Foi já quando estava a esgotar o tempo das perguntas ao primeiro-ministro, hoje, na Assembleia da República, em Lisboa, que Cristas questionou se o chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) e o ministro da Defesa têm condições para continuar nos seus cargos, face às mais recentes notícias sobre a alegada encenação na recuperação do armamento.
Todos os dias, afirmou, “há novas notícias e contraditórias” em relação a Tancos e o CDS considera fundamental proteger a “defesa nacional e as forças armadas"
“Considera ou não que, neste momento, o CEME e o ministro da Defesa não são um fator de credibilidade e estabilidade, pelo contrário são fator de fragilidade?”, perguntou.
Na resposta, António Costa considerou “lamentável a partidarização do debate sobre as chefias o que é indigno de uma democracia estável”, desde 26 de novembro de 1975, com o fim do período revolucionário após a "Revolução dos Cravos" de 1974.
E disse mais, afirmando que esse debate “já tinha sido lamentável” na “escolha da procuradora-geral da República” e é “mais lamentável ainda com as chefias militares”.
António Costa criticou ainda Cristas por teorizar acerca de informações com base em "fugas de informação" que "resultam da prática de um crime".
Já quanto à confiança política no ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, sentado seu lado na bancada do Governo, o chefe do Governo insistiu: "Obviamente que o ministro da Defesa não estaria aqui se não tivesse a minha confiança."
Assunção Cristas já não pôde dar a resposta ao primeiro-ministro por já não ter tempo disponível, versão contrariada pelo presidente da bancada centrista, Nuno Magalhães, que disse ter visto “dois segundos” quando terminou a intervenção.
Ainda houve uma troca de palavras com o presidente da Assembleia da República, mas Ferro Rodrigues olhou para o quadro com zero segundos e disse que tinha de respeitar “o que está no quadro”, passando a palavra a Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP.
O parlamento debate, em 24 de outubro, o pedido de inquérito parlamentar apresentado pelo CDS centrado nas responsabilidades políticas do ministro da Defesa no furto de armamento nos paióis de Tancos, em junho de 2017, que tem aprovação garantida.
Em 25 de setembro, a Polícia Judiciária deteve, no âmbito da Operação Húbris, que investiga o caso da recuperação, na Chamusca, em outubro de 2017, das armas furtadas em Tancos, o diretor e outros três responsáveis da PJM, um civil e três elementos do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Loulé. Dias depois chegou a Portugal e foi detido o major Vasco Brazão, que foi porta-voz da PJM e estava em missão na República Centro-Africana.
Segundo o Ministério Público, em causa estão “factos suscetíveis de integrarem crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, recetação, detenção de arma proibida e tráfico de armas”.
O furto de material militar dos paióis de Tancos - instalação entretanto desativada - foi revelado no final de junho de 2017. Entre o material furtado estavam granadas, incluindo antitanque, explosivos de plástico e uma grande quantidade de munições.
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