O vice-primeiro-ministro Luigi Di Maio, líder do movimento antissistema e arquiteto da aliança de governo, advertiu imediatamente que o censo de parte da população segundo a sua origem étnica viola a lei italiana e é inconstitucional.
"Estou satisfeito que Salvini tenha negado qualquer hipótese de recenseamento de imigrantes, porque se algo é inconstitucional, não se faz", disse na segunda-feira numa conferência de imprensa.
A proposta de Salvini, que visa facilitar a expulsão de estrangeiros ilegais, evidenciou as diferenças entre as duas formações que conseguiram assinar um pacto para governar após meses de negociações.
"Infelizmente, temos de ficar com os ciganos da nacionalidade italiana", comentou Salvini, com o seu tradicional estilo xenófobo, o que provocou uma onda de reações.
A ideia de realizar um censo demográfico dos ciganos foi corrigida pelo mesmo Salvini, que explicou que não tinha a intenção de tirar as impressões digitais dos ciganos que vivem em Itália e que o que deseja é fazer uma avaliação da situação dos acampamentos de ciganos e resolver o problema das crianças ciganas que não frequentam a escola e que vivem em condições terríveis e são forçadas à delinquência pelos pais.
"Eu penso nessas crianças pobres que são ensinadas a roubar e a viver na ilegalidade", disse o político italiano.
Salvini contra tudo
Embora não existam números oficiais, segundo estimativas de uma associação próxima da comunidade cigana, entre 120 mil e 180 mil ciganos vivem em Itália. A maioria tem nacionalidade italiana e mais da metade são menores de idade. O restante vem da Bulgária, Roménia e do Leste Europeu em geral.
A proposta de Salvini foi criticada pela oposição de esquerda, que disse que se inspira nas leis raciais aprovadas durante o fascismo pelo ditador Benito Mussolini nos anos 1930.
"A Itália regressou a 1938", ano em que cerca de oito mil judeus italianos foram expulsos e enviados para campos de concentração nazis, lembrou a senadora do Partido Democrata (PD, centro-esquerda), Monica Cirinna.
Salvini, de 45 anos, tornou-se o homem forte do governo no início de junho.
Na semana passada, recusou a receber uma embarcação humanitária com 630 imigrantes a bordo.
O navio "Aquarius",foi finalmente recebido no domingo por Espanha após uma odisseia de quase uma semana pelo Mediterrâneo.
"Muita propaganda e um único resultado: ocupar completamente o debate e a agenda política", comentou o jornal 'La Repubblica' num editorial esta terça-feira.
De acordo com a imprensa italiana, Salvini está a ditar a agenda do governo Liga-M5E e a ofuscar o seu aliado do governo, que obteve duas vezes mais votos nas eleições legislativas de 4 de março.
Essa estratégia parece ser bem sucedida, uma vez que segundo as últimas sondagens subiu aos 25% em comparação com os 17% obtidos em março, enquanto o M5E está em declínio e perdeu os eleitores de esquerda, dececionados com um governo cada vez mais à direita.
A linha "racista" de Salvini, que iniciou o cargo com ataques aos imigrantes, ciganos e à União Europeia, está a tornar-se cada vez mais popular na Itália, segundo o jornal.
[Texto: Olivier Baube/AFP]
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