A Liga, com novo inquilino, o ex-melhor árbitro do mundo, Pedro Proença, quer estar entre as melhores das melhores. No topo do futebol europeu. Esse é, para já, um desejo. A competitividade é outro. E nesse campo, o palco da história da competição tem sido objectivamente dividido entre dois clubes, embora o terceiro nunca se possa descartar. Para os três crónicos candidatos – Benfica, Porto e Sporting – a próxima época será um tanto ou quanto diferente das anteriores. A obrigatoriedade de ganhar títulos é inerente ao ADN das equipas. Até aqui nada de diferente, mas, este ano, em particular, não será uma questão de vida ou morte, mas andará lá muito perto. Não no sentido literal, descansem, mas os três presidentes das três instituições desportivas estarão debaixo de escrutínio mais apertado por parte de sócios e adeptos. Porquê? Passemos a explicar.
O Futebol Clube do Porto e Jorge Nuno Pinto da Costa confundem-se numa história repleta de títulos. Perder, ou antes, não ganhar, é como aquelas letras minúsculas de alguns contratos. Estão lá mas ninguém repara. Só olhamos para o que compramos. Para o bolo, que no caso está bem recheado de faixas, títulos e taças. Agora, quando os outros ganham, significa que o Porto não venceu....É pois, se dois anos sem festejar nada junto à Câmara Municipal, podem provocar muita azia em estômagos habituados a francesinhas, se somarmos mais um ano de jejum, avizinha-se algum contorcionismo lá para os lado da Foz. Porque só os diamantes são eternos e porque Pinto da Costa quererá, quando assim entender, sair de cena com mais uma medalha ao peito, a aposta é grande. E de risco. Tal como no passado recente, e com muito sucesso, o “casamento” com o Super Fundo, Doyen Sports, serve para fazer aterrar na Invicta estrelas de outros campeonatos, estrelas essas que, mais tarde, ou mais cedo, farão as malas rumo a outras super Ligas. Algo a que este “casal” está habituado. E até se dá bem.
Reconhecidamente um dos clubes que está sempre um passo à frente no que toca ao futebol, e porque, por enquanto, a proibição dos TPO (Third Party Onwership), ou seja, a participação de terceiros (fundos de investimento, por exemplo) nos direitos económicos dos jogadores, foi decretada pela FIFA (artigo 18
ter do Regulamento do Estatuto e Transferências dos Jogadores), o Porto fez uma finta, e continua a garantir o concurso de craques, que de outra forma não conseguiria. Como? Seja via TPI (Third Party Investment). Ou seja, o Fundo empresta o dinheiro para a aquisição dos direitos federativos, funcionando assim como uma entidade bancária, seja utilizando os serviços de intermediação, ou até recorrendo a uma “barriga de aluguer”, isto é, um clube, no caso concreto uruguaio (Sud América), que comprou o avançado Pablo Osvaldo, registou os seus direitos, e que, de seguida, emprestou o ítalo-argentino aos Dragões. Definitivamente um golaço fora de campo. A ver vamos se dá frutos no relvado.
Aquele que tira as pérolas do Seixal com uma mão....
O Sport Lisboa e Benfica parte para os próximos meses depois da embriaguez de títulos dos últimos dois. E se recuarmos até ao dia em que Jorge Jesus entrou pelas portas adentro do Seixal, encontramos muitas razões que fizeram sorrir (campeonatos e Taças) e também chorar (finais da Liga Europa) sócios e adeptos do clube da águia. Com JJ, Benfica jogou, voou e sonhou bem alto. E festejou.
Bi-campeonato conquistado e eis que o mundo encarnado parece desabar. Embora Luis Filipe Vieira recupere uma frase que se costuma ouvir mais a norte de “a estrutura...”, aquele a que podemos chamar o Dono Daquilo Tudo, leia-se dos títulos, troféus e finais, Jorge Jesus, foi-se. E não para longe, mas para bem perto. E ter um “fantasma” a viver ao nosso lado, não é nada agradável. E dói.
