Os socialistas sabiam que o vento eleitoral estava a puxar para a direita. Mas tinham esperança de continuar a liderar Valência e a Comunidade Valenciana e apostavam em resultado vitorioso em Barcelona e Sevilha. Seguraram em Barcelona um resultado que ainda lhes permite, através de negociações, poderem vir a liderar o município onde o partido mais votado foi, com 17 mil votos de avanço, o do nacionalismo catalão à direita, que tem o rosto principal, Puigdemont, no exílio. Mas os socialistas fracassaram em todos os outos objetivos.
O PP arrebatou ao PSOE o primeiro lugar em Aragão, Baleares, Cantábria, la Rioja, Extremadura e na Comunidade Valenciana. Há um pormenor: o PP ganha, mas para governar depende, em quase todas essas comunidades do apoio da extrema-direita Vox.
o PP ganha, mas para governar depende, em quase todas essas comunidades do apoio da extrema-direita Vox
Está aqui a chave para o surpreendente golpe político de Pedro Sánchez ao antecipar as eleições de 3 de dezembro para 23 de julho: coloca o confronto eleitoral PSOE/PP num campo de batalha política em que pretende explorar a mobilização da esquerda perante o temor de um cenário à italiana, com o PP aliado com a ultradireita.
Nas municipais e autonómicas deste último domingo, a esquerda foi varrida da liderança dos diferentes lugares, mas em quase todos – exceto em Madrid, onde a PP Ayuso arrazou – o PSOE perdeu por escassa diferença. Tanto que no somatório de votos, a diferença percentual é de 3,4 pontos percentuais.
O PSOE teve falta de comparência de à volta de 700 mil eleitores habituais. Sánchez quer abaná-los com o medo da direita ultra e mobilizá-los para o voto mesmo em época de férias.
Sánchez, ao surpreender todos com o anúncio de eleições antecipadas, nem sequer deixa que se alimentem discussões sobre os culpados da derrota do PSOE. Trata de mobilizar as esquerdas, não só a socialista, mas também a mais à esquerda, designadamente a do muito enfraquecido Podemos e a da novidade Sumar, para o confronto com as direitas num momento complexo, porque o triunfante PP de Alberto Feijóo vai ter de estar a negociar com os ultras do Vox a formação de maiorias para a governação local e regional.
Sánchez aposta numa realidade determinante: os votos obtidos pelo PP neste domingo dão-lhe vitória, mas muito longe da maioria absoluta. Mais, mesmo em aliança com o Vox, os dois partidos, com os votos deste domingo, não chegariam à maioria absoluta.
Uma simulação que já está a ser feita dá, a partir dos resultados deste domingo, a soma PP mais Vox dá 158 deputados, portanto a 18 dos 176 da maioria absoluta
Uma simulação que já está a ser feita dá, a partir dos resultados deste domingo, a soma PP mais Vox dá 158 deputados, portanto a 18 dos 176 da maioria absoluta. Juntam-se a esta aritmética os lugares alcançados pelos mais de 10 pequenos partidos. Mas a maioria dos pequenos partidos alinha à esquerda.
O PP, depois do triunfo deste domingo (mais em lugares do que em votos) deveria estar a celebrar para se preparar depois para daqui a seis meses conquistar o governo de Espanha. Afinal, com o golpe político de Sánchez, ao antecipar as eleições gerais, o ganhador Alberto Feijóo fica com a euforia travada por um imprevisto calendário que tem dentro negociações complexas com a direita mais à direita.
Se os resultados de ontem fossem diretamente transportados para eleições gerais, a Espanha ficaria com uma muito difícil formação de maioria para governar.
Sánchez consegue que hoje já não se fale da derrota de ontem, mas do que está pela frente. Deve vir aí uma campanha escaldante,
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