Era para ser já a partir de 1 de janeiro, mas o Governo decidiu adiar até 2025 o limite de dez anos para os táxis. “No que se refere à idade dos veículos, atendendo às dificuldades económicas decorrentes da pandemia, da crise global na energia e dos efeitos da guerra na Ucrânia, que por um lado, deixaram o setor do táxi com pouca capacidade para realizar os investimentos necessários para a renovação da frota e, por outro lado, criaram disrupção nas cadeias de abastecimento, gerando problemas de resposta da indústria no fornecimento de bens, procede-se à prorrogação por mais dois anos, até dezembro de 2025, do período transitório para o cumprimento do limite da idade que foi estabelecido através da Portaria n.º 294/2018, de 31 de outubro“, lia-se na portaria de 22 de dezembro passado.
As associações de táxis aplaudiram esta medida do Governo, mas salientam também que os dois anos a mais de suspensão deverá ser muito curto para a realidade do setor.
"Esta medida faz sentido, e por fazer as associações pediram essa prorrogação. No entanto, a ANTUP (Associação Nacional Táxis Unidos de Portugal), entende que o limite de idade de 10 anos é pouco, achamos que deveria ser equiparado ao limite do Transporte Coletivo de Crianças que é de 16 anos, além disso temos de pensar que a maioria dos táxis do setor laboram no interior do país, onde o desgaste não é o mesmo que nos grandes centros. Como tal defendemos o limite de 15 anos", começou por salientar ao SAPO24 o diretor da ANTUP, Pedro Gonçalves, referindo depois as dificuldades do setor para renovar a frota atual.
"Seria uma utopia dar uma resposta com a fórmula do que será possível ser feito até final de 2025 para que tudo estivesse preparado. Em primeiro lugar precisamos de ter capacidade económica para tal, porque tudo encareceu devido a dois anos de pandemia e um ano e alguns meses de guerra. Combustíveis, viaturas, etc, tudo está mais caro. Precisa existir no mercado a resposta para que essa execução seja viável, não se procura viaturas bonitas, boas e baratas, tipo saldo, mas sim viaturas com capacitação para o serviço que se pretende fazer e que esperam que façamos", salientou.
"Temos de pensar que a maioria dos táxis do setor laboram no interior do país, onde o desgaste não é o mesmo que nos grandes centros. Como tal defendemos o limite de 15 anos"ANTUP
Também a Associação Nacional dos Transportes Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL) sugere, nas respostas enviadas ao SAPO24, que o limite de 2025 imposto pelo Governo poderá ser curto.
"Para se concretizar, em tempo útil, a renovação da frota é absolutamente necessário que a oferta de veículos novos seja suficiente para satisfazer a procura. Existe uma medida de apoio [do Governo] à aquisição de veículos eléctricos, que, no entanto, é insuficiente para garantir a renovação da frota como se pretende", diz a direção da ANTRAL, salientando a pressão feita junto do Governo para que 1 de janeiro de 2023 não fosse o último dia dos táxis com mais de 10 anos.
"A Antral pressionou o Governo e lembramos que, na reunião, em 3 de Março, havida com o Secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Dr. Jorge Delgado, a Direção da associação voltou a questionar o Governo sobre a necessidade de, com urgência, prorrogar o prazo que terminaria a 31 de dezembro, dada não só a dificuldade sentida na aquisição de viaturas novas como também a situação de crise que o setor ainda atravessa, que não lhe permite renovar a frota como se pretende. A reação do Secretário de Estado não foi aquela que esperávamos, pelo que ficámos convictos de que, a partir de 1 de Janeiro de 2024, nenhum táxi poderia ter mais de 10 anos. Fizemos sentir que não compreendíamos esta posição de força, quanto aos táxis, quando se verifica que ambulâncias, autocarros e viaturas utilizadas pelos bombeiros estão autorizadas a circular com idade superior a 10 anos, e em muitos casos, até mais de 20 anos. Entretanto, em 15 de Julho, no Dia do Táxi, na intervenção que fez, o Secretário de Estado já valorizou os argumentos da Antral, acabando por se comprometer a publicar a portaria que prorrogasse o prazo como pedido", referem.
Elétricos? Só com mais apoio também
As dificuldades no setor fazem, assim, com que os taxistas torçam ainda o nariz à renovação dos veículos. Mas quando o fizerem, o passo será rumo a elétricos? As respostas não enganam.
"Existe uma medida de apoio [do Governo] à aquisição de veículos eléctricos, que, no entanto, é insuficiente para garantir a renovação da frota como se pretende"ANTRAL
"Nas várias reuniões que temos tido com os industriais e também no Dia do Táxi, que ocorreu em Julho, com a presença de várias centenas de associados, ficámos com a sensação de que, neste momento, face às dificuldades no abastecimento, os industriais tem vido a protelar a aquisição de viaturas eléctricas. Por outro lado, o sector, que, ainda, não recuperou dos efeitos da crise pandémica, só com um apoio adequado é que poderia ter condições para a renovação da frota", diz a Antral.
E pelo mesmo diapasão afina a outra associação. "O que se tem debatido dentro da ANTUP, após alguma pesquisa sobre as diferenças entre híbrido e elétrico, é que um híbrido terá melhor resposta para o serviço de táxi com dois turnos (2 motoristas). Quanto ao elétrico, dentro das possibilidades financeiras de aquisição, não nos parece existir a mesma garantia, de fazer os mesmos dois turnos. No entanto é algo que fica á consideração das empresas e dos empresários" salientam, confirmando também que o apoio dado pelo Governo, neste momento, é demasiado curto.
"O Governo lançou um apoio, em maio e que terminou a 30 de novembro, de Apoio à Descarbonização e Digitalização da frota de táxis, mas apenas para quem comprasse viaturas elétricas e taxímetros. E mesmo assim para se ter acesso a esse apoio, existia a necessidade de o empresário ou a empresa ter capacidade financeira para avançar com a compra e só depois candidatar-se ao dito apoio, que poderia vir a receber ou não. No entanto, o valor estipulado pelo governo não chegaria para as 13 476 viaturas táxis.
E muito honestamente duvidamos que alguma vez esse apoio atinja todo o setor", concluem.
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