Melo Alves falava à saída do Tribunal de Santarém no final do segundo dia de audiências do julgamento sobre o furto do material de guerra em Tancos e da alegada encenação na recuperação das armas, num processo que envolve 23 acusados entre eles o ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes, o ex-diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM) Luís Vieira, o ex-porta-voz da instituição militar Vasco Brazão e elementos da GNR de Loulé, entre outros.
O advogado reconheceu que a iniciativa do furto partiu de João Paulino, com base em informações obtidas junto do arguido Paulo Lemos (conhecido por “fechaduras”), e vincou que o seu constituinte "sempre afastou" a prática do crime de terrorismo, negando qualquer ligação com a ETA, considerado como um movimento separatista e terrorista basco.
Confrontado pelos jornalistas com as declarações de João Paulino na audiência de que a escolha do material de guerra furtado foi feito sem critério - "ao calhas" foi a palavra usada -, Melo Alves sublinhou que, independentemente da gravidade dos factos, isso é uma questão "indiscutível", tratando-se de uma "coisa mais ou menos de amadores".
Acerca do facto de João Paulino ter falado hoje em julgamento sobre a identidade dos cúmplices no furto das armas, Melo Alves revelou que o seu cliente "sempre insistiu" que deveria indicar quais as pessoas que foram "comparticipantes com ele no furto", tendo consumado hoje esse propósito.
O advogado realçou contudo que "o local indicado" para se apurar a verdade e fazer a produção de prova é a "audiência de julgamento".
Em resposta aos jornalistas, Melo Alves confirmou que, segundo a versão do ex-fuzileiro, as armas furtadas estiveram desde o início em Penela (concelho do distrito de Coimbra), tendo o arguido recentemente devolvido o material militar que faltava e que continuava a estar guardado no mesmo local.
O advogado sublinhou que a devolução das armas furtadas feita por João Paulino é, neste tipo de casos, a "melhor forma de arrependimento" do arguido, que, ao invés de ter vendido o material, decidiu devolvê-lo.
Melo Alves tem dito reiteradamente que a devolução das armas por João Paulino e a sua colaboração na descoberta da verdade é um meio de o seu cliente vir a alcançar uma atenuação especial da pena no final do julgamento.
O processo, relativo ao furto e à alegada encenação na recuperação das armas pela PJ militar, tem 23 acusados, incluindo o ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes, que se demitiu na sequência da polémica em torno da atuação da PJ militar.
Em causa está um conjunto de crimes que vão desde terrorismo, associação criminosa, denegação de justiça e prevaricação até falsificação de documentos, tráfico de influência, abuso de poder, recetação e detenção de arma proibida.
Nove arguidos vão responder por associação criminosa, tráfico e mediação de armas e terrorismo e os restantes 14, entre eles Azeredo Lopes e dois elementos da PJM, pela encenação que esteve na base da recuperação do equipamento.
O caso do furto do armamento de guerra dos paióis de Tancos foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017 com a indicação de que ocorrera no dia anterior, tendo a alegada recuperação do material de guerra furtado ocorrido na região da Chamusca, Santarém, em outubro de 2017, numa operação que envolveu a PJM, em colaboração com elementos da GNR de Loulé.
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