Em Alvalade, o dia foi de recorde: foram as eleições mais concorridas de sempre do Sporting CP, quase 30 anos depois do sufrágio que elegeu Jorge Gonçalves como presidente do clube leonino. Na altura, em 1988, votaram cerca de 17 mil sócios. Hoje, o número foi de mais de 18 mil votantes.
Às 9 da manhã, quando abriram as urnas, o tempo, sempre inimigo de eleições, parecia não ajudar à chamada que ambos os candidatos à presidência foram fazendo durante a campanha.
Com o sol, que apareceu com mais força a meio da manhã, chegaram também muitos sócios. Aos magotes. Em filas gigantes que chegaram a dar a volta ao estádio.
O primeiro dos candidatos a votar foi Pedro Madeira Rodrigues. O ex-secretário-geral da Câmara do Comércio e da Indústria Portuguesa mostrava-se confiante à entrada para a zona de votação, elegendo a resolução do problema de um fosso que "já farta" como a sua primeira medida e considerando que uma eventual rescisão com Jorge Jesus não seria uma “dor de cabeça", para além de ter confirmado, “sem qualquer dúvida”, que Taison (jogador brasileiro do Shakhtar Donetsk, treinado por Paulo Fonseca), seria reforço dos verde-e-brancos caso fosse eleito presidente.
Depois de Madeira Rodrigues, chegou a vez de Bruno de Carvalho. Acompanhado das filhas, da namorada e de Vicente Moura, seu vice-presidente para as Modalidades, o homem que se vai manter à frente do Sporting CP chegou já numa altura em que a fila era já bastante extensa.
Ao longo do percurso, era visível a popularidade do presidente leonino reeleito, sempre muito solicitado para dar autógrafos e tirar fotografias com os adeptos. Era quase como um presságio para o que estava para vir.
Depois de votar, aquele que esta semana foi chamado de “Donald Trump do futebol” por um jornal inglês, dirigiu-se aos jornalistas e mostrou-se satisfeito pela grande afluência às urnas. “É uma alegria tremenda ver esta vitalidade no clube”, disse Bruno de Carvalho, lembrando também que “não é um dia dos candidatos”, mas sim “dos sportinguistas”.
Depois de votar, o sobrinho-neto de Pinheiro de Azevedo permaneceu nas imediações do estádio dos leões e criou uma outra fila: a das pessoas que queriam falar e tirar uma fotografia consigo.
A manhã de candidatos ficou completa com o voto de Gonçalo Nascimento Rodrigues. O homem que encabeçou a Lista C, candidata apenas ao Conselho Leonino, mostrava-se “emocionado” com o número de pessoas que se deslocavam a Alvalade. “Sempre esperei uma grande mobilização dos sportinguistas”, disse Gonçalo Nascimento Rodrigues, lembrando que “não é possível” desunir o Sporting e os seus adeptos.
Desfile de notáveis
Ao longo do dia, foram muito os notáveis que passaram por Alvalade para exercer o seu direito de voto. De José Maria Ricciardi, que disse que o Sporting estava a "dar uma grande prova de vitalidade”, passando pelo advogado e antigo dirigente leonino Dias Ferreira; do comentador sportinguista Rui Oliveira e Costa a Carmona Rodrigues, ex-presidente da Câmara de Lisboa.
Uma das declarações (polémicas) do dia pertenceu a Daniel Oliveira. O ex-deputado do Bloco de Esquerda e comentador do programa da SIC Notícias “Eixo do Mal” não teve problemas em afirmar que "neste momento o Sporting é, dos três grandes, o único clube verdadeiramente democrático em Portugal".
Também o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, passou por Alvalade, admitindo que os seus 67 anos de sócio do Sporting CP e de vida (por esta ordem...) não permitiam ficar em casa e não exercer o seu direito de voto.
Recorde afluência às urnas de quase 30 anos foi batido
"É uma coisa extraordinária o que estamos a viver hoje em Alvalade". Era assim que, por volta das 18h00 de sábado, Jaime Marta Soares fazia a atualização do número de votantes em Alvalade.
A essa hora, o recorde de número de sócios a participar numa eleição do clube leonino parecia já uma realidade. E foi já pouco depois das 22h00 que o número oficial surgiu oficialmente: 18.755 votantes válidos, recorde batido em Alvalade. A maior votação de sempre numa eleição presidencial do clube leonino tinha acabado de acontecer e só não foi superior devido ao número de votos inválidos (cerca de 1.400). No total, mais de 20 mil pessoas votaram nestas eleições do clube.
Depois desta comunicação, faltavam contar os votos por correspondência (o voto eletrónico é obviamente contado de forma automática), pelo que a contagem decrescente para a descoberta do vencedor das eleições mais concorridas de sempre estava próxima.
Explosivo, corrosivo e adorado
O SAPO24 escreveu que Bruno de Carvalho era o homem que concretizou um “sonho de menino” (parafraseando Tony Carreira) e que se conseguiu sentar na “cadeira de sonho” (parafraseando André Villas Boas).
Contudo, o presidente-de-mandato-renovado Bruno de Carvalho é tudo menos alguém que precise de parafrasear outros. Pelo contrário. Muitas das suas declarações, muitas vezes explosivas, servem de parangonas em muitos jornais desportivos.
Odiado por rivais, mas amado por grande parte do universo sportinguista, o presidente leonino conseguiu, em quatro anos, a árdua tarefa de unir o universo leonino em torno de um nome, algo historicamente complicado num clube que nos últimos anos sempre teve muita gente com desejo subir ao lugar mais alto da hierarquia do clube.
Depois de duas primeiras épocas dignas (com uma vitória na Taça de Portugal em 2015), a terceira temporada com Bruno de Carvalho ao comando do Sporting CP começou com uma bomba: Jorge Jesus, treinador do maior rival dos leões, chegava a Alvalade depois de seis épocas ao serviço do SL Benfica, onde venceu três campeonatos nacionais. Com uma primeira época em que bateu o recorde de pontos do Sporting CP no campeonato (que, ainda assim, não chegou para a vitória final), esta época futebolística não correu bem, com o clube leonino a chegar a esta altura arredado da possibilidade de conquistar títulos (o campeonato nacional é uma miragem, ainda que ainda faltem alguns jogos para o seu término).
Contudo, como se verificou esta noite, tal não foi suficiente para os sportinguistas deixarem de confiar em Bruno de Carvalho.
Passavam poucos minutos das 23h00 quando Jaime Marta Soares se dirigiu ao país sportinguista para anunciar a expressiva vitória do homem que se vai manter no clube de Alvalade por mais quatro anos. Os números não mentem: Bruno de Carvalho conseguiu 86,13% dos votos, deixando Pedro Madeira Rodrigues com apenas 9,49%.
Ao longo deste primeiro mandato, Bruno de Carvalho conseguiu ter o condão de unir os adeptos em torno de um clube, escolher bem os treinadores (são poucos os que acha, que os nomes de Leonardo Jardim, Marco Silva ou Jorge Jesus não figuram na lista de melhores treinadores nacionais), chamar a si muita da pressão acerca dos resultados do clube de Alvalade (mais partilhada depois da chegada de JJ) e, claro, sentar-se sempre no banco dos leões, em todos os jogos.
Resta saber como serão os próximos quatro anos, intervalo temporal em que Bruno de Carvalho prometeu voltar a tornar o Sporting CP campeão nacional, título que foge aos leões desde 2002.
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