Ao antecipar a viragem de um ciclo, tendemos a sentir vontade de avaliar o caminho que temos feito e implementar mudanças para os passos seguintes. É aqui que entra a tradição de fazer resoluções para receber o ano vindouro. A investigação tem mostrado que não somos muito eficientes a manter estes objetivos a médio e longo prazo. Começa também a tornar-se evidente que nem sempre a forma como abordamos as resoluções joga a favor do nosso bem-estar. A discrepância criada entre o que almejamos e o que observamos pode gerar frustração e desânimo. Confrontar-nos com um objetivo “crónico”, que traçamos ano após ano sem conseguir alcançar, pode colocar em causa a nossa capacidade de viver segundo o que valorizamos.

É possível que já se tenha deparado com algumas dicas para aumentar o sucesso das resoluções de Ano Novo. Por exemplo, dividir grandes objetivos em pequenas etapas, definir formas concretas de avaliar o sucesso e celebrar as pequenas vitórias. Além do sucesso, importa pensar no que está a promover para a sua saúde mental através das suas resoluções. Deixo-lhe algumas sugestões para que este ano estrear uma folha com o registo dos seus objetivos seja um momento de auto-compreensão e bem-estar.

  • Questionar o que se quer realmente mudar

É provável que por detrás das nossas resoluções se escondam outras motivações. Compreendê-las não implica necessariamente alterar os nossos objetivos – mas pode enquadrá-los, sugerindo outros pontos em que fará sentido focar algum esforço. Por exemplo, se queremos aumentar a nossa saúde financeira do que estamos à procura? Queremos sentir mais segurança e estabilidade? Ou valorizamos as experiências de prazer que o dinheiro trará? Queremos poder proporcionar coisas boas aos nossos? Ou queremos sentir-nos mais confiantes com o estatuto associado ao nível económico? 

Diferentes respostas sugerem diferentes vias de ação. Se a motivação da nossa resolução financeira for a confiança, pode fazer sentido pensar noutras formas de nos sentirmos confiantes. Se o foco da nossa resolução é cuidar de quem importa, pode ser produtivo equilibrar o tempo dedicado a ganhar dinheiro com o tempo em que estamos de facto presentes. Consegue identificar o que quer realmente alterar com as suas resoluções? 

  • Entender o vínculo ao velho hábito

Se sentimos que precisamos do ímpeto do novo ano para mudar, provavelmente estamos perante uma mudança exigente. Importa entender esta exigência, entender porque ainda não mudámos. O que nos liga ao hábito que queremos agora alterar? Por exemplo, se queremos mudar o nosso comportamento alimentar, podemos descobrir que este nos tem dado algo de importante. Prazer, conveniência, ou mesmo a ligação a memórias emocionais que trazem conforto.

De facto, mudar não é apenas recolher os ganhos do que fica diferente, também perdemos algumas coisas. É natural sentir saudades do que nos trazia o velho hábito. Podemos ficar tristes e frustrados, mesmo que caminhemos na direção desejada.

Respeitar estas emoções difíceis em vez de ignorá-las é essencial para a mudança e pode ajudar a tolerar os momentos em que a motivação oscilar. Pode também ajudar a definir resoluções que permitam obter de forma mais saudável alguns aspetos que não queremos descartar. Por exemplo, podemos manter a ligação emocional com a comida procurando recriar pratos da nossa infância numa versão adaptada aos novos objetivos alimentares. É claro para si o que tem mantido a ligação aos hábitos que espera agora mudar?

  • Prestar atenção ao diálogo interno

Considerar a forma como falamos connosco mesmos é importante, sobretudo quando nos deparamos com obstáculos. Imagine-se num momento em que a motivação para o objetivo que estabeleceu é baixa e nada parece favorável. Por exemplo, está a acordar numa manhã fria após uma noite mal dormida ao som do despertador que programou para o terceiro treino matinal da semana. Por um lado, quer muito cumprir os seus planos alinhados com um estilo de vida mais ativo. Por outro, sair da cama neste momento não parece uma opção nada atrativa... 

O que diz a si nestas situações, e mais importante, como diz? Procura incentivar o seu esforço com compreensão pela resistência sentida? Ou nota uma voz interna mais ríspida e desmoralizante? É naturalmente desagradável receber este tratamento. Certamente, encontraremos mais conforto ao voltar para o refúgio confortável do velho hábito. Nestes momentos, um diálogo interno gentil contribui não apenas para o bem-estar imediato como para o próprio sucesso das resoluções almejadas. O que observa na forma como costuma falar consigo? Consegue perceber se a sua voz interna tem jogado a seu favor?

Ao percorrer estes pontos de reflexão procure aplicar um olhar honesto, mas tolerante – preparando um Novo Ano de conquistas sustentáveis e alinhadas com o seu bem-estar.