Em entrevista à RTP, em Luanda, João Lourenço, chefe de Estado desde setembro de 2017 e que assumiu a liderança do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) um ano depois, em ambos sucedendo a José Eduardo dos Santos, assumiu que o combate à corrupção que hoje se assiste no país foi uma bandeira anteriormente definida pelo próprio partido.
“Não fui eu que elegi. Quem elegeu foi o meu partido. Uma das questões fundamentais que o MPLA defendeu durante a campanha, uma das promessas, um dos compromissos que o partido assumiu perante os eleitores e consequentemente perante os angolanos foi precisamente a necessidade urgente de combate à corrupção”, explicou João Lourenço, considerando que a corrupção em Angola tinha então “atingido níveis insustentáveis”.
“Era preciso fazer-se alguma coisa sob pena de afugentar o investimento privado estrangeiro, tão necessário para o desenvolvimento do nosso país. Portanto, eu, como bom soldado, o que estou simplesmente a fazer é cumprir aquilo que o meu partido me orientou a fazer”, afirmou.
Insistindo tratar-se de um “combate de todos”, assumido pelo MPLA, mas que é também de “toda a sociedade” e, particularmente, da Justiça, João Lourenço garante que “é uma questão de tempo” até a batalha ser “vitoriosa”.
“É preciso que se diga que eu não sou alguém vindo de outro país, de outro planeta, de outro partido político. Eu sou parte do sistema, cresci dentro do MPLA e, portanto, muito antes de vir cá parar à Presidência da República, acompanhei tudo o que foi sendo feito, de bom e de mau, pelo meu próprio partido. Portanto, para lhe dizer que não foi nenhuma surpresa [o nível de corrupção que encontrou], a única diferença é que, posto cá, acabei por ter a oportunidade de ter a dimensão real de quanto a corrupção em Angola representava”, disse.
Questionado sobre se acredita numa vitória neste “combate”, João Lourenço foi claro: “Estou convencido de que sim, caso contrário já teria desistido. Se não desisti é porque estou preparado para a luta. Sei que não estou sozinho e por não estar sozinho sinto-me estimulado a continuar a liderar esta luta. Eu só estou a liderar, não estou a fazer o combate”, insistiu.
“É uma luta que é de todos, é difícil. Devemos ser honestos em dizer que carece de muita coragem, da perda de muitas noites, mas pensamos ter os nervos de aço suficientemente fortes no sentido de levar este combate até ao fim, sejam quais forem as dificuldades e as ameaças que possamos encontrar pelo caminho”, disse ainda.
O chefe de Estado angolano acrescentou que, apesar do combate que o país está a travar, “ninguém pode garantir que daqui para a frente não haverá corruptos”.
“Essa garantia ninguém dá. A única garantia que podemos dar é que poderá haver corruptos, mas não ficarão impunes. A grande diferença não é haver ou deixar de haver corrupção. O problema é que antes havia corrupção e impunidade, essas duas categorias estavam praticamente casadas, e, nesta nova era, se houver corruptos – e admito que possa haver – não haverá impunidade”, garantiu.
Um combate que passa igualmente pelo processo, em curso, de repatriamento coercivo de capitais ilegalmente retirados do país ao longo dos últimos anos, para o qual o chefe de Estado angolano afirma contar com o apoio do Governo português.
“Quanto aos valores, preferimos não nos abrir, por enquanto, e na devida altura a opinião pública terá conhecimento”, concluiu João Lourenço.
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