A 13 dias da eleição do novo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa testou positivo à Covid-19. O relógio marcava as 21:40 quando o Chefe de Estado recebeu o teste PCR com tal indicação, pode ler-se em nota divulgada pela Presidência da República Portuguesa. Marcelo encontrava-se assintomático e a trabalhar no Palácio de Belém, na zona residencial, onde está em isolamento profilático.
Recorde-se que este teste positivo surge após de dois testes antigénio ("teste rápido") negativos, pode ler-se também na nota divulgada.
Entretanto, ainda na noite de ontem, Marcelo Rebelo de Sousa respondeu ao inquérito epidemiológico do Delegado de Saúde e repetiu o teste PCR, que, soube-se hoje, deu negativo, como se pode ler numa outra nota.
No entanto, apesar deste teste negativo, "o Presidente da República mantém-se em isolamento e aguarda a realização de um teste confirmativo", pode ler-se.
Ainda no decorrer da manhã de hoje, nova nota publicada pela Presidência da República Portuguesa dá conta de que Marcelo Rebelo de Sousa já realizou um novo teste à presença do vírus, "cujo resultado deverá ser conhecido dentro de algumas horas".
O Presidente da República pode voltar a testar negativo no terceiro teste?
Ao SAPO24, Ricardo Mexia, médico de Saúde Pública e epidemiologista, e Nuno Saraiva, virologista e professor da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, concordam na ideia de que "um teste positivo é um teste positivo".
"Quem tem um teste positivo, tem um teste positivo. Estando assintomático, cumpre o isolamento", afirmou Ricardo Mexia, explicando que ao cidadão comum "não se fazem testes de repetição até ter um teste negativo". "Não é esse que é o procedimento, não é isso que está previsto", afirma.
Nuno Saraiva explica também que o teste para a Covid-19 analisa a presença de antigénio viral, ou seja, "de pedaços do vírus". Relativamente à possibilidade do teste negativo desta manhã ser um falso negativo, o virologista afirma que "o que acontece muitas vezes é que a recolha da amostra pode não ser feita da melhor forma ou que a carga viral, ou seja, a quantidade de vírus que existe nas vias respiratórias e nas zonas que são analisadas, não é suficiente para um resultado positivo".
No entanto, se é possível que um teste dê negativo mesmo que a pessoa esteja positiva, já será mais complicado o contrário. Ou seja, uma pessoa testar positivo encontrando-se negativa — apesar de ser possível em teoria, afirma Nuno Saraiva, por um erro no laboratório, por exemplo.
Para o professor da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias é possível que Marcelo Rebelo de Sousa se encontre num "limiar da positividade", o que fará com que, por vezes, dê negativo e, por outras, dê positivo. Pode estar relacionado com "flutuações na carga viral", explica ainda.
"Abaixo de uma determinada quantidade de vírus, o teste não o consegue detetar e isso não quer dizer que o indivíduo não esteja infetado", explicou Nuno Saraiva.
Marcelo Rebelo de Sousa deveria ter marcado presença nos debates presidenciais após contacto com um membro da sua Casa Civil que testou positivo à Covid-19?
Ricardo Mexia explicou que esta foi uma decisão da autoridade de saúde justificada pelas normas em vigor.
"Das duas uma, ou o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa estava em isolamento profilático ou não estava. E não estava", afirmou Ricardo Mexia, clarificando que o Presidente da República não era um caso de Covid-19 nem tinha sido colocado em isolamento.
Após o contacto com Paulo Magalhães, colaborador da Casa Civil que testou positivo, a avaliação que foi feita, explica Ricardo Mexia, indicou que Marcelo Rebelo de Sousa "seria um contacto de baixo risco". Assim sendo, os "contactos de baixo risco ficam em vigilância passiva: fazem a vida normal, devem evitar ajuntamentos, devem evitar grandes concentrações de pessoas e monitorizam o eventual surgimento de sintomas".
Rastreio de contactos, contacto de baixo ou alto risco
Tanto Ricardo Mexia como Nuno Saraiva alertam para o facto de ainda não se saber se este teste positivo se deveu ao contacto do Presidente da República com um caso positivo próximo, conhecido no dia seis de janeiro (dia do debate com André Ventura), ou se, por outro lado, se deve a um outro contacto não identificado.
Sobre os candidatos com que Marcelo Rebelo de Sousa debateu nos últimos dias, Ricardo Mexia aponta para a Norma nº 015/2020 de 24/07/2020 da DGS, sobre o rastreio de contactos.
Segundo esta normativa, "para efeitos do rastreio de contactos, o período de transmissibilidade estende-se desde 48 horas antes da data de início de sintomas do caso de Covid-19 sintomático ou da data da colheita do produto biológico do teste laboratorial do caso de Covid-19 assintomático até ao dia em que é estabelecida a cura do caso, definida nos termos da Normas 004/2020 e 010/2020 da DGS".
