“Não sou capaz de me pôr na posição dele”, do chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), general Rovisco Duarte, afirmou Pina Monteiro numa audição na comissão parlamentar de inquérito ao furto de material militar dos paióis de Tancos, para logo acrescentar: “Não fazia nada daquilo”.
Nem faria “aquilo”, a exoneração dos comandantes com responsabilidades na segurança dos paióis, nem concordou com a demissão de dois tenentes-generais, Faria Menezes e José Calçada, já ouvidos na comissão de inquérito, por discordarem da decisão de Rovisco Duarte, afirmou.
“Não fazia nada daquilo, nem uns nem outros”, sintetizou Pina Monteiro, que, ainda assim, disse acreditar que o antigo CEME, que “tinha em cima de si um peso” que ele próprio “não gostaria de ter tido”, fez o que pensou que seria melhor.
Os cinco comandantes foram renomeados passadas algumas semanas pelo general Rovisco Duarte.
De resto, Pina Monteiro declarou, por várias vezes, que o general Rovisco Duarte não o informou previamente do que ia fazer, “nem tinha de informar”, e também, várias vezes perguntado, referiu não ter identificado “pressões políticas” em todo o processo por parte do Governo ou do à data ministro da Defesa, Azeredo Lopes.
Houve pressões em qualquer decisão de Rovisco Duarte, perguntou o deputado comunista Jorge Machado, questão mais tarde repetida por Matos Rosa (PSD), António Carlos Monteiro (CDS-PP) e Maria da Luz Rosinha (PS), a que Pina Monteiro respondeu: “Não posso identificar".
Outro dado é que, na opinião do ex-CEMGFA, a questão financeira não teve influência no furto de material, considerando que os problemas e dificuldades nos paióis estavam identificados desde 1998.
Passados quase dois anos do furto de Tancos, o general Pina Monteiro recordou o “soco no estômago” que foi receber a notícia no dia seguinte, 28 de junho de 2017, quando estava em Bruxelas com o então ministro da Defesa Nacional.
Mas, foi mais do que isso, nas suas palavras. “Foi um murro no estômago, mas que se sentiu na cabeça e no coração”, disse.
O general deu ainda a explicação adicional: “Um paiol é o último reduto, que pensamos que não pode ser violado. Isto dói”, insistiu.
Também por várias vezes, Pina Monteiro afirmou que se sentiria desconfortável a responder a algumas perguntas, dado que, apesar de estar na reforma, mantém o dever de reserva em algumas matérias.
Antes do final da audição, o coordenador do PS na comissão, Ascenso Simões, pediu para que fosse retirado o pedido da bancada socialista para ser ouvido o ex-ministro da Defesa do PSD José Pedro Aguiar Branco, dado que nem Pina Monteiro, nem o Ex-CEME Domingo Jerónimo, nunca comunicaram ao Governo “nenhuma falha de segurança em Tancos, nem pediam apoio complementar” financeiro.
Falta saber se o BE, que também pediu para ouvir Aguiar Branco, aceita prescindir desta audição.
O próximo militar a ser ouvido na comissão será, precisamente, o general Rovisco Duarte, na quarta-feira, 06 de março.
O caso do furto de armas em Tancos ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do crime.
Primeiro o general Rovisco Duarte e depois o ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, demitiram-se dos cargos.
A comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no furto de material militar em Tancos tem previstas audições a mais de 60 personalidades e entidades, vai decorrer até maio de 2019 e é prorrogável por mais 90 dias.
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