“A extensão da detenção arbitrária e discriminatória de membros dos uigures e de outros grupos predominantemente muçulmanos (…) pode constituir crimes internacionais, em particular crimes contra a humanidade”, referiu o relatório, com menos de cinquenta páginas nas suas conclusões.
A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, conseguiu manter a promessa de publicar o relatório sobre a região chinesa de Xinjinag antes de deixar hoje o seu cargo, após quatro anos à frente do organismo das Nações Unidas.
O documento, que não parece conter revelações importantes em relação ao que já se sabia sobre a situação em Xinjiang, traz o selo da ONU às acusações feitas há muito tempo contra as autoridades chinesas.
A publicação do relatório foi alvo de intensa pressão particularmente pelos Estados Unidos e pelas principais organizações não-governamentais (ONG) de direitos humanos, e, inversamente, Pequim não queria que fosse divulgado, nomeadamente por considerar o relatório uma “farsa” orquestrada pelo Ocidente, com Washington na liderança.
Nesse documento, a ONU pediu à comunidade internacional que aja com urgência diante das acusações de tortura e violência sexual na região chinesa de Xinjiang que a organização considera “credíveis”.
Uma rápida busca no texto da ONU não traz a palavra genocídio. Por outro lado, esta foi a acusação feita contra Pequim pelo Governo norte-americano.
Em janeiro, a Assembleia Nacional Francesa, seguindo os passos da representação do Reino Unido, Holanda e até do Canadá, também qualificou como “genocídio” o tratamento dos uigures pela China.
Xinjiang e outras províncias da China foram atingidas por várias décadas, em particular de 2009 a 2014, por ataques atribuídos pelo Governo chinês a islâmicos ou separatistas uigures.
Michelle Bachelet defendeu-se de ser muito branda com Pequim em relação aos direitos humanos, acreditando que o diálogo “não significa fechar os olhos”.
“O diálogo e tentar entender melhor [a situação] não significa que sejamos tolerantes, que desviemos o olhar ou que fechemos os olhos. E muito menos que não possamos falar com franqueza”, disse Bachelet.
O atual mandato de Bachelet foi marcado pelas críticas à sua resposta ao tratamento dado pela China aos uigures e a outras minorias muçulmanas. No início de junho, mais de 230 organizações de direitos humanos, incluindo portuguesas, exigiram a demissão de Bachelet, acusando-a de “branqueamento de atrocidades” durante uma visita ao território chinês.
A região de Xinjiang, um vasto território semidesértico no noroeste da China, tem sido cenário de ataques violentos, que Pequim atribui a elementos separatistas e islamitas.
Os uigures, que são maioritariamente muçulmanos e falam na sua grande maioria uma língua relacionada com o turco, são um dos 56 grupos étnicos que existem no território chinês. Esta etnia representa um pouco menos de metade dos 25 milhões de pessoas que vivem na região de Xinjiang.
A China tem sido acusada de concentrar minorias étnicas chinesas de origem muçulmana em campos de doutrinação e reeducação no extremo noroeste do território chinês. As denúncias apontam para pelo menos um milhão de muçulmanos retidos nestes campos de reeducação política.
Pequim tem sempre rejeitado este alegado plano de “genocídio cultural” de minorias muçulmanas na China, alegando que estas instalações são centros de formação profissional, destinadas a ajudar a população a encontrar trabalho e a mantê-la afastada do extremismo e do terrorismo.
Durante uma rara visita à China em maio passado, a primeira em 17 anos de um Alto-comissário da ONU, Michelle Bachelet pediu a Pequim que evitasse medidas “arbitrárias” em Xinjiang, denunciando “atos violentos de extremismo” na região.
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