A população de Benfeita, que foi fortemente afetada pelo incêndio de 15 de outubro de 2017, vai arrancar eucaliptos e mimosas em dois locais da freguesia, num trabalho em conjunto com a junta e o Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF), refere uma nota de imprensa enviada à agência Lusa.
"O cenário pós-fogo promete, se nada for feito, um futuro desastroso e não muito distante em relação a novos fogos, redução da biodiversidade e de recursos naturais", sublinha a organização, alertando que as duas espécies exóticas vão rebentando "por todo o lado e em grande número, mesmo em zonas onde antes não se encontravam, como a reserva natural da Mata da Margaraça".
A organização sublinha que as consequências "de tão grande expansão da presença destas espécies significa uma intensificação de períodos de seca e falta de água, uma paisagem com alta propensão a incêndios, menor biodiversidade e menor regeneração natural".
Na nota de imprensa, deixam ainda um alerta para o Governo que, caso não dê condições às autoridades locais para gerirem estes problemas, "o Centro de Portugal poderá estar mesmo a caminho da autodestruição".
Como problemas, apontam para a inexistência de mapas da área, o confronto entre interesses económicos e a natureza e falta de apoio às freguesias para lidarem com esta situação.
"Temos agora uma janela temporal de menos de seis meses em que será ainda possível arrancar estas pragas de forma manual. Se não aproveitarmos este tempo, poderá ser tarde demais ou muito mais difícil realizar tal tarefa", frisa a nota de imprensa.
Na Segunda-feira, a comunidade local vai ajudar o ICNF a remover eucaliptos no interior da Mata da Margaraça, sendo que os trabalhos de remoção de espécies exóticas estendem-se também a um terreno privado de um habitante local, que o disponibilizou para o efeito.
"Há muita gente daqui com interesse em participar", disse à agência Lusa Inês Moura, um dos membros da organização da iniciativa, realçando que não se trata apenas de uma participação da comunidade que ali vive e que está mais consciente das questões da ecologia e da preservação da biodiversidade, mas também dos habitantes locais, que "estão felizes por se estar a arrancar os eucaliptos".
A grande maioria dos habitantes naturais de Benfeita "está muito preocupada com a possibilidade de novos fogos", face ao aumento da densidade dos eucaliptais após o fogo, mas também alertam para a possibilidade de falta de água.
A iniciativa assume também uma dimensão simbólica de alertar o Governo para a necessidade de intervir nesta área, esclareceu.
"Mesmo que as juntas consigam conversas com as pessoas e os proprietários deem autorização para arrancar os eucaliptos, as juntas não têm meios e, à medida que o tempo avança, vai ser mais difícil de os arrancar", referiu, sublinhando que já encontram eucaliptos com mais de 1,6 metros de altura, um ano após o fogo.
A iniciativa, referiu Inês Moura, será apenas um primeiro passo, sublinhando que a população vai continuar a arrancar eucaliptos na zona.
"Acho que ninguém pode parar de o fazer. Não se pode parar, senão o país transforma-se num deserto muito rapidamente", concluiu.
A iniciativa arranca às 09:30, com um encontro na capela à saída dos Pardieiros, no concelho de Arganil.
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