Sabem como podemos fazer Deus rir às gargalhadas? É simples, basta fazermos planos. 2020 não foi o que tinha planeado, não foi, nem remotamente, algo que tivesse imaginado como possível. Se teve coisas boas? Sim, teve coisas óptimas, sobretudo pessoas maravilhosas que fazem o favor de ser um pouco minhas. O resto foi infernal. Não foi, é mentira. Foi improvável. Gostamos pouco de pôr a vidinha em perspectiva, mas a verdade é que 2020 não foi o começo de uma guerra nuclear ou algo assim, conseguimos que os doidos que detêm os tais botões vermelhos que accionam o inferno, estivessem quietos. Isso seria o inferno.

O que nos aconteceu terá inúmeras repercussões no futuro, sobretudo ao nível dos afectos. A pandemia agudizou comportamentos egoístas e solitários, uma certa introspeção. A máscara roubou-nos uma das maiores armas que possuímos: o sorriso. As expressões faciais tornaram-se de tal modo complicadas de decifrar, que nunca sabemos se a pessoa à nossa frente está bem ou maldisposta. Dirão que exagero, pois sim, talvez um pouco. Estes balanços de final de ano têm o condão de me deprimir.

Circula na Internet uma graça, uma dessas inúmeras piadolas que fazem com os dias pareçam mais leves. Exige-se a visualização do trailer do próximo ano, para sabermos se queremos mesmo entrar no novo ano. Ninguém sabe o que será, porém todos suspeitamos que será difícil. A economia no chão, as vacinas como tábua de salvação a chegar certo dia, as famílias a tentarem fazer planos que não provoquem a gargalhada divina.

2021 não será um ano extraordinário; é, francamente, previsível. Mas, mais uma vez, não será o inferno que é, como escreveu Borges, uma forma de chantagem, assim como o céu uma forma de suborno. Importa que saibamos viver com o que temos e viver o melhor possível, por nada sabermos do futuro e nunca termos sabido. Esta é a realidade.

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