O estudo, que reúne dados de 1.232 doentes de 18 países europeus, incluindo Portugal, foi apresentado hoje no 27.º congresso da União Europeia de Gastroenterologia, em Barcelona, Espanha.
Segundo o estudo, Portugal é o 10.º país com a taxa de resistência ao antibiótico 'clarithromycin' mais elevada, na ordem dos 20% em 2018, último ano analisado.
O trabalho, cujos resultados foram divulgados em comunicado pela União Europeia de Gastroenterologia, concluiu que a resistência a este antibiótico, usado num tratamento de "primeira linha" para erradicar a bactéria 'Helicobacter pylori', aumentou de 9,9%, em 1998, para 21,6%, em 2018.
Além de Portugal, participaram no estudo Áustria, Bélgica, Bulgária, Croácia, Dinamarca, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Letónia, Lituânia, Holanda, Noruega, Polónia, Eslovénia, Itália e Espanha.
Os "campeões" da resistência ao 'clarithromycin' são Itália, Croácia e Grécia, com taxas entre 30% e 36,9% em 2018.
Os resultados não surpreenderam o médico Mário Dinis-Ribeiro, presidente da Sociedade Europeia de Endoscopia Gastrointestinal, que não esteve envolvido no estudo mas que é citado no comunicado da União Europeia de Gastroenterologia.
O médico do Instituto Português de Oncologia do Porto disse à Lusa que o estudo confirma dados anteriores, de que Portugal é um dos países com maior prevalência de resistência ao 'clarithromycin', com taxas superiores a 15 por cento.
Nestas situações, é recomendada a prescrição de diferentes antibióticos para o tratamento da infeção pela bactéria 'Helicobacter pylori', assinalou.
O tratamento habitual inclui a combinação de três antibióticos ou de dois antibióticos e um inibidor da secreção do ácido do estômago, sendo, regra geral, eficaz.
A infeção pela 'Helicobacter pylori' é "muito frequente" em Portugal, onde, de acordo com a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, se estima que afete cerca de 70% da população adulta, sendo que, "em grande parte dos casos, é adquirida na infância".
A resistência da bactéria ao antibiótico 'clarithromycin' poderá estar eventualmente associada ao uso que é feito do medicamento para tratar outras infeções, nomeadamente respiratórias, admitiu Mário Dinis-Ribeiro, professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
O tratamento de uma infeção bacteriana fica comprometido com a resistência desenvolvida por uma bactéria a um antibiótico, uma vez que a bactéria ganha a capacidade de sobreviver à exposição ao medicamento que foi concebido para a matar ou travar o seu crescimento.
Considerada a infeção gastrointestinal mais comum em todo o mundo, a inflamação no estômago provocada pela 'Helicobacter pylori' pode desencadear úlceras e é fator de risco para o desenvolvimento de cancro gástrico.
Mário Dinis-Ribeiro aconselha as pessoas a consultarem o médico e se a bactéria for detetada em exames deve ser eliminada com o tratamento de antibióticos que é recomendado.
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