• Após um segundo dia de grande tensão em Caracas, as Forças Armadas da Venezuela (FAV) confirmaram na quinta-feira, dia 2, a sua lealdade ao Presidente Nicolás Maduro, durante um ato no Forte de Tiúna, a principal base militar de Caracas, em que participaram, segundo fontes governamentais, 4.500 oficiais.
  • Mais de 50 pessoas ficaram feridas em Caracas durante o segundo dia de protestos contra o Governo do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciaram fontes médico-sanitárias. No entanto, a organização não governamental Observatório de Conflitos (OVCS), fala numa morte de uma mulher na quarta-feira, dia 1 — não confirmada até ao momento — durante o segundo dia de protestos contra o Governo do Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
  • "Hoje continuamos", tinha apelado na manhã desta quarta-feira, dia 1, o autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, na rede social Twitter.
  • Após um primeiro dia de protestos mas sem ter o apoio necessário para abalar o regime de Nicolás Maduro, o presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, publicou uma mensagem nas redes sociais, onde diz que Maduro "não tem o apoio nem o respeito das Forças Armadas", tendo apelado os venezuelanos a voltar a manifestar-se porque "o protesto gera resultados". "Amanhã [1.º de Maio] , todo o povo da Venezuela tem de ir para as ruas", disse.
  • Nicolás Maduro falou pouco depois de ter sido divulgada a mensagem de Guaidó. Por volta das 21h00 em Caracas (madrugada em Lisboa) garantiu ao país que o "golpe" foi derrotado e os envolvidos "interrogados". Ao lado de Maduro estava o ministro da Defesa Vladimir Padrino, contrariando a ideia de que algumas figuras-chave do seu governo estivessem a abandoná-lo.
  • Recorde-se que a 30 de abril, Juan Guaidó, anunciou ao país e ao mundo que os militares tinham dado “finalmente de vez o passo” para acompanhá-lo e conseguir "o fim definitivo da usurpação” do Governo do Presidente Nicolás Maduro. "O 1 de maio, o fim definitivo de usurpação começou hoje", disse Guaidó num vídeo publicado na sua conta na rede social Twitter, no qual se podia ver o Presidente interino com um grupo de soldados na base de La Carlota, a leste de Caracas. Guaidó apelou ainda à mobilização popular: "a todos aqueles que estão a ouvir-nos: é o momento, o momento é agora, não só de calma, mas de coragem e sanidade para que chegue a sanidade à Venezuela. Deus os abençoe, estamos a avançar. Vamos recuperar a democracia e a liberdade na Venezuela";
  • A iniciativa de Guaidó ficou 'batizada' como "Operação Liberdade". Lenços azuis identificam militares leais a Guaidó;
  • Nicolás Maduro garantiu num primeiro momento, horas antes da sua declaração ao país, através do Twitter, que não perdeu o apoio dos militares e apelou à mobilização popular: "Nervos de aço! Conversei com os comandantes de todas as REDI e ZODI [chefes militares] do país, que me manifestaram a sua total lealdade ao Povo, à Constituição e à Pátria. Apelo à máxima mobilização popular para assegurar a vitória da Paz. Venceremos!"
  • Numa demonstração de força e influência, às ordens de Juan Guaidó foi libertado de prisão domiciliária o general Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular (VP), condenado a 14 anos de prisão pelos incidentes durante uma manifestação da oposição em 2014. Guaidó disse que López foi posto em liberdade por funcionários do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebon, serviços secretos), que cumpriram a sua “ordem”, após lhes ter oferecido “amnistia e garantia de indultos”;
  • Ainda durante a tarde de terça-feira, Juan Guaidó acabou por sair da base de La Carlota rumo a Altamira, em Caracas, onde discursou perante apoiantes: "Hoje é claro para nós que as Forças Armadas estão com as pessoas e não com o ditador";
