"Com o enorme investimento que os fabricantes têm realizado nesta tecnologia e considerando as reduções de custos observadas recentemente, é quase incontestável que a Mobilidade Elétrica se tornará uma realidade ao longo da próxima década, mas sem que se preveja uma escala suficiente para a designar de fenómeno massificado", segundo o estudo. O documento, elaborado por Cristóvão Byrne e Paulo Pedro, foi apresentado hoje, em Angra do Heroísmo, nos Açores, no âmbito da conferência "O desafio energético da mobilidade elétrica".
Em Portugal, a taxa de renovação de veículos é de 5% e os veículos híbridos demoraram cerca de uma década a atingir 3% da quota de vendas nos Estados Unidos da América, pelo que a Plataforma para o Crescimento Sustentável estima que em 2025 existam apenas 50 mil carros elétricos em Portugal. O estudo recomenda que as autarquias portuguesas criem "incentivos não-financeiros" para os condutores de veículos elétricos, à semelhança do que já acontece noutros países da Europa, como facilidades de estacionamento, de carregamento ou de circulação (vias reservadas).
Como complemento, as autarquias devem, segundo Cristóvão Byrne e Paulo Pedro, "ser pioneiras na conversão da sua frota para veículos elétricos, fomentando a aceitação por parte dos consumidores".
Por outro lado, o estudo deteta que o carregamento dos veículos em locais públicos ainda é pouco atrativo, por isso defende um incentivo ao investimento em postos de carregamento, através da simplificação do modelo atual. Os locais privados de acesso público (como restaurantes com parque de estacionamento ou centros comerciais) são atualmente obrigados a integrar a Rede de Mobilidade Elétrica, o que aumenta a complexidade da instalação e os custos de operação de pontos de carregamento, segundo o documento.
O atual modelo obriga ainda os clientes a serem titulares de um contrato com um Comercializador de Eletricidade para Mobilidade Elétrica, não permitindo que os operadores façam, por exemplo, promoções pontuais para atrair mais carregamentos.
O estudo recomenda que Portugal siga o exemplo de outros países da Europa e fomente o desenvolvimento de postos de carregamentos rápidos ao longo de corredores rodoviários específicos, que até poderão ser financiados por fundos comunitários. Outra das propostas da plataforma é a criação de incentivos fiscais para as empresas que facilitem o acesso a redes de carregamento aos seus colaboradores.
Apesar de reconhecer que já existem em Portugal indústrias de relevo com crescente penetração nesta área, o estudo recomenda uma aposta na investigação, com recurso a fundos comunitários e o estabelecimento de colaborações entre as universidades e a indústria.
De acordo com a plataforma, ainda há muito desconhecimento em Portugal sobre a mobilidade elétrica e pouca aceitação dos consumidores, sobretudo porque existe uma perceção de que o custo inicial do veículo é "elevado". No entanto, o estudo salienta que os preços têm vindo a baixar, prevendo que a redução dos custos das baterias torne os veículos elétricos competitivos "a partir de 2020, sem necessidade de subsidiação ou isenções fiscais".
A plataforma estima, ainda, que a utilização de carros elétricos em comparação com carros a combustível se traduza numa poupança de 60 a 70% no preço da sua utilização por quilómetro, acrescentando que o custo de manutenção também tem tendência para ser mais baixo.
Criada em 2011, a Plataforma para o Crescimento Sustentável é uma associação sem fins lucrativos, que se assume como "um instrumento de reflexão e intervenção cívicas na área das políticas públicas para o desenvolvimento sustentável".
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