De repente, leio e oiço falar de Inteligência Artificial como se fosse a última coca-cola do deserto, ou a descoberta do tijolo na Lua. Senhores, a Inteligência Artificial já cá mora há uns tempos; podermos agora ter acesso a plataformas que nos permitem enganar meio mundo é apenas triste, não é um facto merecedor de grande festejo.
Já sei, muitos dirão que estou aqui a praguejar, qual Velho do Restelo (pergunto-me se as pessoas ainda saberão de onde vem esta expressão...), que eu não sou grande aficionada das novas tecnologias e – verdade! – mal sei ligar a televisão cá de casa.
Estou a falar como simples observadora. Não posso ficar animada com o cenário quando os mais novos esfregam as mãos de contentes, por contarem com a dita Inteligência Artificial para os substituir nos seus afazeres escolares e académicos. Diria que, se formos por esse caminho – alunos a optarem por inserir palavras-chave sobre o tópico em análise, para qualquer disciplina, receberem um texto e entregarem como sendo da sua autoria –, estamos tramados e iremos promover realmente uma inteligência artificial, superficial e pouco dada ao conhecimento. Neste caso, a humana.
Fomos feitos para sentir, sim, mas também, e sobretudo, para pensar. É com o pensamento que construímos a nossa História; foi com o pensamento que chegámos a tanta facilidade tecnológica.
O meu marido querer que eu aprenda a lidar com a máquina de lavar a roupa, ou com o forno, através de uma aplicação é uma guerra que vou travando. Que a malta rejubile por conseguir enganar um professor e, assim, conquistar qualquer degrau de escolaridade, é outra coisa. Ou não será? Agora interrogo-me, porque não quero tomar nada como adquirido, a tal arrogância da juventude esfumou-se e estou aqui na meia-idade, à procura de respostas e pronta a aceitar que não estou a ver bem o quadro.
Como é que promovemos pensamento, se nos facilitam o caminho e consideramos “genial” que o algoritmo faça – por nós – o que já estamos dispostos a não aprender? A Inteligência Artificial não é uma novidade, está presente sempre que usamos um motor de busca, a escrita e tradução automática, isto ou aquilo. Teremos cada vez mais formas de Inteligência Artificial e sempre mais sofisticadas. Isso deixa o ser humano onde? Provavelmente ao nível da ficção científica, sem nada de ficcional. O que eu imaginei, ao ler autores como Isaac Asimov e outros, poderá ser uma realidade. Até pode ser bom, mas quem mede a necessidade de nos cultivarmos, de lermos, de conquistarmos mais vocabulário, maior capacidade de argumentação, de interligação de fenómenos e acontecimentos? Ninguém. E quem impede que sejamos enganados, postos diante de factos criados e não reais? Ninguém. Não, senhores, não é a última coca-cola do deserto e tão-pouco é um papão, assim saibamos gerir com cabeça. E cabeça significa pensar: ainda se recordam desse acto singelo?
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