“Hoje, às 14:00 estavam 29 ocorrências por dar resposta por não haver ambulância, sendo que a que estava à espera há mais tempo estava há, pelo menos, há 50 minutos”, disse à Lusa Rui Lázaro, presidente do Sindicato dos Técnicos de Emergência Médica, que afirmou que esta é uma “situação recorrente”, mais acentuada na região de Lisboa e Vale do Tejo, que dura há meses, sendo do conhecimento do INEM e do Ministério da Saúde.
Os tempos de espera de quase uma hora explicam-se pela falta de técnicos nos quadros do INEM, disse Rui Lázaro, que referiu que atualmente existem apenas cerca de 900 técnicos de emergência pré-hospitalar, quando o previsto é que sejam 1.400.
“Isto é provocado pela elevada taxa de abandono que temos”, disse o presidente do sindicato, justificando os níveis de abandono com a fraca atratividade da carreira, cujas atuais condições motivaram um dia de greve a 22 de outubro.
Rui Lázaro referiu que o concurso atualmente em curso para a contratação de 178 técnicos recebeu até agora menos de 50 candidaturas, quando em concursos abertos em 2012, 2013 ou 2014 para 100 vagas concorriam cerca de 10 mil candidatos.
“A consequência de sermos menos é que há ambulâncias fechadas diariamente. Fizemos greve há duas semanas e os serviços mínimos que garantimos no dia de greve foram superiores ao que o INEM consegue garantir durante vários dias. Estamos neste ponto, o INEM já nem sequer consegue garantir os mínimos exigidos numa greve geral”, disse o responsável sindical.
Rui Lázaro acrescentou ainda que nem as ambulâncias das corporações de bombeiros ou as da Cruz Vermelha conseguem atenuar o problema, porque se os centros de atendimento não enviam ambulâncias para os locais de emergência é porque até estas estão ocupadas.
Há ainda muitas “ambulâncias fechadas”, ou seja, paradas, por falta de técnicos, com algumas que deviam estar operacionais durante 24 horas a estarem ao serviço apenas 16 horas, e outras que em vez de 16 horas funcionam apenas durante oito horas, acrescentou.
Parte do problema podia ser resolvido com recurso a técnicos que estão nos CODU (Centros de Orientação de Doentes Urgentes), se a sua formação tivesse sido concluída, disse Rui Lázaro.
“O último concurso de técnicos que ocorreu em 2019, por ineficácia e incapacidade do INEM para prestar a formação toda, os técnicos não têm formação para trabalhar nas ambulâncias, estão obrigados a trabalhar só na central de emergência, onde aparentemente não faltará gente, porque as chamadas são atendidas”, disse.
Segundo Joana Amaro, dirigente sindical e técnica de emergência pré-hospitalar na margem sul do Tejo, só esta semana chegaram ao sindicato pelo menos cinco denúncias por atrasos no socorro, sendo que na margem sul de Lisboa são os concelhos de Almada e Seixal onde a situação é mais grave.
Os casos de atraso de socorro, que já motivaram anteriormente denúncias do sindicato ao Ministério Público, provocam cada vez mais reações negativas de quem aguarda o envio da ambulância.
“As pessoas reagem mal à nossa chegada, porque acham que chegámos tarde por culpa nossa, quando, na verdade, fomos ativados há cinco minutos”, disse Joana Amaro, sublinhando ainda que também para os operadores do CODU “esta é uma situação de desgaste permanente”.
A Lusa contactou o INEM para obter uma reação e aguarda resposta.
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