“A bem da verdade, tem de se dizer que se uma parte importante dos fundos comunitários, deste atual quadro comunitário, foram distribuídos numa lógica tão solidária (…) isso deveu-se muito ao presidente Rui Moreira, que teve esta perspetiva de solidariedade de abdicar de uma parte dos seus recursos, como Gaia e Matosinhos abdicaram, para ajudar os territórios do interior”, afirmou o presidente da AMP, Eduardo Vítor Rodrigues.
À margem da apresentação dos objetivos da Agenda Estratégia Gaia 2035, o também presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, para quem a AMP tem sido "gerida com muita equidade e tranquilidade", defendeu que este critério de solidariedade deve ser usado “quando é para pagar e quando é para receber”.
Eduardo Vítor Rodrigues reagiu desta forma quando questionado sobre críticas dos autarcas da Trofa e Arouca a declarações de Rui Moreira quanto à aplicação de fundos comunitários pelos 17 municípios da AMP, tendo mesmo sugerido que os territórios de baixa densidade poderiam sair da associação.
"Se querem ser Área Metropolitana, têm de ter uma estratégia metropolitana, se querem ser territórios de baixa densidade, então mais vale saírem, mais vale estarem fora e então terem a capacidade de reclamar como têm os municípios do interior, é perfeitamente legítimo. A nossa Área Metropolitana, com 17 municípios, não faz nenhum sentido", afirmou, a 17 de outubro, durante a inauguração da exposição 'Fundos (h)á Porto', que contou com a presença de Eduardo Vítor Rodrigues.
O independente disse mesmo, referindo-se ao PART (Programa de apoio à Redução Tarifária nos Transportes), que "há municípios que podem fazer parte da Área Metropolitana, mas não são metropolitanos".
Em 23 de outubro, à margem da reunião privada do executivo, Moreira disse também ser preciso que os municípios que integram a AMP "preencham alguns requisitos", referindo-se à geografia humana e pendularidades.
"No caso da AMP isso não acontece e isso leva a que alguns municípios, por causa disso, não tenham uma visão metropolitana, mas isso não tem a ver com serem mais pequenos ou maiores", afirmou, dizendo que os critérios que estiveram na base da formação da AMP tornam legítimo que alguns municípios não se interessem por questões metropolitanas.
"O caso do Coliseu do Porto é difícil de entender e explicar a um cidadão de Arouca porque é que há de estar a meter dinheiro no Coliseu, quando é distante e tem na proximidade equipamentos semelhantes", exemplificou.
Sobre o tema, a presidente da Câmara de Arouca disse, ao Porto Canal, que o município estava muito bem integrado mas que há ainda caminho a fazer para reconhecer que os "territórios rurais não são [territórios] de segunda".
"São visões distintas e, portanto, é só sinal de que há muito trabalho para garantirmos esta união", acrescentou Margarida Belém.
Questionado hoje sobre estas declarações, Eduardo Vítor Rodrigues concordou que se deve trabalhar a união, mas salientou que as problemáticas de Arouca são diferentes de Vila Nova de Gaia ou do Porto.
"Os autarcas ficam muitas vezes, porque têm pouco acesso ao poder central, a pedir solidariedade aos colegas, quando a solidariedade e a coesão social se constrói a partir das políticas do Estado. É preciso não confundir as coisas, porque não é o Porto ou Vila Nova de Gaia que vão resolver o problema de Arouca, são as políticas públicas do Estado. Depois fazemos a nossa parte", assinalou, acrescentando que Porto e Gaia não têm culpa dos "indicadores menos favoráveis de um outro território do país".
A 17 de outubro, Eduardo Vítor Rodrigues tinha assumido, a propósito dos mais de 365 milhões de euros de fundos europeus do Norte 2030 que a AMP vai receber, que a distribuição de fundos europeus gera sempre "tensão" entre os municípios, porque "uns querem mais e outros querem ainda mais".
Ao Porto Canal, o presidente da Câmara da Trofa, Sérgio Humberto, considerou "grave" que se diga "que alguns municípios não deviam fazer parte".
"Acho lamentável (…) defender a redução do número de municípios", referiu, dizendo ser a favor de manter os 17 municípios e alargar a outros, como Paços de Ferreira e Famalicão.
Na semana passada, a aprovação, por unanimidade dos municípios presentes na reunião da AMP que decorreu na sexta-feira, de comparticipar as obras de reabilitação do Coliseu e da futura academia da Associação de Futebol do Porto, gerou discórdia no seio da AMP.
Ausente na reunião, a Câmara de Valongo afirmou, posteriormente, que votaria contra os apoios que ascendem a cerca de sete milhões de euros.
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