Para piorar, a pré-época das águias foi ao nível da pré-campanha do Partido Socialista. As figuras de cartazes não devem passar de figurantes no plantel. Ao ponto de Rui Vitória, no jogo da Super Taça, ter que se socorrer de caras do Seixal (deixando os rostos da Junta de Freguesia de Arroios para outros campeonatos).
Depois da derrota num simples jogo, Vieira terá que explicar muito bem explicadinho a aposta feita. Ao contrário do PS não há, até à data, demissões de “diretores de campanha” nem “mea culpa” na escolha das opções feitas. Antes, Vieira, que já o tinha feito e continuará a fazer, irá desdobar-se em cada Casa do Benfica por esse país fora. Até dia 31 de agosto, aquele que com uma mão coloca pérolas do Seixal pelo preço mínimo garantido de 15 milhões em Espanha, França e outras paragens, ajudará, com a outra. Falamos de Jorge Mendes, o Super Agente, que tal como no passado, nos últimos dias de fecho do mercado, com pós de perlimpimpim, pezinhos de lá e mãos cheias de euros, “mete” cá os seus representados. Uma estratégia que tem dado lucros, desportivos e financeiros.
O Génio que mudou de lâmpada
Por último, o Sporting de Jorge Jesus e de Bruno de Carvalho. Eterno corredor por fora destas contas, este ano assume a luta por dentro. Para tal, o jovem presidente que já tinha no currículo o fato de ter tido olho para ir buscar, em dois anos, dois dos grandes treinadores portugueses (Leonardo Jardim e Marco Silva), conseguiu, ao terceiro ano, tão só, ir buscar o maior entre os maiores. Numa jogada de mestre conseguiu ter o génio da bola ao seu lado no banco onde gosta de estar. E continuará a estar.
Roubando o “cérebro” ao eterno rival, ao mesmo tempo que esventra o coração alheio, enche a alma leonina. E se enche. Jorge Jesus, fala como um homem, veste-se como um homem (o tratamento e as madeixas capilares é de homem moderno, diga-se), por isso, toda a nação sportinguista diz ser o homem certo.
BdC, envolvido em batalhas internas e externas, sabe que a mais saborosa de todas será o título de campeão nacional. Ou mais taças, para juntar às que conquistou. Jogou, por isso, em vésperas de eleições, uma cartada bem forte. Enquanto as atenções benfiquistas estão centradas na Portela, nas Chegadas, os vizinhos da segunda circular, não querem ver nem ouvir a palavra Partidas. Rodando a bússola a Norte, até ao lavar dos cestos é vindimas, por isso é provável um entra-e-sai. Para já, um teve guia de marcha. Adrian Lopez, do Super Agente Mendes.
No fim fazem-se as contas. Antecipamos, desde já, que para quem não vencer a Liga será um “ai Jesus”. Ao vencedor os seus fiéis adeptos responderão com um Amém, enquanto aos outros resta pregar fé pelas suas freguesias. Jesus, Bruno de Carvalho, Vieira, Rui Vitória, Pinto da Costa ou Lopetegui. Um deles, ou a dupla, será apelidado de Super-Herói (s) da Liga 2015-2016. Só esperamos que não vistam o tradicional kit de capa e collants. Porque ver qualquer um deles assim, não seria uma imagem compatível com uma Liga que se quer Super.
Miguel Morgado é jornalista, tendo trabalhado no Jornal de Negócios, Euronoticias, Revista Política e Revista “Ganhar” (Jornal de Negócios). Foi editor de Desporto de dois jornais regionais (Jornal de Oeiras e Jornal de Cascais) e do site www.desportnalinha.com. Atualmente, é assessor de Impensa na Cunha Vaz e Associados. Esteve inserido nas estruturas de comunicação do Sporting Clube de Portugal, Federação Portuguesa de Rugby, CTT e RTP, entre outros clientes. Licenciado em Relações Internacionais e Pós Graduado em Jornalismo e Comunicação, pelo ISCTE está a terminar uma tese sobre “Fundos de Investimento no Futebol – Third Party Onwnership” no âmbito da Pós –Graduação de Finanças e Direito do Desporto, na Faculdade de Direito de Lisboa. Casado e pai de 4 filhos. Gosta e pratica futebol, surf e rugby.
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