Este voto em 28 de abril tem dentro várias competições: quem ganha, quem se torna decisivo, quem consegue governar. Junta-se a medição da força do voto separatista na Catalunha e do apoio a forças radicais – Vox, na direita-extrema, e Podemos, no lado esquerdo – que, tudo leva a crer, vão ser determinantes para viabilizar um governo, que tanto poderá ser à direita como à esquerda. Dentro das incertezas eleitorais, a quase única certeza é a de que o clima de briga política está para continuar.
A sondagem, realizada pela 40dB, com trabalho de campo entre 14 e 19 de março e divulgada neste domingo por El País, mostra os socialistas do PSOE amplamente na frente como primeiro partido (27,1%, 122 deputados num parlamento em que a maioria absoluta é conseguida com 176) mas dependentes de pactos para poderem continuar a governar; o voto à direita cresce mas a dispersão gerada pela entrada em cena do Vox e a forte queda do PP (de 33% para 19,3%, de 137 para apenas 76 deputados) deixa o triunvirato à direita sem maioria para governar.
Os resultados dessa sondagem 40dB coincidem no essencial com o que aponta hoje o ABC e com as tendências reveladas em quase todas as muitas outras. Porém, são ainda, apenas, uma fotografia do momento, quando há ainda muitos indecisos. Um estudo no La Vanguardia evidencia como pequenas alterações podem mudar o quadro geral e favorecer uma maioria, seja à direita ou à esquerda.
A confusão e a convulsão política está tão grande que há quem, como António Caño, diretor do diário El País entre 2014 e 2018, defenda que a Espanha precisa de uma espécie de governo de salvação nacional, sustentado por uma aliança entre os partidos constitucionalistas, PSOE, PP e Ciudadanos, com força política para tirar a Espanha do bloqueio provocado pela questão catalã e para cortar o passo ao nacionalismo, populismo e radicalismo que desafiam a democracia espanhola. Caño é um analista experiente, essa aliança seria certamente preferida pelo rei Filipe VI, mas não se vê que tenha alguma viabilidade, tão inflamada está a raiva e a algazarra entre os blocos partidários.
Torna-se evidente que há novas realidades políticas na sociedade espanhola. A direita celebra o regresso à ideologia: mostra um patriotismo autoritário de reconquista conservadora, emparceirado com uma política económica fortemente neoliberal. É um retorno ao estilo contundente à direita de Aznar depois do modelo mais centrista clássico de Rajoy. À esquerda, o radicalismo do Podemos perdeu fôlego e o PSOE, que desfralda a bandeira progressista, está claramente beneficiado pela imagem de moderação e esforço de diálogo que mostrou nos últimos oito meses no governo.
Na clivagem entre esquerda e direita levantam-se temas como a xenofobia e a política de imigração, o supremacismo machista e a resistência ao feminismo, também a revisão da lei do aborto. São efeitos da cavalgada do Vox a marcar a agenda política. A esquerda acusa a direita de cheirar a naftalina, a direita acusa a esquerda de traição à pátria. Em fundo há preconceitos absurdos e muito veneno à solta.
As eleições gerais de 28 de abril, que terão segundo ato nas europeias, autonómicas e municipais de 26 de maio, são cruciais, mas não se vê que contribuam para solucionar a questão que está a fraturar a Espanha: a catalã.
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