Deste modo, como explicou Ricardo Mexia, sendo Marcelo Rebelo de Sousa um caso assintomático de Covid-19, dever-se-á olhar para os contactos que teve 48 horas antes de ter realizado o teste que deu positivo.
Já Nuno Saraiva alerta para o facto de ainda existir "bastante" falta de informação científica quanto às possibilidades de transmissão dos assintomáticos, nada impedindo, em teoria, que um assintomático como Marcelo Rebelo de Sousa possa ter uma taxa de transmissão viral alta. "Será, se calhar, menos provável, mas não é impossível", afirmou.
De acordo com a norma da DGS, para que uma pessoa seja considerada contacto com exposição de baixo risco, como Marcelo Rebelo de Sousa foi no dia seis de janeiro, são ponderados vários critérios, recordando-se que "a duração do contacto com um caso de Covid-19 aumenta o risco de transmissão, pelo que é definido um limite de 15 minutos, de acordo com as recomendações internacionais, por questões de organização e exequibilidade":
- "Contacto frente a frente com um caso de Covid-19 a uma distância de menos de 2 metros e durante menos de 15 minutos";
- "Contacto em ambiente fechado com caso de Covid-19 durante menos de 15 minutos ou contacto protegido durante 15 minutos ou mais;
- "Viagem com caso de Covid-19 em qualquer meio de transporte, com exceção dos referidos na exposição de alto risco"
- "Contacto esporádico (em movimento/circulação) com caso de Covid-19";
- "Exposição associada a cuidados de saúde, sem prestação direta de cuidados a casos de Covid-19 sem utilização de EPI";
- "Exposição associada a cuidados de saúde, com prestação direta, protegida, de cuidados a casos de Covid-19 (isto é, com uso de EPI adequado à atividade assistencial respetiva, de acordo com a Norma 007/2020 ou a Orientação 019/2020)".
Ainda em acordo com esta norma, há certos pedidos a quem seja considerado contacto com exposição de baixo risco, como foi Marcelo Rebelo de Sousa, ficando em vigilância passiva durante 14 dias desde a data da última exposição ao contacto com vírus positivo:
- "Automonitorizar diariamente sintomas compatíveis com Covid-19";
- "Medir e registar a temperatura corporal, duas vezes por dia";
- "Implementar rigorosamente as medidas de distanciamento, higiene das mãos e etiqueta respiratória e a utilização de máscara de acordo com a Orientação 019/2020 e Informação 009/2020 da DGS";
- "Não frequentar locais com aglomerações de pessoas, mantendo a atividade laboral e assegurando o cumprimento da alínea anterior";
- "Autoisolar-se e contactar a Autoridade de Saúde responsável pela vigilância passiva (através do número telefónico fornecido por esta ao utente, no primeiro contacto), ou o SNS24, se surgirem sintomas compatíveis com Covid-19".
Cumprir ou não isolamento profilático. Eis a resposta aguardada pelos candidatos
O candidato presidencial do Chega, André Ventura, decidiu colocar-se “em isolamento profilático por segurança”, após ter estado num debate televisivo com o chefe de Estado.
A socialista Ana Gomes anunciou na sua conta Twitter que aguarda recomendações das autoridades de saúde. A dúvida é se a antiga eurodeputada socialista terá ou não de cumprir isolamento profilático, uma vez que teve um debate televisivo, na RTP, com Marcelo Rebelo de Sousa no sábado passado.
Marisa Matias escreveu também na sua conta de Twitter, dizendo que contactou a DGS e que não foi considerada contacto de risco, na medida em que a última vez que esteve com Marcelo Rebelo de Sousa foi no debate de dia 2. À Lusa, fonte da candidatura adiantou que a agenda presencial fica suspensa até ser conhecido o resultado do teste que Marisa Matias fez nesta segunda-feira.
O candidato do PCP, João Ferreira, cancelou as ações de campanha previstas para hoje, um encontro com a deputada socialista Isabel Moreira e uma iniciativa com a população em Almada, por causa da infeção do Presidente da República.
Tiago Mayan Gonçalves, à semelhança do que os outros candidatos também disseram, desejou as melhoras a Marcelo Rebelo de Sousa. O último contacto entre os dois candidatos ocorreu no passado dia 3 de janeiro, em debate na RTP.
Vitorino Silva contactou também a linha SNS24, por causa da infeção do presidente da República, e, como não foi considerado contacto de risco, vai continuar com a campanha eleitoral.
“Já falei com a SNS24 e, como não sou contacto de risco, posso continuar a campanha, com cuidados”, disse à agência Lusa o candidato, popularmente conhecido como “Tino de Rans”. O também dirigente do RIR (Reagir, Incluir e Reciclar) mantém por isso as ações de campanha previstas e acrescentou que “logo que tenha oportunidade” vai pedir para fazer um teste de deteção da presença do novo coronavírus.
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