Estudei Ciências da Comunicação porque acreditava que queria ser jornalista, mas bastaram-me poucos meses numa redação para compreender que não tenho o estofo necessário para a profissão. Não basta saber escrever, não basta fazer as perguntas certas, não basta olhar para as questões de forma diferente. Se bastasse, o dia de hoje seria um dia como todos os outros. É preciso ter-se uma resiliência sobre-humana, mas não podemos esquecer-nos de que os jornalistas são pessoas. Pessoas que suportam um dos pilares estruturais da democracia sem terem as condições necessárias para tal.
No que me toca, enquanto escritora e promotora dos livros e da literatura, é-me inconcebível existir num país em que os jornalistas não consigam continuar a fazer tudo o que fazem pela cultura. O trabalho destes profissionais é especialmente importante numa sociedade em que os interesses económicos e políticos — para o bem e para o mal — são o foco das grandes decisões e conversas públicas, numa sociedade onde a cultura é uma das áreas com menos investimento, e em que permanentemente se desvaloriza o trabalho intelectual.
Estou solidária com a luta dos jornalistas, que nunca deixaram de estar também eles — apesar da vida profissional difícil que têm — solidários e preocupados com a cultura.
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