  • Centenas responderam à chamada de Guaidó e tomaram as ruas de Caracas e de Valência (a 150km de Caracas), onde se registam confrontos com militares leais a Maduro — veículos militares avançaram sobre civis (imagens que podem ferir a sensibilidade de pessoas mais sensíveis) e gás lacrimogéneo foi usado contra os militares afetos a Guaidó nos arredores da base de La Carlota. De acordo com o El País, 18 horas depois de ter sido iniciada a ofensiva de Guaidó, mantinham-se os confrontos na ponte de Altamira e junto à base de La Carlota, onde as autoridades utilizaram de gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes. No entanto, eram cada vez mais os apoiantes de Maduro a ajuntar-se no palácio de Miraflores, sede do poder executivo;
  • Segundo a Reuters, chegaram a ser trocados tiros entre os militares depois do comício de Juan Guaidó, mas sem registo de vítimas mortais. O balanço indicado pelas fontes médico-sanitárias do país na terça-feira regista pelos menos 69 feridos nos protestos em Caracas, sendo que a maioria susteve ferimentos de balas de borracha disparadas pelas autoridades maduristas. Uma mulher terá sido ferida com uma bala no abdómen, proveniente de uma arma de fogo. Existem relatos de que os Coletivos - grupos paramilitares afetos a Maduro - efetuaram disparos sobre a multidão;
  • Leopoldo López e a sua família, entretanto, estiveram refugiados na Embaixada do Chile em Caracas, mas já abandonaram as instalações, tendo-se mudado para a Embaixada de Espanha, segundo twittou o ministro dos Negócios Estrangeiros chileno, Roberto Ampuero. López tinha sido recebido inicialmente enquanto "convidado", mas, mais tarde, Ampuero disse que o membro da oposição e a sua família se encontravam "debaixo de proteção diplomática chilena";
  • Várias informações de teor contraditório circularam ao longo do primeiro dia. Por um lado, Mike Pompeo, Secretário de Estado dos EUA, disse numa entrevista à CNN que Maduro estava disposto a abandonar a Venezuela para se refugiar em Cuba, mas que a Rússia o convenceu a ficar — informações que Maduro depois negou no seu discurso ao país. Já o embaixador da Venezuela nas Nações Unidas, Samuel Moncada, disse, citado pela Associated Press, que as forças de Maduro "derrotaram" Guaidó e os seus apoiantes e que "o país encontra-se num estado de perfeita normalidade";
  • Durante a tarde de terça-feira, alguns venezuelanos indicaram, ao longo do dia, que perderam o acesso a redes sociais (como o Twitter, o YouTube ou o Facebook), enquanto as comunicações telefónicas estiveram muitas vezes interrompidas. Canais como a CNN e a BBC também registaram paragens;
  • O El País cita Alfredo Romero, diretor da ONG de apoio jurídico Foro Penal, para informar que, pelo menos, 25 pessoas foram detidas em sete estados do país por resultado das manifestações contra Maduro;
  • O ministro da Defesa da Venezuela, o general Vladimir Padrino, confirmou também na sua conta de Twitter que o coronel Yerzon Jimenez Baez, chefe de operações de um ramo militar fiel a Maduro, foi ferido por uma bala, numa autoestrada perto de Caracas, responsabilizando a oposição por este ato. “Denuncio a violenta agressão a que (Baez) foi sujeito”, escreveu Padrino, considerando que estes atos podem agora multiplicar-se e serão responsabilidade da oposição.
  • De acordo com a jornalista venezuelana Luz Mel Reyes, co-fundadora do website noticioso Efecto Cocuyo, Guaidó tinha planeado avançar com a "Operação Liberdade" noutra data, mas teve de antecipá-la ao descobrir que o Governo venezuelano estava prestes a proceder à sua detenção. Mel Reyes completa ainda que o líder autoproclamado tinha mais apoio dos militares, mas que, dado o caráter repentino desta medida, muitos deles acabaram por retirá-lo;
  • O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, disse hoje que os cidadãos nacionais que tenham dificuldades em contactar as famílias na Venezuela devem recorrer à embaixada ou aos movimentos associativos da comunidade lusófona naquele país;
  • Pelo menos 15 menores, entre os 14 e os 17 anos, ficaram feridos nos protestos de hoje na Venezuela, informou a UNICEF, que pediu proteção para os que participam nas manifestações. “Os protestos potencialmente violentos nas ruas da Venezuela estão a expor os jovens a lesões e a danos”, diz-se num comunicado de Henrietta Fore, a diretora executiva da agência da ONU para a infância, no qual pede a todos os envolvidos que tomem medidas imediatas para proteger as crianças de “qualquer tipo de violência”.

