O projeto, que tem uma área de intervenção de 2.500 hectares (muitos dos quais baldios), arrancou em 2020 catapultado pelos grandes incêndios de 2017 que afetaram uma parte significativa da área florestal de Arganil, concelho do interior do distrito de Coimbra.

Até ao momento, o projeto já terá assegurado a plantação de quase meio milhão de árvores e está previsto terminar a época de plantação deste ano com 700 mil árvores plantadas, disse à agência Lusa o presidente da Câmara de Arganil, Luís Paulo Costa.

Com financiamento assegurado na sua totalidade pela Jerónimo Martins, serão investidos cinco milhões de euros num projeto que pretende reflorestar o território com espécies autóctones, transformar a paisagem e, pelo caminho, tornar o concelho mais resiliente contra os incêndios, explicou Luís Paulo Costa, durante o discurso que fez antes do arranque de uma ação num dos terrenos intervencionados, em Vinhó.

Apesar de haver um grande investimento na plantação (está prevista a plantação de 1,8 milhões de árvores até 2028), o projeto vai muito para além desse “momento inicial” e, por isso mesmo, a ação que hoje decorreu em Vinhó, no Dia Mundial da Árvore, tentou fugir àquilo que é a tradição, salientou o autarca.

No terreno, voluntários e técnicos, em vez de plantarem árvores, cuidaram daquelas que já estavam plantadas, fazendo pequenas podas ou limpando os terrenos à volta.

“A plantação é importante, mas é muito pouco se não se fizer tudo o resto a seguir”, contou à Lusa Luís Paulo Costa, sublinhando que o projeto e o seu orçamento estão pensados para um período temporal de 40 anos, de forma a garantir um acompanhamento adequado das florestas.

A própria Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC), que faz a assessoria técnica e científica do projeto, “fez muita questão de neste dia fugir-se da plantação e apostar-se na manutenção e nas podas, que são trabalhos essenciais para se garantir que a floresta tenha hipótese de sucesso”, frisou o autarca.

Em Vinhó, voluntários trabalham num povoamento misto, com carvalhos e pinheiro-bravo.

Cerca de 85% dos terrenos que vão ser intervencionados pelo projeto serão de povoamento misto, com a convivência no terreno de pinheiro-bravo com espécies autóctones, como o carvalho negral, o castanheiro ou o sobreiro.

O pinheiro-bravo vai ajudar essas espécies a sobreviverem e a enraizarem-se nos primeiros anos de vida, sendo depois todo ele cortado ao 15.º ano de vida, usando o seu valor económico para continuar a financiar o projeto, aclarou Luís Paulo Costa.

“Há esta simbiose e complementaridade entre espécies da nossa floresta”, frisou.

Para Luís Paulo Costa, o projeto terá impacto na paisagem daqui a 30 ou 40 anos.

O autarca assumiu que o seu auge poderá só ser atingido daqui a 50 anos.

“Estamos a falar de um projeto que ficará muito para lá da nossa existência terrena. Temos noção clara de que estamos aqui a fazer um caminho de longa distância, uma maratona”, frisou.

Também o vice-presidente da ESAC, José Gaspar, realçou que o projeto, apesar de ter “um foco inicial grande nas atividades que estão a decorrer, tem uma parte significativa para operações que são necessárias ao longo da vida destes povoamentos”.

“Este é um projeto muito diferente do que acontece em outros. Criámos um projeto ao nível da paisagem, com área mais ou menos contínua, que permite fazer um enquadramento diferente e não estarmos sujeitos ao esquema dos subsídios que nos impõem determinada composição dos povoamentos e permite também experimentar novas abordagens”, destacou, por seu turno, a docente da ESAC Beatriz Fidalgo, realçando que o projeto tem muitos técnicos envolvidos, que analisam o trabalho feito e vão ajustando e modificando as ações mediante as necessidades identificadas.

Já o diretor executivo da Jerónimo Martins Agro-Alimentar, António Serrano, realçou a importância de este ser um projeto de longa duração e enalteceu o caráter “nobre” da iniciativa, por os seus resultados ficarem para lá daquilo que é a existência de cada um.

“Junta público e privado e mostra como é possível juntar vontades. Esperemos que seja replicado por outras entidades, por outros concelhos, por outras empresas”, referiu.

Para além deste projeto, Arganil tem também cerca de quatro mil hectares propostos como áreas integradas de gestão de paisagem — instrumento criado pelo Governo recentemente -, que permitirão assegurar “uma expansão” da “Floresta da Serra do Açor”, disse o presidente da Câmara.

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