A Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS Portugal) afirma, em comunicado, que desde que foi criada, em 2011, a Côa Parque - Fundação para a Salvaguarda e Valorização do Vale do Côa, "o Museu e sobretudo o Parque Arqueológico sofrem de uma gestão ineficaz e de uma crónica falta de recursos humanos e financeiros".
Esta situação, segundo o ICOMOS Portugal, "acabou por resultar no ato de vandalismo que é do conhecimento público" que, "pela sua gravidade, poderá ser comparado ao rasgar da Gioconda", pois, "tal como essa excecional obra da Renascença, as gravuras paleolíticas com mais de 15 mil anos, agora atingidas, representam um património artístico e simbólico incomparável, tendo por isso merecido, em 1998, a sua inclusão na Lista do Património da Humanidade".
A Fundação Coa Parque deu a conhecer, no final de abril, um "inqualificável" atentado contra uma das rochas do parque arqueológico, na qual está representada uma figura humana com cerca de 15 mil anos.
"Fomos surpreendidos com a descoberta de novíssimas gravações de uma bicicleta, de um humano esquemático e da palavra 'BIK', diretamente sobre o conhecidíssimo conjunto" em que se encontra "o famoso 'Homem de Piscos', a mais notável das representações antropomórficas paleolíticas identificadas no Vale do Coa", disse à Lusa, na altura, o diretor do parque arqueológico, António Baptista.
O ICOMOS Portugal afirma que, antes deste incidente, já manifestara o seu "desacordo pela manutenção da Fundação como entidade gestora" do parque e do respetivo museu, considerando que, "dada a natureza do Bem" em causa, que é património mundial, este deveria "ser mantido sob a tutela direta do Ministério da Cultura".
No comunicado assinado pela sua presidente, a historiadora Maria de Magalhães Ramalho, o ICOMOS Portugal adianta que já comunicou o sucedido ao ICOMOS Internacional, assim como à Comissão Nacional da UNESCO, tendo solicitado à tutela da Cultura a reposição, "com caráter de urgência", da vigilância no parque, para evitar outros eventuais ataques.
Na quinta-feira, o grupo parlamentar do PCP requereu a audição do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, para dar explicações sobre os atos de vandalismo nas gravuras do Côa.
Os comunistas também querem ouvir o ICOMOS Portugal, além de representantes da Comissão de Trabalhadores da Fundação Côa Parque, da Associação dos Arqueólogos Portugueses e do ICOM Portugal, representação portuguesa do Conselho Internacional de Museus.
A situação do Parque Arqueológico do Côa foi igualmente criticada pela Associação dos Arqueólogos Portugueses (AAP), na quinta-feira, que se manifestou indignada com o "criminoso atentado" e reclamou a intervenção direta do Ministério da Cultura, "de modo a assegurar a reposição imediata, e até o reforço do dispositivo de vigilância e segurança dos vários núcleos de arte rupestre que o integram".
Quando foram conhecidos os atos de vandalismo, a Lusa questionou o ministro da Cultura sobre a falta de segurança do parque, tendo Luís Castro Mendes referido que “toda a gente” se queixa de falta de vigilância, admitindo porém que, se dissesse que está tudo bem, estaria a ser “incorreto”.
“Vivemos anos de cortes brutais em todas as estruturas da Cultura, seria impossível que, num ano, estivesse tudo remediado", considerou.
“Isto mostra a vantagem de termos uma nova estrutura que está praticamente pronta, a fundação está constituída, os estatutos estão aprovados, estão nomeados os representantes dos vários ministérios e, agora, vamos entrar a trabalhar muito seriamente a partir do fim deste mês”.
No início de abril, com a aprovação dos novos estatutos, o Governo estendeu aos ministérios da Ciência, do Turismo e do Ambiente, assim como à autarquia local e à Associação de Municípios do Vale do Côa, a representação na fundação Coa Parque, aguardando-se ainda a constituição do conselho de administração.
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