As reações ao levantamento na Venezuela

  • A primeira reação ao levantamento de Guaidó veio da parte do ministro da Informação Jorge Rodriguez, que caracterizou da seguinte forma esta "Operação Liberdade": "Informamos o povo da Venezuela que neste momento estamos a enfrentar e desativar um reduzido grupo de militares traidores que se posicionaram no Distribuidor Altamira (leste de Caracas), para promover um golpe de Estado contra a Constituição e a paz da República", anunciou o ministro venezuelano de Comunicação e Informação na sua conta do Twitter;
  • Através do Twitter, a Assembleia Nacional, órgão em que a oposição tem maioria, escreveu que "chegou a fase final da 'Operação Liberdade'. Preparámos-nos e organizámos-nos e estamos prontos para conquistar a liberdade na Venezuela";
  • Já o Presidente da Assembleia Nacional Constituinte (ANC) da Venezuela, Diosdado Cabello, pediu aos partidários ‘chavistas’ que se concentrem nos arredores do palácio presidencial para "defender" a revolução perante o "plano golpista" contra o Governo de Nicolás Maduro. "Convidamos todo o povo de Caracas, venham para o palácio de Miraflores, aqui estamos, se Deus quiser. Venham a Miraflores para nos encontrar no palácio a defender a revolução, defender o nosso povo, imediatamente", declarou num ao canal estatal VTV;
  • Vladimir Padrino responsabilizou a oposição por um eventual "derramamento de sangue". "Eu considero-os responsáveis por qualquer ato de violência, morte ou derramamento de sangue", disse Padrino num discurso junto do alto comando militar no qual reiterou o seu apoio a Maduro;
  • Somam-se as demonstrações de apoio e de oposição a Maduro em vários pontos do globo, de Madrid a Miami, passando pela Cidade do México e por Buenos Aires;
  • O embaixador de Guaidó para os Estados Unidos, Carlos Vecchio, garantiu que "isto é só o início". Mike Pence, vice-presidente dos Estados Unidos, deixou uma nota de solidariedade: "A Juan Guaidó, à Assembleia Nacional e a todas as pessoas da Venezuela que amam a liberdade e que estão a ir para as ruas hoje na 'Operação Liberdade': estamos convosco!  A América vai ficar ao vosso lado até que a liberdade e a democracia sejam restauradas". Também o presidente dos EUA, Donald Trump, disse estar a acompanhar a situação "muito de perto", afirmando que o seu país "apoia o povo da Venezuela e a sua liberdade!";
  • John Bolton, Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos da América, revelou que três figuras de topo ligadas a Nicolás Maduro - o ministro da Defesa, o presidente do Supremo Tribunal e o comandante da Guarda Presidencial - estiveram em conversações para proceder uma transição pacífica de poder na Venezuela e reforçou que "todas as opções estão sobre a mesa" para acabar com o impasse político no país.
  • Em resposta aos apelos dos EUA, o ministro dos Negócios Estrangeiros venezuelano Jorge Arreaza culpou o governo de Donald Trump de ter engendrado os protestos, recorrendo ao Twitter para dizer que "a administração Trump, no seu desespero, procura criar um conflito interno na Venezuela".
  • O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu contenção das duas partes para evitar uma escalada da violência na Venezuela. De acordo com o seu porta-voz, Stephane Dujarric, o secretário-geral "urge a todos os lados para praticar a máxima contenção e apela a todas as partes interessadas a evitar qualquer violência e a tomar passos imediatos para restaurar a calma";
  • Antonio Tajani, presidente do Parlamento Europeu, foi dos primeiros a reagir, através do Twitter: "Hoje, 30 de abril, marca um momento histórico para o regresso da democracia e da liberdade na Venezuela, que Parlamento Europeu sempre tem apoiado. A libertação do Prémio Sakharov Leopoldo Lopez por militares à ordem da Constituição é uma grande notícia" Vamos Venezuela livre!"
  • No entanto, a União Europeia, através da chefe da diplomacia, Federica Mogherini, exigiu “máxima contenção”, de modo a evitar a perda de vidas, considerando que a solução para a crise que o país enfrenta tem de ser encontrada de forma “política, pacífica e democrática”;
  • O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, um dos primeiros a tornar público o seu apoio a Guaidó, escreveu no Twitter: "Saudamos a adesão dos militares à Constituição e ao Presidente encarregado da #Venezuela. É necessário o pleno apoio ao processo de transição democrática de forma pacífica";
  • O Presidente do Brasil convocou uma reunião de emergência para discutir a situação na Venezuela. Jair Bolsonaro manifestou ainda a sua solidariedade com o povo venezuelano, considerando o seu homólogo um ditador, que escraviza a sua própria população. No Twitter escreveu: "O Brasil se solidariza com o sofrido povo venezuelano escravizado por um ditador apoiado pelo PT, PSOL e alinhados ideológicos. Apoiamos a liberdade desta nação irmã para que finalmente vivam uma verdadeira democracia". O líder brasileiro deixou claro, contudo, que não vai apoiar uma intervenção militar, pelo menos durante esta noite;

