Em Singapura a curva da pandemia estava plana e começou a crescer descontroladamente, batendo recordes de novos casos confirmados dia após dia. Assim, foi necessário sensibilizar a população para as medidas que visam evitar a propagação do novo coronavírus. Nesse sentido, o governo, recorrendo à Band of Doodlers (BOD), criou uma banda desenhada para transmitir informação. Surgiram então cinco super-heróis, sob o nome de "Virus Vanguard".
Contudo, as personagens não foram bem recebidas por todos, nomeadamente pelos adeptos de futebol do Liverpool. Em causa está um dos super-heróis, chamado Mawa Man, que nutre um "ódio profundo" pela equipa.
Mawa significa "Must Always Walk Alone" [Deves andar sempre sozinho, em tradução livre] e é uma referência ao hino do Liverpool, "You'll never walk alone" [Nunca vais andar sozinho]. Além disso, o super-herói tem um pássaro ao peito — símbolo do clube e da cidade, a criatura mitológica "Liver bird", semelhante a um corvo-marinho —, mas com uma linha na diagonal por cima, como que anulando a sua importância. Na fivela do cinto, Mawa Man tem ainda uma forquilha, semelhante à ostentada pelo diabo presente no símbolo do Manchester United, rival do Liverpool.
Na descrição do super-herói podia ler-se que este "despreza tudo no Liverpool, incluindo o lema You'll never walk alone" e que "o seu ódio pelo clube excede o seu amor pelo Manchester United". A publicação original já foi apagada.
O sucedido já originou uma petição para que a campanha seja reformulada. "Os adeptos do Liverpool em Singapura condenam por unanimidade o personagem Mawa Man e pedem que este seja retirado desta campanha", pode ler-se.
No Facebook, o governo de Singapura reconheceu ter recebido "muitos comentários sobre as personagens", prometendo analisá-los e rever a campanha. "Lamentamos se ofendemos alguém", escreveram. "Agradecemos a vossa paciência, é a primeira vez que exploramos este tipo de conteúdo".
Numa publicação no Facebook, Mas Shafreen, um dos artista que criou os super-heróis, já pediu também desculpa "pelo facto de as personagens parecerem insensíveis", acrescentando que o governo de Singapura não pediu para fazer qualquer comentário.
"Tudo começou porque alguns de nós, na BOD, inclusive eu, criámos personagens de super-heróis para mostrar apreço por quem trabalha na linha da frente, incluindo os profissionais de saúde, e sobre como podemos combater [a pandemia] juntos. É também uma maneira de nós, artistas, colaborarmos juntos enquanto estamos em distanciamento social", começou por explicar.
"Quanto ao Mawa Man, sou um fã do Manchester United e serei o primeiro a admitir que o Liverpool está a ir bem, ao contrário do Manchester. O Mawa Man surgiu mais no sentido de como devemos praticar o distanciamento seguro", referiu. Contudo, é mais do que isso: independentemente da equipa que se apoie, é preciso que se faça um esforço conjunto para ultrapassar a pandemia, ou seja, juntos mas separados.
O coronavírus em Singapura e no mundo
O país conseguiu inicialmente conter a disseminação do novo coronavírus, graças a uma estratégia muito rígida de controlo e rastreamento dos contactos das pessoas infetadas.
No entanto, enfrenta desde o início de abril uma segunda onda da doença.
O número de novos casos aumentou em todo o país desde que campanhas de teste foram lançadas em casas ou alojamentos lotados onde os trabalhadores imigrantes vivem, geralmente em condições insalubres.
Singapura tem cerca de 200.000 trabalhadores da construção civil, a maioria do sul da Ásia, que constroem edifícios e centro comerciais gigantes e recebem cerca de 400 a 500 dólares (370 a 460 euros) por mês.
O primeiro-ministro de Singapura, Lee Hsien Loong, alertou neste fim de semana que o número de trabalhadores imigrantes infetados pelo vírus provavelmente aumentará drasticamente à medida que as campanhas de teste forem efetivadas.
"Felizmente, a grande maioria desses casos é leve, já que os trabalhadores são jovens", observou o político na rede social Facebook.
Os alojamentos gigantes onde os imigrantes costumam viver, por vezes com mais de dez pessoas por quarto, não permitem a distância física necessária para evitar a contaminação.
As autoridades colocaram em quarentena dezenas de milhares de trabalhadores e transferiram muitos deles para moradias com menos pessoas, para evitar uma maior disseminação do novo coronavírus.
Singapura, que já havia encerrado as suas fronteiras para os não-residentes, resolveu no início de abril encerrar temporariamente escolas e o comércio não-essencial.
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou cerca de 179 mil mortos e infetou mais de 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Mais de 583 mil doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando setores inteiros da economia mundial.
Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, alguns países começaram entretanto a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos, como Dinamarca, Áustria, Espanha ou Alemanha, a aliviar algumas das medidas.
Portugal regista 785 mortos associados à covid-19 em 21.982 casos confirmados de infeção, segundo o boletim de hoje da DGS, que revela terem sido identificados 202 casos positivos em Vila do Conde desde o início da pandemia.
O país cumpre o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado em 19 de março, e o decreto presidencial que prolongou a medida até 02 de maio prevê a possibilidade de uma "abertura gradual, faseada ou alternada de serviços, empresas ou estabelecimentos comerciais".
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