A pandemia de Covid-19 não afetou as três míticas competições desportivas que decorrem em solo francês. A 107ª edição do Tour de France está na estrada (ciclismo), o torneio número 124 do Roland Garros (ténis) mudou de data de maio para o próximo dia 21, último Grand Slam da temporada e a 88ª corrida das 24 de le Mans arranca este sábado às 13h30 de Portugal continental no circuito de Circuito de la Sarthe, tendo saltado três meses no calendário.
Realizada pela primeira vez em 1923, só foi cancelada em 10 ocasiões, em 1936 e entre o período de 1940-1948. Na história quase centenária da prova automobilística, pela primeira vez não terá espectadores nas bancadas, local, onde em 1969, se registou o recorde de assistência (400 mil espectadores). Devido ao novo coronavírus, não se realizará o tradicional desfile de pilotos na cidade francesa.
A língua de Camões promete falar mais alto entre os 177 pilotos distribuídos por 59 carros que vão percorrer as 38 curvas e os 13,629 quilómetros de perímetro do circuito, um circuito que sofreu 13 modificações, a última das quais em 2007.
Haverá dois pilotos em pista, Filipe Albuquerque (United Autosports), e António Félix da Costa (Jota Sport). O primeiro lidera a tabela da categoria LMP2 (120 pontos), segunda categoria mais importante e a mais numerosa (24 carros inscritos), ao lado dos britânicos Paul di Resta e Phil Hanson. Podem assegurar o título antes da última corrida, as 8 horas do Bahrein, a 14 de novembro.
O segundo, recentemente campeão de Fórmula E, acompanhado do inglês Anthony Davidson e Roberto Gonzalez (México), ocupa a 6ª posição, com 89 pontos. Ambos ambicionam repetir o feito de Pedro Lamy em 2012, que venceu na categoria LMGTE Am ao volante de um Chevrolet Corvette C6.R (Larbre Compétition).
Mas a portugalidade não se sente somente aos comandos de um bólide. Há uma equipa portuguesa, a Algarve Pro Racing, com Simon Trummer (Suíça) e os norte-americanos John Falb e Matthew McMurry, aos comandos de um Oreca (LMP2).
Este ano, também pela primeira vez será um português a dar a partida de Le Mans. Carlos Tavares, presidente do Conselho de Administração do grupo PSA, foi o escolhido pela organização da prova para agitar a bandeira francesa que dará o início da corrida.
Eduardo Freitas é o diretor de corrida, e Pedro Couceiro estará ao volante de um dos ‘safety car’.
"Não podemos ser modestos nas ambições mesmo que a prova em causa seja as 24 Horas de Le Mans”
Filipe Albuquerque cumpre, aos comandos do Oreca nº22 da Unieta AutoSports, a 7ª maratona na mais espetacular prova do Campeonato do Mundo de Resistência (WEC). No histórico leva dois 4º lugares (2017 e 2019) e parte da pole position.
“Estamos na liderança do campeonato, queremos ser campeões e por isso não podemos ser modestos nas ambições mesmo que a prova em causa seja as 24 Horas de Le Mans”, disse a poucas horas de entrar em ação em La Sarthe. No entanto, o piloto de 33 anos, natural de Coimbra, alertou que “em Le Mans nada pode ser dado como adquirido”, relembrando uma célebre frase: ““não és tu que escolhes Le Mans, é Le Mans que te escolhe a ti”.
Por sua vez, Félix da Costa, nº38 da Jota Sport, somará a terceira participação, depois de ter participado nos últimos dois anos com a BMW (GTE). Na estreia na categoria LMP2, o campeão mundial de Fórmula E, crê que “é possivelmente o ano que vamos com as melhores armas para lutar pela vitória”, afirmou o piloto de Cascais. “Somos uma boa tripla, temos tido boa época na WEC (Campeonato do Mundo de Resistência), com vários pódios e uma vitória. As 24 horas é uma corrida que não depende só da velocidade, mas também da consistência e de ter a certeza de que não cometemos erros. A preparação foi bem feita e vamos confiantes para Le Mans”, sublinhou.
As Damas de Ferro e a primeira equipa feminina em ano de despedida da principal categoria
A 88ª edição das 24 de Le Mans marcará a despedida da categoria LMP1, a mais importante e dominante desde 1992. Os hipercarros serão, a partir de 2021, a categoria mais importante do Mundial de Resistência. Um campeonato que terá seis corridas e no qual Le Mans voltará à data original, 12 e 13 de junho.
A equipa japonesa do Toyota TS050 Hybrid nº7 – Kazuki Kobayashi (Japão), Sebástien Buemi (Suíça) e Brendon Artley (Nova Zelândia) – parte da primeira posição da grelha, o que acontece pela sexta vez, na esperança de somar o terceiro triunfo em três anos.
Nos tempos atuais, ter mulheres a disputar os desportos que têm sido considerados um feudo masculino é algo que acontece de forma natural. As 24 de Le Mans não são exceção e este fim-de-semana, duas equipas, seis pilotos do sexo feminino apoiadas pela FIA Women in Motorsport Commission, aceleram no asfalto, o que acontece pela primeira vez desde meados dos anos 70 do século passado.
A Richard Mille Racing Team coloca em pista a primeira equipa LMP2 só de mulheres na história de Le Mans. Tatiana Calderón, Sophia Flörsch e Beitske Visser (que substitui a britânica Katherine Legge, líder da equipa, que sofreu um acidente), ao leme do carro Oreca 07, são as protagonistas.
Entre as 22 inscrições da LMGTE Am, um Ferrari 488 GTE Evo (nº85) estará nas mãos de Rahel Frey, Michelle Gatting e Manuela Gostner. Fazem parte das Iron Dames, projeto concebido e apoiado por Deborah Mayer, uma piloto francesa promotora de mulheres no desporto motorizado.
Geridas pela equipa Iron Lynx, competiu, no ano passado, pela primeira vez, no ELMS (European Le Mans Series) e nas 24 de Le Mans. Em 2019, foram a primeira equipa só de mulheres em 10 anos a competir no Circuito de la Sarthe e terminaram em nono lugar na sua categoria.
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