Além de ser certo e sobejamente sabido o que acabei de escrever, é ainda garantidamente seguro afirmar que os mais prudentes dirão aos mais incautos que diabolizar o populista é jogar gasolina no inferno e, portanto, pior que o inútil e vazio chorar sobre leite derramado. E como incauto que sou, não por propositada inocência, mas mais por paixão pleonasticamente impulsiva, é realmente possível que não o possa negar e tenha aqui que dar a mão à palmatória.

Mas por outro lado, se não podemos – ou devemos – chamar diabo ao diabo, os bois pelos nomes, o seu a seu dono, cada um como cada qual, então que podemos nós fazer? Amaciamos palavras, forramos as frases a veludo e o pensamento a porcelana? Calma, nem tanto ao mar nem tanto à terra, até porque há mais marés que marinheiros e se calhar sou eu que estou a fazer uma tempestade num copo de água.

A verdade, daquelas verdades claras como a água mole que fura a dura pedra depois de tanto bater, é que mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo, e o diabo, não querendo diabolizar mas já diabolizando, vai-se a ver e tem uma tese de doutoramento onde expressa convictamente uma bonita e extensa preocupação com a discriminação das minorias. A mentira tem perna curta, mais curta do que um coxo, lá está, e não pode alguém estar realmente surpreso com o diabo, perdoem-me, o populista, o que dá o dito por não dito, o que ludibria o eleitor para ser eleito, mas que também faz a cama onde se deita.

Não quero com tudo isto ser mais papista que o papa, ser “constatador” do óbvio, ou chover no molhado, e nem sequer ser o arauto do “eu não te avisei?”. Venho aqui mesmo só para apontar o dedo, para que nos possamos rir a bom rir, a bandeiras despregadas, do rei que vai nu. Já ia, mas agora vai ainda mais, e só não vê quem não quer.

Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:

- Um Dia de Chuva em Nova Iorque: novo filme do Woody Allen. Nada de genial, mas é bonito e é um bocado bem passado.