Espero que o isolamento esteja a correr bem, é sinal que fazem parte dos sortudos e não dos que têm de estar nos hospitais ou nas caixas de supermercado. Para todos aqueles que se vêem fechados em casa nestes dias, deixo algumas sugestões de coisas para fazer e se entreterem para ajudar a passar o tempo e a tornar esta quarentena produtiva.

Exercício: é importante mantermos os níveis de exercício, mas tentar fazê-lo o mais possível em casa, para evitar saídas à rua por longos períodos de tempo. De realçar que se são daquelas pessoas que pagavam ginásio há dois anos sem meter lá os pés, não escolham esta altura para saírem à rua a fingir que são atletas de alta competição. Se já eram gordos, deixem-se estar que este ano não há praia para ninguém. Em casa, há vários exercícios:

- Braços: limpar o pó;
- Pernas: subir e descer a uma cadeira para finalmente mudar aquelas lâmpadas fundidas há 6 meses;
- Costas: aspirar e varrer a casa;
- Peito: procurar o comando debaixo do sofá.

Para exercícios localizados, usar sacos de plástico como pesos, metendo lá dentro as quinhentas latas de atum e salsichas que decidiram comprar para que não sobrasse para os outros.

Ler um livro: primeiro, o que é um livro? perguntam alguns de vós. Pois bem, um livro é uma espécie tablet, mas com muitos ecrãs fininhos agarrados uns aos outros, cada um com uma imagem estática e que quando lidos por ordem formam uma história. Devem ter vários aí por casa a enfeitar as estantes e é uma excelente oportunidade para finalmente lermos aqueles livros todos que dizíamos não ter tempo para ler. É desta que conseguimos acabar um livro do Saramago, mas evitem o Ensaio sobre a Cegueira nesta altura.

Entretenimento: a plataforma de vídeos marotos PornHub disponibilizou o seu conteúdo premium de forma gratuita para todo o mundo. Por isso, quando quiserem masturbação, já têm alternativa aos poemas recitados pelo Rodrigo Guedes de Carvalho no Jornal da Noite. Nota Importante: confirmem sempre que desligaram a videochamada com os vossos amigos ou familiares antes de tocarem um solo e usem toalha no fim em vez de papel higiénico porque já se sabe que está difícil de arranjar.

Comida: Há quem faça bolos agora na quarentena, porque estamos fechados, mas não estamos em Auschwitz e não é preciso emagrecer. Já que provavelmente não teremos verão nem praias para desfilar o nosso corpo trabalhado, toca a fazer bolos para passar o tempo, mas sem açúcar que a COVID-19 ataca mais quem tem diabetes.

Organizar fotografias: organizar finalmente as pastas com fotografias tiradas com o telemóvel durante as férias. Além da organização e da optimização de espaço, porque vamos poder apagar 300 fotografias repetidas em que apenas difere ligeiramente o angulo da cabeça, podemos recuperar fotografias da praia para ir colocando nas redes sociais. Isto é especialmente útil para as influencers que já estão a terminar o stock de fotografias do verão de 2019 e vão ter de começar a publicar as de 2018.

Limpeza: limpar a lista de amigos do Facebook e os grupos de Whatsapp que já deviam ter sido extintos há muito. Sempre que virem alguém a dizer “Coloquei os dados no Excel e estas são as minhas previsões de infectados nos próximos dias” apaguem da vossa lista de contactos. Fazer o mesmo para quem partilha documentos PDF como se fossem documentos com medidas oficiais do Governo. Não, a vossa amiga Kátia não tem um canal de comunicação directo com o Primeiro-Ministro. Aproveitar para desamigar também quem partilhar artigos de curas milagrosas e de medicinas alternativas que tratam a COVID-19. Antes de desamigar, chamem-lhes burros. Por falar nisso, façam um grupo com todos os vossos amigos e conhecidos que não acreditam em vacinas e dêem o nome ao grupo de “Os Burros”. Não digam nada no grupo e deixem-nos perceber sozinhos o que têm em comum.

E é isto. São só ideias simples para estarmos entretidos e mantermos a nossa sanidade mental nestas semanas e meses que se adivinham de isolamento e distanciamento. Um abraço sem encostar, não por causa da COVID, mas porque não quero cá confianças com vocês.

Para ouvir: Estas duas conversas com médicos epidemiologistas sobre a pandemia.
Para ver: O filme "Plataforma"