  • A Rússia acusou a oposição venezuelana de alimentar o conflito político no país e pediu negociações para evitar um banho de sangue. "A oposição radical na Venezuela usou mais uma vez de métodos severos de confronto" que apenas "alimentam o conflito", criticou o Ministério do Exterior da Rússia em comunicado;
  • Presidente da Bolívia, Evo Morales, através do Twitter, "condenou energicamente" esta "tentativa de golpe de Estado na Venezuela por parte da direita submissa a interesses estrangeiros";

  • O presidente cubano Miguel Díaz-Canel Bermúdez critica "este movimento golpista que pretende trazer violência ao país. Os traidores colocaram-se à frente deste movimento subversivo", escreveu no Twitter;
  • O presidente colombiano, Iván Duque, pediu aos militares na Venezuela que se unam a Guaidó: "Lançamos um apelo aos militares e ao povo da Venezuela para que se coloquem do lado certo da história, rejeitando a ditadura e a usurpação de Maduro", escreveu no Twitter;
  • "Reiteramos o nosso total apoio ao Presidente Guaidó e à democracia na Venezuela. A ditadura de Maduro deve terminar pela força pacífica, e dentro da Constituição, do povo venezuelano. Assim serão restabelecidas as liberdades, a democracia, os direitos Humanos e o progresso na #Venezuela", escreveu o presidente do Chile, Sebastián Piñera, no Twitter;
  • O governo mexicano "manifesta a sua preocupação com a possível escalada de violência e derramamento de sangue que pode ocorrer", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros do México num comunicado, reiterando o desejo de encontrar "uma solução pacífica, democrática e mediante o diálogo para essa crise", indicando que está em contato com 16 países que compõem o Mecanismo de Montevidéu para a busca de uma solução comum;
  • Aliado de Maduro, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, condenou a "tentativa de golpe" na Venezuela."Como país que lutou contra golpes de Estado e que experimentou as consequências negativas causadas por golpes, condenamos a tentativa de golpe na Venezuela" disse Erdogan pelo Twitter;
  • O Grupo de Lima - formado em 2017 e que reúne responsáveis diplomáticos de governos de 12 países da América, (Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru) - vai reunir-se na sexta-feira na capital peruana para avaliar com urgência a crise na Venezuela;
  • O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, apelou a uma solução pacífica. "Politicamente, Portugal mantém o apoio a uma solução pacifica e política na Venezuela, que do nosso ponto de vista passa necessariamente pela convocação de novas eleições", afirmou à agência Lusa, em Xangai, onde se encontra em visita oficial, Santos Silva;
  • Marcelo Rebelo de Sousa, subscreveu tudo o que disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, sobre a situação da Venezuela, congratulando-se por não haver "preocupações específicas quanto aos portugueses"
  • O Grupo Internacional de Contacto defendeu uma solução "política, pacífica e democrática" para a crise política que voltou a deflagrar na Venezuela, expressando também a oposição ao uso da força pelas forças de segurança.
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23 de janeiro, o início da mudança

A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder do parlamento, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio da maioria da comunidade internacional e prometeu formar um Governo de transição e organizar eleições livres. A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.

Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou mais de 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados da ONU.

Na Venezuela residem cerca de 300 mil portugueses ou luso-descendentes.

*com agências

(Notícia atualizada às 14:32 de 2/05/2019)