“Serve a presente petição pública para que a Assembleia da República vote favoravelmente pela expulsão de Portugal de alguém que não se sente bem em Portugal nem com a nossa cultura e valores. Que esta expulsão sirva de exemplo”, lê-se no texto, no sítio da Internet “peticaopublica.com”, que conta com 14.608 assinaturas, pelas 06:40 horas.
Segundo a legislação em vigor, “qualquer petição subscrita por um mínimo de 1.000 cidadãos é, obrigatoriamente, publicada no Diário da Assembleia da República e os peticionários são ouvidos em sede de comissão parlamentar e, caso haja mais de 4.000 cidadãos subscritores, a mesma tem de ser apreciada em reunião plenária da Assembleia da República.
Os peticionários reclamam que o ex-assessor parlamentar do BE e dirigente da associação SOSRacismo “proferiu declarações caluniosas no Twitter [rede social] contra o militar mais condecorado da História portuguesa, o tenente-coronel Marcelino da Mata, um dia depois do seu falecimento”, aos 80 anos, vítima de covid-19.
Mamadou Ba criticou o facto de o CDS-PP ter apresentado no parlamento um voto de pesar pela morte “do sanguinário Marcelino da Mata”. Segundo o ativista, o falecido fundador da tropa de elite “Comandos” terá declarado que nunca entregou “um turra (calão para combatente independentista africano) à PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado do regime fascista de Salazar), antes “cortava-lhes os tomates, enfiava-lhos na boca, e ficava ali a vê-los morrer”.
“Queixam-se do uso displicente do qualificativo ‘fascista’ e refutam a filiação ideológica ao fascismo. Mas investem na homenagem a figuras sinistras como Cónego Melo, Kaúlza de Arriaga e Marcelino da Mata. Marcelino da Mata é um criminoso de guerra que não merece respeito nenhum”, publicou ainda Mamadou Ba.
No domingo, o CDS-PP exigiu a "saída imediata" de Mamadou Ba do grupo de trabalho para a Prevenção e o Combate ao Racismo e à Discriminação, criado pelo Governo em janeiro, por ter insultado Marcelino da Mata.
“O CDS está enfurecido comigo por causa de um criminoso de guerra. É a sua luta pelo pelotão de regresso ao fascismo. O que vale é que já não podem invocar o ‘homem branco’. Que falta de imaginação política!”, respondeu Mamadou Ba, novamente na mesma rede social.
Entretanto, o partido da extrema-direita parlamentar Chega anunciou que iria fazer queixa de Mamadou Ba à Procuradoria-Geral da República por “ofender gravemente a memória de pessoa falecida”, um crime previsto e punível com seis meses de prisão.
Marcelino da Mata, o mais condecorado militar do Exército português, falecido na quinta-feira, serviu em mais de 2.000 operações na Guerra Colonial e, no pós-25 de Abril de 1974, foi detido e torturado por elementos da extrema-esquerda, exilando-se em seguida em Espanha até ao contra-golpe do 25 de Novembro de 1975 (que acabou com o Processo Revolucionário Em Curso).
Entretanto, o combatente português foi proibido de entrar em território da independente Guiné-Bissau, sua terra-natal.
O comando luso foi armado cavaleiro da “Antiga e Muito Nobre Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito”, em 1969, após ter subido sucessivamente de patente, desde soldado a major.
Marcelino Mata reformou-se em 1980 e foi ainda promovido a tenente-coronel em 1994.
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