Em Vila Nova de Poiares, na Quinta da Moenda, hoje propriedade da Liga para a Proteção da Natureza (LPN), foi criada, por um dos seus sócios, Samuel Vieira, uma floresta de espécies autóctones ao longo de mais de 20 anos, com recurso a muito pouca plantação nova e a um aproveitamento da germinação natural de árvores nativas.
O projeto serviu de inspiração para uma candidatura ao programa LIFE, da Comissão Europeia, que junta a LPN, Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra, Câmara de Vila Nova de Poiares, REN, proprietários privados e baldios, disse à agência Lusa o docente da ESAC, Joaquim Sande Silva, que acompanha quase desde início o desenvolvimento da antiga quinta abandonada.
A ideia passa por replicar aquilo que acontece na Quinta da Moenda num território de 30 mil hectares, mas com uma área de intervenção de 400 hectares, procurando criar "pequenas ilhas de biodiversidade num oceano de eucaliptos", explica o docente.
Incidindo especialmente em Vila Nova de Poiares e concelhos vizinhos, a candidatura prevê uma intervenção de cinco anos e um apoio de dois milhões de euros para se "fazer diferente".
A candidatura já passou a fase de nota conceptual e saberá da decisão entre junho e julho, disse, salientando que o projeto contou com uma carta de apoio da Secretaria de Estado das Florestas.
"Quando olhamos para a carta do uso do solo nesta área, mais de 50% da área total dos concelhos é ocupada por espécies exóticas, a maior parte eucaliptos. O drama em relação ao eucalipto é que muito dele não é gerido e, em vez de constituir uma mais-valia económica, constitui um risco. Com estas ilhas de restauro florestal, queremos tentar também transformá-las num travão ao avanço do fogo", salientou.
No entanto, a forma como se quer alterar a paisagem neste projeto difere da maioria dos projetos de arborização que avançaram após os incêndios de 2017, em que se replantou de raiz, arrasando o terreno.
Para o especialista, na Quinta da Moenda, há uma lição a reter: menos reflorestação de raiz, mais restauro florestal.
"É essa a mensagem que tem que ser passada para o país todo, para a sociedade, para o Governo, para as empresas que doam de forma um pouco piedosa e ingénua, às vezes muitos milhares de euros, para ações de arborização que são muito bonitas para os órgãos de comunicação social, mas que depois se traduzem frequentemente em nada, em termos de resultado futuro", vinca.
A lógica, na Quinta da Moenda, não foi partir do zero, mas daquilo que "a natureza já iniciou como processo", aproveitando a germinação natural de autóctones, frisou.
"A natureza vai fazendo o seu trabalho e só precisa de uma pequena ajuda, com menos esforço, com menos investimento e com muito maiores probabilidades de sucesso do que se iniciarmos uma coisa nova com uma arborização", salientou.
É um trabalho discreto, contínuo e que precisa de paciência e persistência, mas que dá "muitíssimo mais frutos", não necessitando de tanta intervenção no futuro, vincou.
A Câmara de Vila Nova de Poiares está também associada ao projeto, estando já a arrancar com um projeto de restauro florestal numa zona de 12 hectares que pretende ser um futuro parque verde do concelho, afirmou à agência Lusa o vice-presidente do município, Artur Santos.
Para além disso, Samuel Vieira, que criou uma floresta nativa ao longo de 20 anos na Quinta da Moenda, colabora atualmente com o município como uma espécie de conselheiro florestal, ajudando também na formação de sapadores para adotarem outras formas de intervenção.
"O trabalho desenvolvido na Quinta da Moenda é notório", salientou Artur Santos.
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