Ver televisão, hoje em dia, é uma forma de passar o tempo bem diferente do que era há uma década. Hoje, em vez de procurarmos filmes, séries, formatos que nos agradem, encontramos na caixinha mágica (ainda se pode usar esta expressão? As televisões são estreitinhas para aí desde, sei lá, 2003) sobretudo conteúdos que nada mais nos provocam senão indignação. Reality shows, painéis de debate futebolístico – ninguém gosta, mas muitos veem. Pessoalmente, estou a tentar gerir o meu tempo ao ponto de evitar por completo essa forma masoquista de entretenimento.
Não vi o programa em questão e não estou aqui para me colocar numa posição de superioridade moral. Eu próprio tive essa ânsia de espreitar um episódio, no sentido de ter também a perceção de quão inqualificável aquilo poderia ser. Até vos digo, deem-me uma noite de insónias que eu deito logo por terra todos os argumentos que possa ter a favor da abstinência de programas execráveis. Mas tendencialmente gostaria de evitar entrar na onda de “ver para criticar”, que se forma aquando do surgimento de qualquer formato requentado de reality show.
Em todo o caso, não é com um campeonato humorístico sobre o programa no Twitter que se belisca o seu sucesso. Desprezar um programa é isso mesmo, desprezá-lo. Contribuir para o buzz, ainda que negativo, acabará por ir ao encontro dos seus objetivos. Acredito que os diretores de programação percam meses a tentar desencantar um formato como este, sobre o qual toda a gente tenha uma opinião, ainda que marcadamente negativa. Um programa que origina um debate no mesmo canal sobre o mesmo? Quando chegamos a este nível de meta-televisão, significa que alguém criou agitação em relação ao produto e não foi apenas o canal sozinho.
Para quê contribuir para esse “bom” resultado do programa? Talvez tenhamos uma necessidade de nos confrontarmos com referências culturais junto às quais nos sintamos superiores. Parece que ficamos mais próximos da elite quando criticamos ferozmente um fenómeno de massas, não é?
A mediatização do medíocre cansa-me. Estou inclusivamente desconsolado por me ter obrigado a escrever sobre isto. Ainda tenho tempo para mudar? Não devia ter ido por aqui. Será que estou a fazer publicidade? Será que estou a ser paradoxal?
Com tantas séries na lista de espera, seria uma falta de respeito pelo meu tempo perdê-lo no inferido programa, por aquilo que tenho percebido acerca dele. Neste caso, não preciso de ver para criticar. Até porque o formato nem sequer é novo, estamos a falar de um reality show que estreou no Reino Unido em 2004. A televisão tradicional, tendo-se desobrigado da responsabilidade de conceber conteúdos de qualidade, vive desta algazarra maníaca que se cria à volta da mediania. Se é esta ambição na inovação que a televisão assume em 2018, o digital pode estar bem descansado.
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