Numa mensagem publicada na rede social X, o ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, lamentou a morte do também ficcionista, ensaísta e professor, sem deixar de manifestar o seu pesar à família, aos amigos e aos alunos.
“Atingiu particular reconhecimento pela sua obra poética, marcada por uma linguagem lírica e por profunda introspeção, tendo recebido numerosos prémios literários nacionais e internacionais. Além do conjunto dos seus livros, Júdice deu também uma contribuição decisiva para o debate cultural no nosso país desde o final dos anos 1960, sendo um destacado académico e crítico literário”, pode ler-se na nota partilhada pelo Ministério da Cultura.
Por seu lado, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a morte do poeta, lembrando-o como “um autor decisivo numa época de transição da poesia portuguesa”. Numa nota publicada na página da Presidência da República, o chefe de Estado recordou que Júdice, “sendo um dos mais prolíficos poetas portugueses, e um dos mais traduzidos, era o mais reconhecido internacionalmente”.
“A sua obra poética e o trabalho de décadas em diferentes instituições foram um contributo maior para a singularidade, o cosmopolitismo e a projeção da literatura portuguesa”, acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa, no mesmo texto, que endereça o seu pesar à família, em particular à mulher, Manuela Júdice.
Da parte do primeiro-ministro, António Costa, constata-se que "a cultura portuguesa perdeu, com o falecimento de Nuno Júdice, um dos seus mais reconhecidos poetas e conciso romancista. Como me prenunciara a sua mulher, ‘iniciou a sua descida devagarinho em silêncio, como é seu hábito’”, pode ler-se num par de mensagens publicadas na rede social X.
António Costa apresentou as condolências à família e disse que iria recordar Júdice “sempre na sua infinita delicadeza, grato pela sua amizade e camaradagem”.
Já o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, recorreu à mesma rede social para declarar “muito triste a notícia da morte de Nuno Júdice, um dos grandes poetas contemporâneos em língua portuguesa”, expressando ainda a sua solidariedade à família.
Entre as personalidades que já manifestaram a sua tristeza pela morte de Nuno Júdice está também o antigo ministro da Cultura João Soares, que recordou, através de uma mensagem publicada no Facebook, a amizade e a inteligência do poeta.
“Tinha 74 anos. Éramos da mesma idade. Conhecíamo-nos muito bem desde a Universidade. Durante muitos anos fomos amigos próximos. Era alguém de grande cultura e inteligência. Deixa uma obra notável sobretudo de poesia, mas não só”, referiu, acrescentando: “Perdemos um dos mais notáveis intelectuais do nosso tempo. À sua mulher, seus filhos, e família mais chegada deixo aqui testemunho do meu muito sentido pesar”.
A Fundação José Saramago lembrou na rede social X o percurso de Nuno Júdice enquanto membro do seu conselho de curadores e lamentou “profundamente” a morte do poeta.
Também nesta plataforma, a presidente desta fundação, Pilar del Rio, evocou não só o papel de Nuno Júdice na poesia, mas sobretudo “um amigo insubstituível, um sábio silencioso”, salientando a atribuição do prémio de poesia Rainha Sofia, entre outras distinções.
A sua editora, a D. Quixote, assumiu numa mensagem publicada nas redes sociais “profundo pesar e sentida consternação” pela morte de Nuno Júdice e considerou que a notícia “deixa mais pobre a literatura e a poesia portuguesas”, lembrando o percurso escrito desde 1972, tornando-se desde então “um dos mais notáveis e reconhecidos poetas portugueses”.
O impacto da morte de Nuno Júdice foi também reconhecido nas redes sociais por outras editoras, como a Quetzal, que defendeu que o poeta que hoje morreu aos 74 anos “ocupa um lugar único e que nunca será ocupado” na cultura nacional, ou a Sibila, que lembrou o “excelentíssimo autor e grande amigo” com o qual teve “o prazer e a honra de realizar importantes projetos editoriais”.
Grupo Leya lamenta “dia muito triste para a cultura portuguesa”
O diretor-geral do grupo Leya, Pedro Sobral, lamentou hoje a morte do poeta Nuno Júdice, considerando que se trata de um “dia muito triste para a cultura portuguesa”.
Em declarações à Lusa, após ser conhecida a morte do poeta, aos 74 anos, Pedro Sobral admitiu a sua tristeza e “um grande choque” com a notícia, destacando o homem além do poeta, ficcionista e ensaísta.
“É uma grande tristeza, porque o Nuno Júdice, além de ser um poeta e ficcionista extraordinário e que marcará a literatura e a cultura portuguesa, era, acima de tudo, um homem extraordinário. Acho que tocou todos os que trabalharam com ele, era um homem muito cordato, gentil, discreto, mas um cavalheiro”, afirmou.
Sublinhando que “a obra fala por ele”, numa carreira que se prolongou por mais de 50 anos, Pedro Sobral assinalou “a sensibilidade”, bem como “a própria melancolia da sua poesia”, e realçou a experiência pessoal enquanto membro do júri do prémio Leya.
“De facto, era um prazer estar com ele, uma alegria imensa, por esta forma discreta, algo tímida, mas sempre com a palavra certa e muito ponderado, um saber à volta da literatura. A sua interpretação dos textos que iam àquele júri era absolutamente extraordinária, era um deleite ouvir o Nuno Júdice a fazer a sua interpretação dos originais que vinham ao júri”, frisou.
Questionado sobre o legado que Nuno Júdice deixará na cultura portuguesa, o diretor-geral da Leya e atual presidente da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) preferiu evocar a faceta do poeta enquanto professor.
“Acho que o Nuno trouxe uma nova forma de escrever poesia durante todos estes anos. É um legado que certamente ficará, mas não nos podemos esquecer de que o Nuno Júdice foi professor durante muitos anos”, disse, continuando: “Muitas pessoas que nos iam bater à porta eram tocadas por aquilo que o Nuno Júdice ensinou, pelo entusiasmo e pela forma muito comprometida com a poesia em língua portuguesa”.
Para Pedro Sobral, o legado de Nuno Júdice passará pelos “milhares de alunos que tocou e a quem passou o gosto pela poesia”, tanto no ensino secundário, como no ensino superior.
“É um género relativamente esquecido e que não tem muitos leitores em Portugal, infelizmente. Se há algo que o Nuno Júdice conseguiu fazer – quer como poeta, quer como professor - foi formar muito a sensibilidade para a leitura da poesia, nomeadamente da poesia em língua portuguesa. Acho que este é o grande legado dele”, concluiu.
Nuno Júdice nasceu na Mexilhoeira Grande, em Portimão, no distrito de Faro, em 1949.
Poeta, ensaísta e ficcionista, Nuno Júdice foi, até 2015, professor na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Literariamente, estreou-se em 1972 com o livro de poesia "A Noção de Poema".
Ao longo da carreira literária, Nuno Júdice foi distinguido com diversos prémios, entre os quais o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-americana, em 2013, o Prémio Pen Clube, o Prémio D. Dinis da Casa de Mateus e o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores.
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