As três pancadas da praxe tradicional, dadas com uma bengala especial nas cartolas coloridas dos estudantes finalistas, são ouvidas de todos os lados da Trindade, junto à Rua Camões, e debaixo do Viaduto de Gonçalo Cristóvão, porque é dali que o cortejo académico da Queima das Fitas do Porto parte até aos Aliados.
Os milhares de estudantes aglomeram-se para tirar fotografias e para receber bengaladas e abraços de felicidades dos colegas.
Natacha Alves, finalista do curso de Medicina e que deseja ser cardiologista ou pediatra, contava à agência Lusa que estava a chorar, porque a sua mãe lhe deu um abraço e lhe disse que tinha muito orgulho nela.
“Desejou me toda a felicidade e eu não contive a emoção”, conta, explicando que fazer o curso com uma pandemia pelo meio foi “difícil”, principalmente por causa da componente mais prática que obrigava a estar no hospital e que a covid-19 veio limitar as aulas práticas.
“As aulas 'online', porém, podíamos ver quando quiséssemos, dava para pôr em pausa e tirar apontamentos. Isso foi bom”, acrescentou.
Francisca Mendes, 23 anos e estudante finalista de Medicina, confessa que ainda não sabe qual a especialidade que vai tirar, mas garante que em qualquer uma vai ser muito feliz.
Questionada sobre o que foi mais difícil no curso com a pandemia da covid-19, Francisca explica que manter a motivação foi o truque para “não desistir”.
Eu apanhei a pandemia mesmo a meio do curso e foi uma altura muito má, mas agora tudo compensa. A parte prática no hospital foi muito mais difícil e o retomar à normalidade foi muito difícil, recorda, assumindo que está muito feliz e “sem palavras" para descrever o que sente ao participar no cortejo académico da Queima do Porto.
Enquanto esperavam debaixo no Viaduto de Gonçalo Cristóvão, alguns estudantes ensaiavam a “Balada da Despedida”, “Amores de Estudante” ou “Ondas do Douro”, como era o caso de Henrique Castro, 20 anos, estudante de engenharia eletrotécnica na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
“Eu gostava de ser engenheiro, estou a meio do curso, vamos lá a ver se termino a tempo para pôr a minha avó orgulhosa e o resto da minha família orgulhosa”, revela Henrique, reconhecendo que os dois anos de pandemia foram complicados, porque apanhou o ano de caloiro (1º ano).
Hoje no Cortejo Henrique estava emocionado.
“Estes momentos fazem-me perceber que existem momentos bons na vida e devo aproveitar e na verdade, se calhar, ainda bem que tive a pandemia para realmente aproveitar este cortejo”.
Enquanto apanhava com as bengaladas das colegas, Pedro, 22 anos, no mestrado em Finanças na Faculdade de Economia do Porto e membro do Orfeão Universitário do Porto, conta que as maiores dificuldades durante o curso foi a interrupção das atividades presenciais por causa da covid-19.
“Não só as aulas, mas todo o convívio que vem por acréscimo na academia e na vida de faculdade foi cancelado, e isso para nós foi muito difícil”.
O estudante de finanças considera que as pessoas que entraram após a pandemia se estão a envolver mais nas atividades académicas. “Nota-se uma grande energia e um grande envolvimento. Estou muito feliz”, concluiu.
Numa faixa de cerca de dois metros de comprimento, que estava pendurada no Viaduto Gonçalo Cristóvão, podia ler-se a frase “Faculdade de Medicina é mais antiga que a Universidade do Porto” e, ao lado, outra frase onde se lia “Rejubilando por ti, ICBAS”.
Em baixo do viaduto, Maria Inês Carvalho, 22 anos, a terminar o mestrado em comunicação e gestão de industrias criativas na Faculdade de Letras do Porto, traz uma guitarra ao peito e revela que foi complicado estudar durante a pandemia.
“Tudo feito por 'zoom' (plataforma digital para comunicar em tempo real), foi um bocadinho mais complicado, mas acho que se conseguiu resolver”, Maria Inês, que integra também o Órfão do Porto, e que salienta que participar na vida académica é uma das melhores formas de “completar o percurso académico”.
“É ai que se fazem novas experiências, é ai que se fazem as melhores amizades, é aí que ganhamos outras capacidades e ‘soft skills’ para o nosso futuro e é sem dúvida necessário”, assegura a finalista de Letras, considerando o cortejo académico como o “culminar de cinco anos de trabalho, de dedicação, de muitas horas desesperadas a estudar.
Durante o cortejo académico ainda houve tempo para uma serenata aos utentes da Ordem da Trindade e houve até lágrimas ao ouvir o “Menina estás à janela”, do Vitorino.
Milhares de telemóveis para captar o momento único da vida estudantil dos filhos e milhares de ramos de flores para entregar aos futuros doutores de Portugal.
Os finalistas dos vários cursos foram passando pela tribuna, junto da Câmara do Porto, pelas 16:00.
A Queima das Fitas do Porto regressou em 2022, entre 1 a 7 de maio, depois de ter sido cancelada os dois anos anteriores, devido à pandemia.
O cortejo académico da Queima das Fitas do Porto vai condicionar o trânsito em várias ruas da baixa da cidade até às 22:00.
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Em 2022, a Queima das Fitas acolheu mais de “300 mil pessoas” nas oito noites de festa, três noites das quais esgotaram.
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