Musk, o “Homem mais poderoso do Mundo”?

Durante muitos anos o título era dado ao Presidente dos Estados Unidos. Hoje talvez se aplique ao homem mais rico do mundo.

Elon Musk começou a ser falado internacionalmente em 2008, quando a sua empresa SpaceX (fundada em 2002) lançou o Falcon, o primeiro foguete privado a colocar um satélite em órbita. Em 2012 outro foguete, o Dragon, levou o primeiro veículo espacial a ancorar na Estação Espacial Internacional.

Em 2018 obteve um sucesso estrondoso com o Tesla, o primeiro carro elétrico produzido em massa. (A empresa tinha sido fundada em 2006 por dois engenheiros).

Em 2021 voltou a impressionar com o lançamento dos primeiros 60 satélites Starlink que viriam a formar a maior rede privada, que cobre todo o globo e permite comunicações directas entre telemóveis e outros aparelhos em qualquer parte do mundo.

Três sucessos científicos impressionantes, resultado de uma visão ousada sobre o modo como a tecnologia influi no progresso.

Além destes empreendimentos maiores, as empresas de Musk, que são muitas, também criam telhas foto-sensíveis (que fazem os telhados das casas produzir de electricidade), baterias muito potentes e outros produtos revolucionários.

Está a investir em duas empresas de Inteligência Artificial, a DeepMind e a Vicarious, é co-presidente da Open AI, e em 2015 doou 10 milhões de dólares ao Future Life Institue, uma entidade que se dedica a estudar tecnologias avançadas. E criou a Neuralink, uma empresa de neuro-tecnologia que quer integrar o cérebro humano com a Inteligência Artificial.

E já afirmou, com toda a seriedade, que o seu objectivo é colocar o Homem em Marte, permanentemente.

Por tudo isto deveríamos talvez estar agradecidos a Elon por ser um visionário tecnológico? Não é preciso. O agradecimento está no facto de esta semana, segundo a Forbes, Musk estar avaliado em 3,2 mil milhões de dólares. É o homem mais rico do mundo, à frente de Jeff Bezzos.

Mas há outras coisas que levam a detestar o sul-africano/canadiano/norte-americano: chamam-se X e Trump.

X era a plataforma Twitter, que ele comprou em 2022 por 44 mil milhões, mudou o nome e começou imediatamente a destruir da forma mais anárquica, irracional e partidária que se possa imaginar. Como um miúdo que recebe um brinquedo reluzente e o destrói à martelada.

O Twitter, que permitia mensagens curtas (140 caracteres) e geralmente engraçadas, tinha 401 milhões de utilizadores em 2022. Hoje o X tem 540 milhões de utilizadores, mas a quantidade nada tem a ver com a qualidade. Tecnicamente pode ter qualquer número de caracteres, imagens e vídeos. Politicamente, tornou-se um centro de desinformação, racismo, sexismo e todos os maus ismos que se possa inventar, incluindo trumpismo.

Para perceber esta transformação, há que esmiuçar a carreira de Musk.

Nasceu em 1971 na África do Sul, filho de um milionário local e uma canadiana. Sofreu de bullying na escola e dava-se muito mal com o pai, pelo que foi estudar para o Canadá e depois para os Estados Unidos. Mudou-se para a Califórnia em 1992 e começou a programar, especialmente jogos, com uma pequena empresa, Zip2. Em 1999, a Zip2 foi comprada pela Compaqc por 307 milhões de dólares e 34 milhões em ações. E pronto, Elon passou de um geek esperto para um milionário espertíssimo. Tão espertíssimo que se associou a Peter Thiel - os dois fizeram várias empresas até chegar ao faraónico PayPall, o método de pagamento pela Internet usado em todo o mundo. Quando a PayPall foi vendida à eBay, em 2002, Musk ficou com dinheiro para se lançar nas suas ideias inéditas de que já falamos. (Não dissemos, mas a Tesla é o fabricante automóvel mais valioso do mundo).

Com a sua nova vida de multimilionário, Musk começou a mudar as suas preferências políticas para a direita, até chegar, hoje, ao mais firme apoiante de Donald Trump e das ideias mais firmes do movimento MAGA, inclusive anti-semitismo, anti-imigrantes, anti-aborto (diz que o homem branco tem de se reproduzir muito para não ser substituído pelas outras etnias, e contribuiu com 15 filhos para isso - de três casamentos), anti LBGT+ e anti-tudo o que não é tradicional e institucional.

No X, posta tanto ou mais do que o seu ídolo. Segundo um levantamento do New York Times”, em 5 dias publicou 171 posts, incluindo mentiras descaradas, boatos, mentiras menos descaradas e notícias duvidosas. Além de, evidentemente, abrir o X a todos os teóricos da conspiração e práticos da má língua, praticamente sem moderação.

Musk sente-se no direito de criticar toda a gente, não só o governo norte-americano como o de outros países - quando dos distúrbios raciais no Reino Unido disse que o país estava à beira de uma guerra civil. Teve uma disputa com o Governo do Brasil que levou as autoridades brasileiras a proibirem o X e, por extensão, o Starlink, durante semanas.

O mais grave não é apenas esta anarquia internética. Quando a Boing falhou o envio de uma cápsula para trazer para a Terra astronautas da Estação Espacial Internacional, foi a Spacex que resolveu o problema. Quando os ucranianos estavam em maus lençóis, no ano passado, foi a rede Starlink que lhes permitiu controlar os seus drones, comunicar entre si e ouvir as conversas dos russos. Ou seja, um privado começa a ter poder suficiente para interferir em operações que por natureza pertencem ao domínio público.

Certamente que a influência de Musk nas eleições norte-americanas é mais significativa do que as tentativas dos russos e iranianos. Essa força começa a fazer-se sentir tanto nas eleições parlamentares como nos contratos que o governo faz para produzir equipamentos militares e outros. Se chegar a Marte, poderá dizer que o planeta é dele, não é?

Trump já disse que lhe dará um lugar no executivo, caso ganhe as eleições. Conhecendo a inteligência de um e de outro, não temos muitas dúvidas de quais ideias prevalecerão… (Temos é dúvidas de que Trump ganhe, mas isso é outra história.)

Um homem com o poder financeiro, a inteligência e a destreza de Musk, é um perigo. Nunca foi eleito por ninguém e provavelmente nunca se tentará eleger para nada (prefere comprar…) mas sua influência política e mediática pode causar danos graves. Ou mesmo que não cause danos nem sejam graves: um homem de negócios não pode ter poder de decidir o destino dos homens comuns.

Este texto está escrito segundo o antigo Acordo Ortográfico

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