O anfiteatro foi desenhado numa zona florestal no concelho de Mortágua – sensivelmente a meio do troço de 18,5 quilómetros, onde se situa a Zona Espetáculo (ZE) nº 5. Ainda o dia não tinha nascido e já milhares de aficionados dos ralis preenchiam as duas encostas, que permitem ao público seguir os pilotos durante cerca de dois quilómetros.
Arlindo Costa não foi dos primeiros a chegar, mas assistiu ao desfile de centenas de viaturas ligeiras e autocaravanas que, desde o fim do dia de quinta-feira, lhe passaram perto da porta no município vizinho de Santa Comba Dão e nas redondezas da prova especial de classificação, com destino àquele que é um verdadeiro circuito de ‘desce e sobe’ em piso de terra.
Conhecedor dos caminhos do rali no concelho do sudoeste do distrito de Viseu, utilizou essa experiência para, cadeira de campismo às costas, se dirigir ao troço, evitando engarrafamentos e confusões – avisou que os carros estacionam ao longo de quilómetros e as pessoas deslocam-se “numa excursão a pé”.
“Quase que podia ser guia turístico aqui, conheço os troços há muitos anos, tanto deste rali como do nacional. Já fizeram em alcatrão e em terra batida, mas a terra batida para mim é o ex-líbris”, disse à agência Lusa Arlindo Costa.
Se quando era mais novo, “há 30 e tal anos”, ia para a zona de Arganil passar a noite com amigos à conta do Rali de Portugal, agora, com a prova do Mundial de ralis (WRC) “ao pé da porta”, já não se aventura pelas serranias do interior Centro do país.
A primeira passagem pela classificativa de Mortágua haveria de começar dali a pouco tempo, pouco depois das 08:00. Arlindo Costa aponta a encosta fronteira à sua e antecipa uma enchente de público, em especial na segunda passagem, agendada para as 17:35 de hoje.
“Este sítio é um espetáculo e aquilo fica cheio de alto a baixo”, observou, adiantando que tanto em Mortágua como em Santa Comba Dão “hoje é quase feriado”, depois de na quinta-feira ter sido celebrado, literalmente, o feriado municipal em ambos os municípios.
Em Mortágua, talvez por ser o primeiro troço ‘a sério’ da etapa portuguesa do Mundial de ralis, viam-se (e ouviam-se) adeptos de ralis vindos um pouco de todo o país, e também do estrangeiro, da já habitual Espanha às mais longínquas Estónia e Sérvia.
Da Póvoa do Varzim à zona Centro, primeiro Mortágua e depois a segunda passagem na Lousã, veio Artur Ferreira, que já tem um historial no Rali de Portugal desde a década de 1980, com uma interrupção pelo meio e um regresso em 2015, quando percebeu que os pilotos “estavam a andar mais rápido” e também por outro regresso, o da competição ao Norte do país.
“Não perco o primeiro dia, nem a primeira classificativa, gosto de os ver todos. Até posso nem ir no sábado, nem no domingo, mas no primeiro dia não posso faltar”, argumentou.
Pela primeira vez na Arena de Mortágua, Artur Ferreira evidenciou as condições para os espetadores: “É uma zona porreira, tem bastante visibilidade, consegue-se seguir ao carro muito tempo, é muito boa”.
A zona do salto, quase de entrada na Arena, foi uma das mais apetecíveis para o muito público, que esperava para ver, especialmente, os pilotos dos Rally1, que disputam a primeira divisão do WRC. No entanto, apesar da maior eficácia e rapidez destes, as preferências dos fãs dos ralis foram, nitidamente, até pelas palmas e gritos que se ouviram, para alguns pilotos do WRC2, casos de Olivier Solberg e Gus Greensmith (Skoda) e Nicolay Gryazin (Citroën) pelo andamento espetacular que demonstraram.
Logo depois, o japonês Yuki Yamamoto (Toyota Yaris) teve um acidente numa zona estreia da classificativa, ficando a interromper a passagem de outros competidores. A prova foi interrompida e, depois, o troço viria mesmo a ser cancelado, resultando em que apenas 20 dos 67 pilotos que estavam à partida deste tenham chegado à Arena.
O aviso do cancelamento chegou via instalação sonora e provocou uma debandada do público, em direção a outros troços, nomeadamente na zona de Arganil. Arlindo Costa, esse, reclinou-se na sua cadeira, à sombra de um eucalipto, e exclamou, apenas: “Não há problema, logo à tarde há mais”.
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