Em declarações feitas por telefone à agência Lusa, Rafael Marques salientou que a decisão de José Eduardo dos Santos, que indicou hoje que deixará a liderança do Movimento popular de Libertação de Angola (MPLA) no congresso extraordinário a realizar em setembro, era, “de certa forma, já esperada”.
“Era uma decisão já esperada, porque já havia sinais de má convivência ao nível do partido e que a posição de Eduardo dos Santos de manter-se à frente do MPLA era insustentável. A decisão vem responder à pressão que tem sofrido internamente para o deixar definitivamente”, referiu o também jornalista angolano.
Questionado pela Lusa sobre se se trata de uma cedência do ex-Presidente de Angola (deixou a Presidência em setembro de 20, mas manteve-se à frente do MPLA), Rafael Marques insistiu na questão da “pressão interna”.
“Em princípio, tem mais a ver com a pressão que sofreu e, neste momento, Eduardo dos Santos deu-se conta de que tem cada vez menos aliados, e aliados influentes, dentro da estrutura partidária para poder insistir em manter-se no poder. De modo que não tem outra saída”, respondeu.
“Mas a saída de Eduardo dos Santos era fundamental e vem apenas cumprir com o que estava previsto. É um grande alívio, porque acaba com a bicefalia na relação entre o partido e o Governo”, acrescentou Rafael Marques.
Sobre se a saída, aparentemente definitiva, de José Eduardo dos Santos da política de Angola é uma decisão boa ou má para o país, Rafael Marques explicou que servirá, “para já”, para perceber as capacidades de João Lourenço.
“Depois de 38 anos, mais dia menos dia, era fundamental a saída completa de Eduardo dos Santos para se assumir então a responsabilidade de ver se João Lourenço terá ou não capacidade de dar rumo ao país”, sublinhou o ativista angolano, insistindo, mais uma vez, de que a “pressão interna” no MPLA obrigou o futuro ex-líder partidário a ceder.
“Acaba por cumprir a promessa [de abandonar a política ativa em 2018] muito por conta da pressão que foi exercida dentro do MPLA”, reafirmou, alertando para o facto de “os últimos sinais” de João Lourenço não darem garantias de que vá democratizar o MPLA.
“Para já, uma das formas de democratização passaria por haver, nas eleições, e seguindo os estatutos do partido, candidaturas múltiplas, que não fosse apenas João Lourenço a concorrer, até para dar uma ideia de que o MPLA está a democratizar-se e a ser uma estrutura mais aberta. (…) Quando existe apenas uma só candidatura aprovada para o Congresso é um mau sinal”, declarou.
Hoje, em Luanda, o MPLA aprovou a realização de um congresso extraordinário na primeira quinzena de setembro deste ano e a candidatura de João Lourenço ao cargo de presidente do partido, ocupado desde 1979 por Eduardo dos Santos.
“O bureau político aprovou a proposta de resolução e o cronograma de preparação e realização do 6.º Congresso Extraordinário do partido, a ter lugar na primeira quinzena de setembro próximo e, consequentemente, aprovou a candidatura do camarada João Lourenço, atual vice-presidente, ao cargo de presidente do MPLA”, lê-se no comunicado daquele órgão partidário.
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