“Prendemo-lo em Dar es Salam, quando deixava os escritórios da União Europeia”, anunciou o chefe da polícia de Dar Es Salam, Lazaro Mambosasa em declarações à agência France-Presse (AFP) na capital económica da Tanzânia.
A justificação para a detenção foi a mesma que esteve por detrás dos restantes altos responsáveis do Chadema, maior partido da oposição tanzaniana: “ligação com as manifestações proibidas”, segundo o mesmo responsável.
Freeman Mbowe, presidente do Chadema, e seis altos responsáveis do partido, foram detidos esta manhã, após terem apelado aos tanzanianos para que se manifestassem a partir desta segunda-feira contra os resultados, que consideram “ilegítimos”, das recentes eleições presidenciais e legislativas na Tanzânia no passado dia 28, anunciados no dia 30.
Mbowe apelou no sábado aos seus apoiantes para saírem à rua a partir de hoje, como forma de pressão para que sejam convocadas novas eleições, uma vez que, segundo sustenta a oposição, as eleições foram marcadas por fraudes generalizadas.
“Prendemos Mbowe, ele está nas nossas mãos”, informou Lazaro Mambosasa, em declarações à estação de televisão estatal TBC1 esta manhã, acrescentando que seis altos funcionários do Chadema se encontram também detidos.
“Para além das manifestações, que proibimos, eles queriam incitar as pessoas a pilhar infraestruturas, queimar postos de abastecimento, mercados e veículos de transporte público”, justificou o responsável.
O chefe da polícia advertiu que “qualquer pessoa envolvida na preparação de manifestações ilegais será presa e conduzida perante a justiça”.
O Presidente John Magufuli, 61 anos, foi reeleito para um segundo mandato com 84,39% dos votos e o seu partido, o CCM [Chama Cha Mapinduzi – Partido da Revolução, em Suaíli], no poder desde a independência, ocupou quase todos os 264 lugares em disputa nas eleições legislativas realizadas no passado dia 28.
O candidato do Chadema e principal opositor de Magufuli nas eleições presidenciais, Tundu Lissu, advogado de 52 anos, que voltou à Tanzânia após três anos de tratamentos e convalescença no estrangeiro na sequência de uma tentativa de assassinato – na sua opinião, com motivações políticas – em 2017, obteve apenas 13,03% dos votos.
Os restantes 2,58% dos votos foram divididos entre os outros 13 candidatos. Foram registados os votos de 50,72% dos mais de 29 milhões de tanzanianos com capacidade eleitoral.
Magufuli recolheu 12,5 milhões de votos e Lissu cerca de 1,9 milhões. Quanto à composição do parlamento tanzaniano, o CCM conquistou a quase totalidade dos 264 círculos eleitorais, ultrapassando largamente os mais de dois terços necessários para aprovar alterações à Constituição do país, incluindo o alargamento do limite de dois mandatos presidenciais.
No dia seguinte à votação, e ainda antes do anúncio dos resultados pela comissão de eleições do país, Lissu disse que não os aceitaria, considerando que tinha sido levado a cabo “uma fraude numa escala sem precedentes na história” da Tanzânia.
A lei tanzaniana não permite a contestação de resultados de eleições presidenciais em tribunal, o mesmo não acontecendo com eleições legislativas ou outras.
“A porta para contestar os resultados das eleições presidenciais em tribunal está fechada para nós, e é por isso que decidimos dirigir-nos ao povo”, explicou Lissu no sábado durante um apelo aos protestos lançado pelo Chadema, com o ACT-Wazalendo, o segundo maior partido da oposição.
O grupo regional de especialistas Tanzania Elections Watch assinalou que estas eleições marcaram “o recuo mais significativo nas credenciais democráticas da Tanzânia”, indicando que o forte destacamento de militares e polícias criou um “clima de medo” entre os eleitores.
Os Estados Unidos reiteraram hoje a “profunda preocupação” com “relatos credíveis de irregularidades significativas e generalizadas nas eleições” presidenciais e legislativas na Tanzânia e ameaçaram “considerar ações” para responsabilizar “violações dos direitos humanos e interferências no processo eleitoral”.
Numa nota divulgada pelo Departamento de Estado norte-americano, Washington manifesta-se disponível para, “em coordenação” com os parceiros dos Estados Unidos, considerar “ações, incluindo restrições de vistos, conforme o caso, para responsabilizar aqueles que forem considerados responsáveis por violações dos direitos humanos e interferências no processo eleitoral”, que reconduziu Magufuli a um segundo mandato.
“Os Estados Unidos, em coordenação com os nossos parceiros, considerarão ações, incluindo restrições de vistos, conforme o caso, para responsabilizar aqueles que forem considerados responsáveis por violações dos direitos humanos e interferências no processo eleitoral”, alerta o Departamento de Estado.
Os Estados Unidos “elogiaram” ainda o povo tanzaniano por “tentar exercer o seu direito de voto nas eleições gerais” e acrescentaram continuar “profundamente preocupados com a interrupção da Internet, detenções e violência por parte das forças de segurança, tanto na Tanzânia continental como em Zanzibar”.
“Estas irregularidades põem em causa o compromisso da Tanzânia para com os valores democráticos. Enquanto a Comissão Eleitoral da Tanzânia declarou o Presidente Magufuli a 30 de Outubro como vencedor do concurso presidencial, continuamos profundamente preocupados com o impacto destas irregularidades e violência nos resultados”, acrescenta a nota.
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