Cai neve em Madrid, não faz sol no meu país

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

Se desenhássemos neste momento um mapa da Península Ibérica, dificilmente as fronteiras de Portugal e Espanha seriam preenchidas pela mesma cor. De Elvas à neve hà vista.

O país vizinho foi apanhado pela tempestade Filomena que não só trouxe frio como o maior nevão que Espanha enfrenta em 50 anos. Madrid está a ser a zona mais afetada, com viagens de comboio suspensas e o aeroporto encerrado, mas a neve paralisou praticamente todo o país, com cinco regiões a serem colocadas em alerta vermelho. Já morreram, pelo menos, quatro pessoas.

O Governo pediu este sábado aos cidadãos para que fiquem em casa e evitem deslocações, referindo que já foram mobilizadas 1.305 equipas de limpa-neves no país. Foram já gastos no espaço de dois dias 220 mil toneladas de produto para derreter neve, 30% do usado em todo o ano de 2020. Segundo dados do Governo, as forças da Proteção Civil já resgataram ocupantes de cerca de 1.300 veículos na Comunidade de Madrid. As escolas madrilenas vão manter-se encerradas na segunda e na terça-feira.

Seria mentira no entanto dizer que o lápis branco ou corretor, ou qualquer artimanha utilizada pelo leitor quando era mais novo para fazer sobressair a cor branca num desenho, não pintaria também parte de Portugal com a zona da Serra da Estrela e Alentejo a acordarem este sábado cobertas de neve.

Por cá, felizmente, os flocos são mais um postal do que uma preocupação - e uma boa razão para olhar pela janela numa altura em que as ruas vazias, não (só) pelo frio, que por cá também faz alguns estragos, mas pelas restrições impostas pelo Governo devido aos dados mais recentes da pandemia.

Não faz sol em Portugal, nem no sentido meteorológico do termo, nem no sentido metafórico. Hoje, foi o segundo pior dia da pandemia num país que contabilizou, novamente, mais de 10 mil novos casos e mais de 100 óbitos devido à covid-19. Um novo confinamento idêntico ao de março, abril e maio está ao virar da esquina e o Governo promete anunciar as medidas o mais depressa possível.

Por estes dias um postal a baixas temperaturas sabe bem, quase tão bem como saberia um boletim com números tão baixos quanto o termómetro.

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