Este ano, a Associação Mulher Século XXI registou uma diminuição dos novos casos, passando de 197 para 165 – até outubro deste ano. A presidente Susana Ramos Pereira afirmou à agência Lusa que os números não espelham a realidade.

“Acreditamos que a diminuição está a acontecer devido a dois fatores: a crise económica e a habitacional, que impede as vítimas de conseguirem tentar uma nova vida sozinhas”, referiu.

Segundo Susana Ramos Pereira, a casa de acolhimento de emergência da Mulher Século XXI tem como finalidade receber as vítimas por um período de 15 dias, que se podem prolongar por outros 15. “É um período para acalmar as mulheres, mostrar que estamos com elas e tentar ajudá-las a iniciar o processo de divórcio e regulação do poder paternal para que possam recomeçar numa casa abrigo”, explicou.

No entanto, a presidente desta associação não-governamental e sem fins lucrativos revelou que a casa de acolhimento registou um número máximo de permanência de 197 dias, o mais alto dos últimos três anos. O tempo médio das mulheres e crianças naquela resposta foi de 34 dias em 2023.

Se é vítima de violência doméstica ou conhece alguém que seja, as seguintes linhas de apoio podem ajudar

APAV | Associação Portuguesa de Apoio à Vítima

tel. 116 006 (telefonema gratuito, das 08h00 às 2h00)

Guarda Nacional Republicana (GNR)

A Plataforma SMS Segurança foi desenvolvida para dar resposta quer a pessoas surdas ou portadoras de deficiência auditiva como para situações de urgência em que o tradicional canal de voz não seja o mais adequado:  tel. 961 010 200

Centro de Saúde ou Hospital da zona de Residência (Portal da Saúde)

SNS 24 (808 24 24 24), disponível todos os dias, 24 horas por dia

Número Nacional de Socorro (112)

Linha Nacional de Emergência Social (tel. 144, disponível todos os dias, 24 horas por dia)

Linha da Segurança Social (tel. 300 502 502)

Susana Ramos Pereira constatou ainda que a situação é transversal às casas abrigo, onde as vítimas podem permanecer por seis meses, período que se pode prolongar por outros seis. “Com a crise habitacional estamos a verificar que as vítimas não têm para onde ir, logo não abrem novas vagas nas casas abrigo, o que faz com que não possam entrar mais pessoas”, lamentou.

A responsável exemplificou com a resposta de emergência de Leiria, que este ano acolheu 50 vítimas número inferior às 69 do ano passado.

“As entidades como nós têm cada vez mais dificuldades em se financiarem, já que dependem de candidaturas a fundos europeus, com requisitos desproporcionais face à nossa estrutura organizativa. O Programa 2030 ainda não está a pagamento e a Associação Mulher Século XXI está quase sem dinheiro para sobreviver”, alertou ainda Susana Ramos Pereira.

A presidente apelou, por isso, que existe uma dotação inscrita no Orçamento do Estado para estas associações, que “prestam serviços essenciais ao país”.

No sábado, dia 25, data em que se assinala o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, a Mulher Século XXI lança a campanha solidária “Basta – É hora de ajudar!”.

A campanha, desenvolvida em parceria com a agência de publicidade Sistema4 e com o apoio institucional do Município de Leiria, gira em torno da ORANGE BOX – Presentes para Ajudar, um espaço inserido no Leiria Natal, que será inaugurado no dia 25, onde podem ser adquiridos presentes surpresa para oferecer este Natal, a partir de cinco euros.

Susana Ramos Pereira adiantou que o valor angariado neste espaço irá suportar a aquisição de um veículo.

“Vamos a muitas escolas e prestamos apoio psicológico a muitas crianças. Este ano já realizámos 880 atendimentos, número que mais do que duplicou em comparação com o ano passado [389]”, disse.

A ORANGE BOX - Presentes para Ajudar estará em funcionamento, junto à Sé de Leiria, todas as sextas (18:00 e as 22:00), sábados (10:00 e as 22:00) e domingos (13:00 e as 19:00) até ao dia 23 de dezembro.

Entre janeiro e 22 de outubro de 2023, em todo o país, 15 mulheres perderam a vida em contexto de femicídio, dez delas tinham filhos menores, que ficaram órfãos, refere um comunicado da Mulher Século XXI.

O Relatório do Observatório de Mulheres Assassinadas nota que 25 mulheres morreram entre janeiro e 22 de novembro em Portugal, mas dez dos casos sem causas de género associadas. Em período homólogo de 2022, houve 28 assassinatos de mulheres, dos quais 22 femicídios, acrescenta a nota enviada à Lusa.