O jornal espanhol divulga a entrevista na primeira página, com o título: “O chefe do Eurogrupo não está a cumprir a sua função”.
Uma afirmação de António Costa que em seguida explica que “Jeroen Dijsselbloem está de passagem; Guindos poderia fazê-lo muito bem”.
Na semana passada, o primeiro-ministro português já tinha dito que Jeroen Dijsselbloem não tem condições para continuar à frente do Eurogrupo e que Luis de Guindos teria "boas condições" para substituir o ministro holandês.
António Costa começa a entrevista por responder a uma pergunta sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) em que sublinha que “o importante” é que no fim do processo a Europa tenha “a melhor relação” com aquele país.
“Temos de ser os melhores aliados, os parceiros mais próximos e os amigos mais próximos”, afirma, defendendo em seguida que “também é uma oportunidade para acolher em Portugal empresas do Reino Unido que queiram ficar na UE”.
António Costa declara que, com a saída do Reino Unido, a relação entre os que ficam deve ter como base “a igualdade dos Estados” e aproveitar para “reconstruir as relações”, mostrando a sua preocupação pela “deriva dos países de Leste sobre os valores democráticos, que são a base da sociedade europeia”.
“Preocupa-me que alguns países do Norte tenham os preconceitos de Dijsselbloem”, acrescentando que “a vida em comum depende da capacidade de nos conhecermos melhor”.
Confrontado com o facto de ter sido o governante europeu mais crítico das palavras do presidente do Eurogrupo e se este se devia demitir, Costa respondeu: “É uma questão de tempo; o senhor está de passagem”.
O primeiro-ministro defendeu que o presidente do Eurogrupo “tem de ser alguém com capacidade de construir pontes e não um fator de divisão”, acrescentando que o atual ministro da Economia de Espanha seria um bom candidato: “Se [Luís] De Guindos está disponível, seria o nosso candidato”.
O jornalista quis em seguida saber o que tem a diplomacia portuguesa de especial para conseguir colocar um português como secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e antes, um outro, na presidência da Comissão Europeia (José Manuel Durão Barroso).
António Costa explicou que, em primeiro lugar se tratava de “méritos pessoais” e que também tinha ajudado o facto de Portugal ser “um país aberto e que sabe “construir pontes”, fatores valorizados numa altura em que “está na moda construir muros”.
O chefe do Governo esclareceu ainda que uma das chaves para o PS ser um dos escassos partidos socialistas/sociais-democratas no poder na Europa é o facto de no país continuarem a haver “duas alternativas claras”: “A nossa e a da direita, e isso é bom para a democracia”, disse.
“Se os cidadãos nos veem discutir grandes tratados e não respondemos aos problemas concretos, criamos frustração e em seguida radicalização”, afirmou Costa, acrescentando que para lutar contra os movimentos populistas é preciso “gerar alternativas entre as famílias políticas do quadro democrático”.
António Costa defendeu a solução governativa encontrada em Portugal, onde o Governo socialista é apoiado por partidos antieuropeístas.
“A novidade em Portugal é que, pela primeira vez, o conjunto de partidos de esquerda compreenderam que podem manter a sua identidade diferenciada, manter posições distintas sobre a Europa, mas também chegar a acordo sobre o que fazer para mudar a política”, afirmou o chefe do Governo.
Costa sublinhou que “isso foi o êxito, a estabilidade política” e que “o conjunto da esquerda aumenta no país, sem concorrência” entre esses partidos, ao mesmo tempo que “aumenta a confiança dos cidadãos, que antes se abstinham ou votavam na direita”.
“É uma experiência interessante e de sucesso”, conclui António Costa que não quis aconselhar a mesma receita para Espanha, porque “cada país é diferente”.
O chefe de Governo deu a entrevista na embaixada de Portugal, em Madrid, no dia (segunda-feira) em que participou na terceira cimeira dos sete países do sul da Europa.
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