“Não gostaria de ser recebido pelo senhor ministro ou pelo senhor secretário de Estado” porque “são pessoas que não merecem confiança”, disse hoje à Lusa o dirigente da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL).
“Todas as vezes que reunimos com eles, fomos sempre enganados”, afirmou Florêncio Almeida, referindo-se ao ministro João Matos Fernandes e ao secretário de Estado José Mendes, que tutelam os transportes urbanos.
O dirigente associativo espera, por isso, que o primeiro-ministro possa designar outro responsável governativo para dialogar com a ANTRAL e a Federação Portuguesa do Táxi (FPT), que promovem o protesto contra a lei que regula as plataformas eletrónicas de transporte de passageiros.
“Tem que nomear um interlocutor com credibilidade para que nós tenhamos confiança nele, porque quando se perde a confiança em qualquer pessoa é muito difícil negociar-se ou entrar num diálogo que seja construtivo”, frisou Florêncio Almeida.
Os taxistas prosseguem em Lisboa, no Porto e em Faro uma jornada de luta iniciada às 05.00 de quarta-feira para travar a lei que regulamenta as plataformas eletrónicas de transporte de passageiros, como a Uber, Taxify, Cabify e Chauffeur Privé, que entra em vigor em 01 novembro.
Depois de um protesto ordeiro, na quarta-feira, que parou cerca de 1.500 carros naquelas cidades, as pretensões dos taxistas não foram atendidas pelos grupos parlamentares, pelo que as associações representativas do setor decidiram manter o protesto até o Governo mostrar que quer negociar.
O presidente da FPT, Carlos Ramos, estimou que na quinta-feira o protesto contou com 270 táxis parados em Faro, 400 no Porto e cerca de 1.400 em Lisboa.
Na capital, a Lusa constatou que, entre as 21:00 e as 22:00, no percurso entre a Avenida da República e o Marquês de Pombal permaneciam paradas apenas cinco dezenas de viaturas.
Uma fonte da PSP de Lisboa confirmou que “não se registaram incidentes” e estimou que, ao final da noite de quinta-feira, continuavam estacionadas em protesto “cerca de 600 viaturas”, com muitos espaços livres nas vias ocupadas, com táxis a sair e outros a juntarem-se à concentração.
“Já ontem aconteceu a mesma coisa. Foram a casa jantar, descansar um bocado e de manhã estão cá outra vez”, explicou Florêncio Almeida, salientando a expressão pacífica do protesto.
O dirigente da ANTRAL reiterou que a concentração é para manter até que o Governo assegure negociar medidas que garantam a sobrevivência do setor do táxi face à concorrência das plataformas eletrónicas de transporte.
Enquanto junto ao centro comercial Colombo, em Benfica, vários táxis apanhavam clientes, na Praça dos Restauradores, no início da Avenida da Liberdade, taxistas apupavam viaturas que passavam em serviço.
“Por mim, era preciso por isto a mexer, com uma marcha lenta ou outra medida. Enquanto estamos aqui parados, estamos a perder dinheiro e outros andam aí a trabalhar”, comentou Carla Gaspar, 45 anos, há um ano a conduzir um táxi em Lisboa.
A motorista parou a viatura com o consentimento do patrão e confessou que aderiu ao protesto em defesa de um setor ameaçado com a desregulação provocada pelas plataformas eletrónicas, enquanto um taxista lamentou não ter consigo a viatura porque o seu empregador “é fura greves”.
“As plataformas podem botar a nossa classe abaixo”, criticou Horácio Costa, de 63 anos, dos quais 22 a conduzir um táxi próprio em Lisboa.
O taxista assegurou que o protesto está para durar, “até que aceitem negociar”, mas confessou que hoje tem “de ir à terra” para um compromisso que já tinha assumido com amigos.
“Ó pessoal, há ali sandes que a Padaria Portuguesa trouxe”, apregoou um elemento da organização para as poucas dezenas de taxistas que se mantinham na placa central dos Restauradores, motivando a curiosidade de alguns turistas.
Os taxistas vão esperar por respostas do Governo, depois de não verem satisfeito pela maioria dos grupos parlamentares o seu pedido para que seja revogado e iniciado o procedimento de fiscalização sucessiva da constitucionalidade do diploma que regulamenta as plataformas eletrónicas, promulgado pelo Presidente da República em 31 de julho.
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