António Costa esteve hoje, juntamente com Marcelo Rebelo de Sousa, em Ovar, concelho do distrito de Aveiro onde existiu a primeira e mais longa cerca sanitária do país devido à pandemia.

Em declarações aos jornalistas, no final da visita a uma fábrica, o primeiro ministro referiu que "o risco [económico] existe e temos de ter a consciência dele".

"Só há uma forma de enfrentar esse risco: é da mesma forma como enfrentámos a covid. E, com a mesma determinação com que soubemos que tínhamos de ficar em casa, sabermos que temos de fazer o esforço de sustentar empresas, emprego e rendimento", disse.

"Sem empresas, emprego e rendimento a economia não cresce, não vive, e a sociedade definha", acrescentou. "Portanto, se não foi a doença, também não pode ser a cura que dá cabo de nós. Tal como estamos nesta luta contra a covid, temos de estar também nesta luta pela economia, pelo emprego, pelo rendimento".

António Costa referiu ainda que "não é altura para discutirmos se o copo está meio cheio ou se está meio vazio".

"É olhar para o copo e dizermos 'vamos lá encher o copo'. E é isso que temos de fazer. Porque, se o copo for cheio, não fica nem meio vazio, nem meio cheio. Fica cheio. E, por isso, o que temos de fazer é arregaçar as mangas", frisou.

O primeiro-ministro terminou a sua intervenção com um agradecimento "a todos os ovarenses, por aquilo que passaram, pelo que se sacrificaram por todos nós", fazendo referência à retoma da atividade, ao nível do comércio, das fábricas e da restauração.

António Costa referiu ainda "todos os trabalhadores que estão a dar o seu melhor ao saírem de casa, deixando as famílias inquietas, para que possam ir trabalhar onde é necessário trabalhar".

"É nesse esforço coletivo que temos de continuar. Não temos de saber se o copo está meio cheio ou meio vazio, vamos todos encher o copo e é assim que podemos andar para a frente e vencer a covid", rematou.

Questionado sobre o elogio de Marcelo a Rui Rio, referindo que "ser líder da oposição é mais difícil que ser primeiro-ministro", António Costa respondeu que não pode comparar o seu cargo com o de ninguém.

"Já disse há muitos anos que o cargo político mais difícil que há em Portugal é ser líder da oposição. Também já fui e também já sei o que custa. E também já sei o que custa ser primeiro-ministro, não comparo, e também não estou disponível para trocar", atirou.

Sobre a atuação do presidente da Câmara Municipal de Ovar, Salvador Malheiro, Costa referiu que já tinha agradecido a atuação do município na gestão da pandemia. "De facto foi absolutamente exemplar", disse, estendendo o elogio a todo o país.

"Há algo que deve honrar o país e de que o país se deve regozijar: independentemente das funções políticas que cada um exerce, das forças políticas que cada um representa em representação dos portugueses, o sistema político português foi exemplar na forma como tem enfrentado esta crise", começou por dizer.

"Se virem as televisões todos os dias, com o que acontece pelo mundo fora, veem bem a diferença do que aconteceu em Portugal", referiu. "Cada um tem a sua função, as suas ideias, o seu partido, as suas propostas, as suas críticas, as suas sugestões. Mas tivemos um estado de emergência pela primeira vez em mais de 40 anos de vigência da Constituição, que é um estado excecional, e a democracia não foi suspensa. A Assembleia da República continuou a funcionar, não houve qualquer controlo à liberdade de imprensa, não houve limitações ao direito de manifestação, não houve restrições às liberdades fundamentais", justificou.

"Não foi preciso pôr as Forças Armadas a fazer outro serviço que não fosse o apoio logístico ou o apoio humanitário. Não tiveram de vir com tanques nem com metralhadoras para a rua para manter a ordem. As forças de segurança puderam ter uma função essencialmente cívica", continuou Costa.

Sobre a colaboração política, desde a Assembleia às câmaras municipais, Costa referiu que "com cada um a manter as suas cores, todos soubemos trabalhar em conjunto. Isto é muito importante e é um fator de diferenciação do nosso país no contexto internacional", lembrou.

O primeiro-ministro apontou ainda a situação vivida durante a pandemia como um chamariz futuro para as empresas e para a produção nacional.

"Quando isto tudo passar, quando as empresas perceberem que não podem continuar a produzir na outra ponta do mundo e que a Europa é capaz de produzir e não precisa de andar a mendigar para ter uma coisa destas [máscara] de um tecido não tecido [TNT] com uns elásticos, que é uma coisa absolutamente banal para nos conseguirmos proteger uns aos outros e que temos de ter a capacidade interior de produzir isto aqui", vão ver que "Portugal vai estar muito bem colocado", garantiu.

"Essas empresas vão saber que, num momento de crise como nós vivemos, tivemos um SNS robusto e com toda a capacidade de responder a todas as necessidades e isso é fundamental para dar segurança às pessoas. Com certeza que houve pessoas que faleceram, mas não vimos em Portugal aquilo que vimos em países mais desenvolvidos do que nós", lembrou.