“Não houve uma pergunta que eu tenha feito a que qualquer um deles tenha dito ‘não vou responder a isso’, e não houve uma linha que tivesse sido escrita que, depois de passar pelo crivo deles, tivessem dito ‘olha, eu disse isso, mas agora retira’. O que eles me disseram e o que eu escrevi é exatamente o que está no livro”, afirmou à Lusa a jornalista Ana Ventura, autora da biografia, que é hoje editada.
O livro, dividido em nove capítulos, recua a memórias ainda antes de a banda ser formada, com cada um dos atuais elementos - Jay, Pacman (que o público agora conhece como Carlão), Virgul, Guilhas, Quaresma e DJ Glue - a partilhar um pouco da sua própria história, e termina alguns meses depois do concerto de regresso aos palcos, em julho do ano passado no festival Alive, em Oeiras, no distrito de Lisboa.
Jay tinha 22 anos e Carlão 18 quando começaram a criar o que mais tarde seriam os Da Weasel. Nessa altura, “em circunstância alguma”, Jay pensou que a banda atingisse o estatuto que hoje tem.
“Quando começámos a compor, a criar as primeiras coisas, era mesmo para o espelho. Somos irmãos, eram as nossas brincadeiras. Projetávamos alguns cenários, porque é isso que o espelho faz, cria aquelas ilusões, mas não passavam disso mesmo, de ilusões. Nunca me passou pela cabeça que pudéssemos chegar onde chegámos”, disse, em entrevista à Lusa.
No livro, as histórias são todas contadas na primeira pessoa. Ana Ventura entrevistou os elementos do grupo em separado e, a cada capítulo que escrevia, ia juntando as várias peças do puzzle, dando ao leitor a ideia de ter acontecido um diálogo entre os seis.
Embora seja a autora da biografia, Ana Ventura quis ser “um veículo para a história” dos Da Weasel. “Queria mesmo pô-los a eles a contar a sua história”, afirmou.
Fã da abordagem de registo oral - é isso que enquanto leitora procura -, a jornalista salientou que “por muito interessante que seja” o que tem para dizer, “o que interessa realmente é o que eles têm para dizer”.
“Se eu colocasse isto numa narrativa de forma diferente, deixavam de ser eles a contar a sua história e passava a ser eu a contar a história deles, e não era isso que eu queria”, sublinhou.
Da história dos Da Weasel fizeram também parte a DJ Yen Sung e o músico Armando Teixeira, que acabaram por deixar a banda por motivos diferentes, explicados no livro.
Os dois não foram entrevistados para a biografia, por decisão de Ana Ventura. “É importante referir que foi uma decisão minha, enquanto autora”, sublinhou, explicando que a ideia do livro “é ser a biografia oficial dos Da Weasel atuais”.
“Da Weasel – Uma página da história” é “a história dos seis elementos que hoje, em 2023, fazem parte dos Da Weasel”.
Ao longo de quase 600 páginas, os músicos partilham muitos momentos bons, como os concertos que deram no Johnny Guitar e no Coliseu dos Recreios, ou quando atuaram no mesmo palco que os Beastie Boys ou os Red Hot Chili Peppers – bandas de referência para vários elementos da banda.
“Diria que celebrámos todos estes momentos com a maior alegria possível e foram momentos mágicos”, referiu Jay.
O concerto no festival Alive, no ano passado, que reuniu os seis em palco 13 anos depois do último concerto juntos, na Amadora em setembro de 2009, entra também para a lista de melhores momentos.
“Neste retorno, a coisa que mais me impressionou, a mim e a toda a gente, todos os técnicos, toda a malta da produção que estava no Alive, não foi a produção dos Da Weasel, foi o amor e o carinho que estava no ar. Foi incrível”, partilhou o músico.
Como em todas as histórias, também na dos Da Weasel houve momentos menos bons.
“Isto é como um casal. Os três primeiros aninhos são de uma forma, há quem diga que ao sétimo é que rebenta a bolha de uma série de situações. É exatamente a mesma coisa, e depois ou cedes, ou abraças, ou passas-te da cabeça. E passámos por essas situações todas, tal e qual um casal”, disse Jay.
Na biografia fica a saber-se que a banda acabou duas vezes, mas só uma das separações foi anunciada: a de 2010.
A primeira vez “foi algures entre o [álbum] ‘3º Capítulo’ (1999) e o ‘Podes fugir mas não te podes esconder’ (2001)”. Pelo meio, a banda editou “Iniciação a uma vida banal – O manual” (1999), um dos álbuns “mais ásperos, mais difíceis e mais complicados” da carreira.
“A nossa maior bênção foi termos crescido paulatinamente, grão a grão, mas os saltos entre os discos foram tão grandes, em termos de reconhecimento, de público, de impacto. E essa pressão, de álbum para álbum, colocou-nos numa situação de lidar com situações novas, com ‘tours’ cada vez maiores, mais tensas. E isso revela a personalidade de cada um”, partilhou.
Embora não editem temas novos desde 2007, muitos continuam atuais: “Recebemos esse ‘feedback’ dos próprios fãs: ‘É incrível como a música X parece que foi escrita hoje’, ‘é incrível como a música Y foi tirada de episódio que se passou ontem’”, contou Jay.
Para Ana Ventura conseguir que os seis elementos partilhassem histórias que até então tinham ficado apenas na ‘toca da doninha’ “estabeleceram-se vários patamares de confiança”.
“Primeiro, a confiança que eles tiveram em mim e na minha capacidade de contar a história deles, e depois na confiança que eles voltaram a depositar em mim para se abrirem com alguns dos temas que eventualmente poderiam ser mais sensíveis, mais pessoais. Mas acho que eles confiaram que seriam contados da forma certa, sem estar a escarafunchar em coisas que não fossem necessárias”, disse a jornalista.
Para Ana Ventura, escrever “Da Weasel – Uma página da história” foi como “fechar um círculo”, porque a “última grande entrevista” que fez quando ainda estava na redação da Blitz foi aos Da Weasel, “sobre o último álbum que editaram”.
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