e 1% foram coagidas a mendigar.
O relatório do UNODC menciona também que outras vítimas, “num número mais reduzido”, viram-se envolvidas em situações de casamentos forçados ou de remoção de órgãos.
O perfil das vítimas varia conforme a prática de exploração, analisa ainda o relatório.
Em 2018, as mulheres e raparigas foram principalmente traficadas para exploração sexual, enquanto que os homens e rapazes foram utilizados maioritariamente para trabalhos forçados.
De acordo com a agência da ONU, a percentagem de pessoas traficadas para realizar trabalhos esforçados tem aumentado “de forma contínua há mais de uma década”.
“As vítimas são exploradas numa ampla gama de setores económicos, particularmente naqueles em que o trabalho é realizado em circunstâncias isoladas, incluindo a agricultura, a construção, a pesca, a exploração mineira e o trabalho doméstico”, denuncia a organização.
O UNODC traça igualmente o perfil daqueles infringem a lei e são responsáveis pelo tráfico, pessoas que “encaram as vítimas como mercadorias, sem consideração pela dignidade e pelos direitos humanos”.
A maioria das pessoas processadas e condenadas por tráfico de pessoas são homens, 64% e 62%, respetivamente, e muitas vezes pertencem a grupos de crime organizado.
Mas, segundo precisa a agência da ONU, também existe casos de indivíduos que atuam por conta própria ou através de pequenos grupos.
No relatório, o UNODC destaca o facto dos traficantes usarem cada vez mais as tecnologias em todas as fases do processo, desde o recrutamento até à exploração das vítimas, situação que, segundo adverte, expõe ainda mais as crianças a este tipo de crime.
“Muitas crianças são abordadas pelos traficantes nas redes sociais e são um alvo fácil na sua procura pela aceitação, atenção ou amizade”, alerta a organização.
Através de dados recolhidos em 148 países, o UNODC conseguiu registar também 534 diferentes fluxos de tráfico em todo o mundo, apesar de uma grande parte das vítimas ser normalmente traficada em áreas geograficamente próximas e ser igualmente resgatada no seu país de origem.
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