“Temos efetivamente uma subida da temperatura da água do rio [Douro] que chega ao mar”, avançou à agência Lusa o hidrobiólogo e especialista em Bacias e Barragens Adriano Bordalo e Sá, referindo que o Douro é a maior bacia hidrográfica da Península Ibérica e o rio que transporta mais água para o mar.
Segundo estudos do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), da Universidade do Porto, que se iniciaram em 1985, há “um subtil aumento da temperatura da água”.
“Da parte superior do estuário – que tem cerca de 21 quilómetros -, temos valores entre os 26 e os 27 graus de temperatura este verão, completamente inabituais há quase 40 anos”, observou o especialista.
A água do estuário do Douro vai arrefecendo ao longo dos 21 quilómetros do estuário, mas pode chegar à foz com uma temperatura de 20 ou 21 graus.
Apesar das alterações climáticas estarem a aumentar a temperatura média das águas do rio Douro, a região Norte não é a melhor indicadora para se aferir o aumento da água costeira que ocorre, porque há um fenómeno oceanográfico, que se chama "afloramento das águas costeiras".
O afloramento das águas costeiras consiste em transportar para a superfície do mar águas de grande profundidade, onde a temperatura é constante durante todo o ano, e são quatro graus centígrados.
“Devido aos ventos e à morfologia costeira, esse fenómeno suga a água fria de profundidade para a superfície, e por isso é que temos a água gélida no verão", comparado com as temperaturas da água que apresenta, por exemplo, o Algarve, explicou Bordalo e Sá, acrescentando que o fenómeno do afloramento se sobrepõe às alterações climáticas.
“Nuns anos é mais forte, noutros anos é menos forte. Em 2017 foi menos forte e conseguimos ter temperaturas de 21 graus nas praias costeiras”, recordou.
O fenómeno meteorológico do El Niño vem complicar ainda mais as coisas.
Este ano, começou em meados de maio e trouxe chuva inabitual para a época do ano, até houve inundações em algumas partes de Portugal.
“O El Niño está a trazer instabilidade e vai-se sobrepor a esta tendência e em princípio trará chuvas fora de época na Península Ibérica", observou o cientista.
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